Resumo

Preâmbulo

Lista de Figuras

Lista de Siglas

Introdução

Primeira Parte: A fronteira
e a Comunicação

1 Caracterização
do Objeto de Pesquisa

1.1 Identidades
e Espaços de Fronteira

1.2 Cultura, ideologia
e meios de comunicação


2 Contextos de Inserção
do Objeto da Pesquisa

2.1 Fronteiras Vivas
2.2 Pólos de Integração
2.3 Caracterização Geral
2.4 Jornalismo e Mídia
Impressa


3 Abordagem Metodológica
3.1 Táticas de
Aproximação do Objeto

3.2 Passos Concretos

4 Vozes sobre as Relações
na Fronteira

4.1 Uruguaiana-Libres
4.2 Santana do
Livramento-Rivera

4.3 Comparando os
Dois Espaços


5 Caracterização dos Jornais
5.1 Jornais de Uruguaiana-
Libres

5.2 Jornais de Livramento-
Rivera


Segunda Parte: A fronteira
na mídia local impressa


6 Análise dos Textos
Selecionados

6.1 A Fronteira
6.1.1 Preliminar: diferentes
usos da expressão fronteira

6.1.2 Fronteira como
amálgama cultural

6.1.3 Fronteira como
transcendência do local

6.2 O fronteiriço
6.2.1 Nós, ou brasileiros ou
argentinos ou uruguaios

6.2.2 Nós todos
6.2.3 Nós, da região
fronteiriça ampliada

6.2.4 Nós, semelhantes
implícitos


Conclusões

Anexos

Referências




Preâmbulo


As indagações que originaram este estudo têm suas raízes em recordações da infância e em marcas pessoais da autora, de sobrenome Vargas de Lima, antes de adotar o Müller, com o casamento. É no território da memória que está fundado o interesse pela formação do povo gaúcho, as influências culturais que recebeu e as trocas que estabeleceu desde longa data.

Ainda quando menina, lembro-me de ouvir meu avô paterno, o típico gaúcho franzino, de "bombacha" e "chinela de couro" - enrolando um "palheiro" e degustando um chimarrão, sempre com um "guaipeca" sentado ao seu lado - a contar "causos" e "feitos" dos Maragatos contra os Chimangos no interior do Rio Grande do Sul. Ele, que muitos dos seus anos viveu na campanha - lá "na Santa Maria da Boca do Monte", como dizia - influenciou o imaginário dos netos e das netas. A memória da infância também traz a voz de minha avó materna, filha de alemães e casada com um soldado brasileiro, descendente de índios e espanhóis, falando sobre como as culturas se mesclavam no interior do Estado, constituindo novas famílias, misturando hábitos e costumes, enquanto fazia "chimíer" e tomava chimarrão.

Estas marcas carreguei anos sem saber bem o que era real e o que era fruto de minha imaginação. Ao morar no interior do Estado por algum tempo, percebi que muitas das estórias que ouvira narravam parte da formação histórica do Rio Grande do Sul.

Ao iniciar a graduação na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (FABICO), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no curso de Comunicação, minha curiosidade sobre as nossas origens ampliou-se, transformando-se em uma tentativa de entender como se processou a sua construção. Uma das primeiras leituras sugeridas no terceiro grau foi Las venas abiertas de América Latina, de Eduardo Galeano (1979), texto que me marcou muito, aguçando o desejo de desvendar os mistérios das interações deste povo.

No começo dos anos 90, iniciou-se uma série de investidas do Governo do Estado no sentido de discutir as relações entre o Rio Grande do Sul e os países do Sul da América Latina em especial a Argentina e o Uruguai. Como ponto de partida do projeto, realizou-se em Porto Alegre, em junho de 1990, o "Seminário Comunicação Anos 90 - A Integração do Cone Sul", promovido pela Secretaria Especial de Comunicação Social. Tais iniciativas eram atrativas para quem - como eu - estava curiosa e interessada em refletir sobre a construção e o relacionamento destes povos.

Mais adiante, motivado pela professora Martha D'Azevedo, um grupo de comunicadores deu início a uma nova proposta, criando o Comitê Comunicação Sem Fronteiras, entidade vinculada, primeiramente, à Fundação Padre Landel de Moura e, depois, à Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Esta foi a célula originária do Instituto de Comunicação, Cultura, Educação e Formação Política Alberto André, uma organização não-governamental, vinculada à ARI. Através destas instituições alguns projetos foram desenvolvidos, com o objetivo de aproximar interesses e preocupações de jornalistas e comunicadores, envolvidos com as trocas de informação no continente latino-americano, em especial no Extremo Sul, estimulando os intercâmbios. O gosto pelo tema e o envolvimento com a causa foi se intensificando.

Este caminho levou-me a tentar interligar as questões relativas à formação cultural do povo gaúcho à Comunicação. Em meados dos anos 90, por ocasião do curso de Mestrado em Comunicação, realizei uma investida na região da Grande Porto Alegre. Utilizando a metodologia da Hermenêutica de Profundidade, proposta por John B. Thompson (1995), busquei interpretar os textos publicados por veículos de comunicação dirigida de entidades de classe, ligadas ao setor coureiro-calçadista gaúcho, principalmente as do Vale do Rio dos Sinos. Tal iniciativa fez com que fosse necessário resgatar questões históricas sobre a colonização da região, cujo predomínio é de alemães.

Sempre preocupada em relacionar a comunicação com as questões sócio-históricas do nosso povo gaúcho, voltei-me desta vez para a fronteira, considerando que, ali, poderia compreender um pouco mais sobre as trocas entre as nações presentes naquele espaço, vislumbrando a possibilidade de entender melhor a viabilidade de uma comunicação "sem fronteiras". A idéia inicial era de, através de um estudo científico, conhecer mais de perto a formação cultural desta região e verificar como se dá a ligação do gaúcho com seus "irmãos-hermanos", termo que me pareceu adequado por sintetizar a forte ligação existente entre os povos que habitam os espaços do Extremo Sul do Brasil com os países vizinhos de colonização espanhola" da região do Prata, através das práticas sociais e dos processos comunicacionais no espaço fronteiriço.

Sendo assim, iniciou-se uma nova jornada na busca de dados sobre o contexto, as práticas sociais e a participação da mídia impressa local nas linhas de contato dos territórios de cá e de lá. Além disso, estudou-se as relações estabelecidas entre o "eu" e o "outro", ou seja, a configuração do espaço fronteiriço, a interação desse povo e a efetiva ação dos jornais locais neste cenário.

* * *

Esta investida foi possível graças ao estímulo de meu companheiro Eduardo e da compreensão de minhas "gurias" - Juliana, Melina e Helena - que entenderam minhas ausências, com os deslocamentos para a fronteira e as muitas horas em frente ao computador, para tentar colocar em texto o que via e vivia. Meus pais, ouvintes curiosos e atentos aos relatos que fazia sobre as idas e vindas aos espaços fronteiriços, contribuíram - mal imaginam eles - com os exercícios de reflexão sobre as andanças recém-feitas.

Foi de fundamental importância o apoio de meus colegas da FABICO que votaram de modo favorável ao meu afastamento das atribuições na UFRGS, possibilitando meu trabalho de campo. Com seu carinho, colegas e amigas, como Ana Cláudia Gruszynski, Márcia Benetti Machado, Nilda Jacks, Vera Gerzson e Virgínia Fonseca, auxiliaram-me nesta caminhada. Suas conversas e conselhos serviram como uma "poção mágica" capaz de facilitar essa empreitada, que parece - mas não é - solitária.

Por sua vez, José Luiz Braga e Fausto Neto, assim como Ione Bentz, dedicados professores, membros da Comissão Coordenadora do Doutorado em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), tiveram papel fundamental estimulando meus estudos.

Não poderia deixar de registrar o apoio recebido de Maria (Tinna), Luiz Alberto Caputo e de seus amigos, que me acolheram em Livramento, possibilitando o ingresso no ambiente familiar dos "doble chapa"; de Fábio Puget e Jairo, auxiliar importante nas caminhadas por Uruguaiana e Paso de Los Libres; de Antônio Carlos Valente, acompanhante solidário em muitas das visitas em Livramento e Rivera; e dos diretores e de toda a equipe d'O Jornal de Uruguaiana e d'A Platéia, que abriram as portas de suas empresas e me permitiram acompanhar o trabalho de produção dos jornais. Gostaria de registrar, ainda, as contribuições de César Guazzelli e de Maria Helena Martins, por seus estudos dedicados à valorização da cultura gaúcha, em especial a fronteiriça; de Martha D'Azevedo, por tudo e pela constante presença; e de Maria Alice Bragança, que com sua voz mansa e suas observações assertivas me trouxe tranqüilidade no preparo final dos textos; por fim, à CAPES, por custear parte de minha investigação.

Se vale dedicar este esforço, o faço ao povo fronteiriço.

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