Resumo

Preâmbulo

Lista de Figuras

Lista de Siglas

Introdução

Primeira Parte: A fronteira
e a Comunicação

1 Caracterização
do Objeto de Pesquisa

1.1 Identidades
e Espaços de Fronteira

1.2 Cultura, ideologia
e meios de comunicação


2 Contextos de Inserção
do Objeto da Pesquisa

2.1 Fronteiras Vivas
2.2 Pólos de Integração
2.3 Caracterização Geral
2.4 Jornalismo e Mídia
Impressa


3 Abordagem Metodológica
3.1 Táticas de
Aproximação do Objeto

3.2 Passos Concretos

4 Vozes sobre as Relações
na Fronteira

4.1 Uruguaiana-Libres
4.2 Santana do
Livramento-Rivera

4.3 Comparando os
Dois Espaços


5 Caracterização dos Jornais
5.1 Jornais de Uruguaiana-
Libres

5.2 Jornais de Livramento-
Rivera


Segunda Parte: A fronteira
na mídia local impressa


6 Análise dos Textos
Selecionados

6.1 A Fronteira
6.1.1 Preliminar: diferentes
usos da expressão fronteira

6.1.2 Fronteira como
amálgama cultural

6.1.3 Fronteira como
transcendência do local

6.2 O fronteiriço
6.2.1 Nós, ou brasileiros ou
argentinos ou uruguaios

6.2.2 Nós todos
6.2.3 Nós, da região
fronteiriça ampliada

6.2.4 Nós, semelhantes
implícitos


Conclusões

Anexos

Referências




6 Análise dos textos selecionados


O material selecionado para compor o quadro de análise da pesquisa cujo foco é a comunicação fronteiriça, gira em torno de dois grandes eixos: a fronteira e o fronteiriço. O primeiro deles está vinculado aos usos, aos empregos da expressão em si. Já o segundo diz respeito às relações estabelecidas entre os povos que habitam o espaço de divisa entre países limítrofes, criando diferentes articulações em torno da configuração do "ser fronteiriço".

Circulando o primeiro centro definido como linha de análise, está uma categoria preliminar a qual pertencem as diferentes formas de uso do termo fronteira, entre elas "fronteira da paz", "fronteira aberta", "fronteira oeste". Em um segundo grupo está a fronteira vista como um espaço onde são permitidas manifestações de culturas distintas, como a brasileira, a argentina, a uruguaia, a árabe-palestina e a gauchesca. Em um último grupo, encontram-se as aberturas que o espaço de fronteira propicia para o desenrolar de acontecimentos que transcendem a esfera local, transformando eventos cotidianos em regionais, estaduais, nacionais e, principalmente, internacionais.

A composição do segundo eixo é ainda mais diversificada, mas busca perceber as variações que podem ser definidas pela auto-imagem "nós, os fronteiriços", conforme aparecem trabalhadas pelos jornais. Dentro deste segmento de análise, identificamos tipos diferentes de dizer e referir-se ao "nós": fronteiriço. O primeiro deles, onde o fronteiriço é ou brasileiros ou uruguaios ou argentinos. Neste caso há uma subdivisão entre a idéia de composição, onde fica clara a presença de dois elementos, os daqui e os de lá; e a idéia de só os daqui, ou seja, os daqui mas sem excluí-los. No segundo item deste eixo o que predomina é posição de somatório. Dele fazem parte outras duas subcategorias: a primeira onde estão presentes os de cá mais os de lá; ou todos sendo caracterizados como marginalizados. A terceira categoria é destinada a avaliar os textos onde o fronteiriço é considerado o habitante da extensa região fronteiriça. A quarta e última categoria dentro deste segundo eixo apresenta os fronteiriços como sendo eles de quem falamos, com quem, mesmo sem serem mencionados, temos afinidades.

Torna-se importante destacar que, nesta classificação, o termo fronteira, e suas variações, perpassa as demais categorias, isto é, se faz presente nos textos dos jornais onde as demais classificações são predominantes. Sendo assim, este item passou a ser designado como uma categoria preliminar.

Nestas duas macro vertentes, estabelecidas após vários exercícios de leitura, foram verificados movimentos de tensão, de fraternidade, de irmandade, de conflito, entre outros, todos girando em torno do ponto central que vem a ser a condição territorial de fronteira entre dois países e seus habitantes. Tais movimentos estão estampados nas páginas da imprensa local, através de representações trazidas nos textos dos jornais de Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera. Mas mais do que isto. Nos processos e lógicas da interação (como jogo estratégico entre igualdade/diferença, integração/tensão) os jornais participam do processo na medida em que uma grande parte dos lances são realizados pelo e/ou no jornal local. O planejamento, a execução dos movimentos e os modos de operar acionados para definir as relações e empregar as denominações ligadas à situação fronteira, são variadas e podem ser melhor compreendidas a partir das referências teóricas e da sistemática metodológica já apresentadas, que passam a ser articuladas nas análises.

O contexto espacial e temporal definido e já colocado no decorrer do trabalho, bem como as falas dos fronteiriços sobre sua realidade, consistiram em subsídios fundamentais para que a análise dos textos produzidos pela mídia local trouxesse resultados satisfatórios.

O quadro que se construiu pode ser visto a seguir:

Fig.2 Eixos temáticos de análise dos textos dos jornais locais

A configuração do quadro de análise nestes dois grandes eixos e nas respectivas categorias e subcategorias decorreu das próprias matérias selecionadas para análise, não se tratando, então, de categorias apriorísticas. No esforço de interpretar os dados e organizá-los em função da questão central, bem como no conjunto de matérias, foi-se construindo um conjunto de percepções que a população e os jornais têm de si próprios, enquanto habitantes de fronteira., dando origem às categorias sistematizadas.



Na seqüência, serão apresentados os jornais em blocos, respeitando os dois espaços fronteiriços, buscando-se colocar lado a lado os periódicos que circulam no mesmo ambiente. Desta forma, para cada ponto destacado, será possível verificar o tratamento dado ao fenômeno focado no jornal de um e do outro lado da linha divisória. Após, será processada uma análise comparativa entre os dois blocos de textos: o primeiro composto pelos jornais de Uruguaiana-Libres e o segundo pelos periódicos de Livramento-Rivera.

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6.1 A FRONTEIRA

O primeiro eixo temático é nomeado como a fronteira, e está subdividido em três categorias. A primeira delas, considerada uma categoria preliminar, reúne os "Diferentes usos e empregos da expressão", classificada em outras três subcategorias: a fronteira adjetivando, dando qualidades a substantivos das mais variadas ordens; a fronteira adjetivada, momento em que esta recebe uma qualidade, um diferencial; a fronteira substantivada, isto é, quando ela passa a se constituir em uma denominação para um evento ou uma organização.

A segunda categoria dentro deste eixo a fronteira passou a ser designada como amálgama cultural. Enquadram-se ali as possibilidades que o espaço abre a manifestações de diferentes culturas. Ainda incluída neste eixo, encontra-se a categoria "Transcendências do local", quando são visíveis nos textos jornalísticos questões e acontecimentos com um cunho predominantemente local. Esses ultrapassam aquele espaço, apresentando-se como de abrangência regional, estadual, nacional e internacional, atribuindo ao evento um status de maior grandeza.

6.1.1 Preliminar: diferentes usos da expressão fronteira

Neste grupo de textos, encontramos diversos empregos da expressão fronteira e suas variações (fronteiriço, fronteiriços, fronteiriça ou fronteiriças), vinculados a agremiações, eventos, instituições, manifestações etc. Foram observados três usos diferenciados para o termo nos textos dos periódicos locais, ou seja, a fronteira adjetivada, adjetivando ou substantivada.

A criação desta categoria preliminar ocorreu após verificarmos que, com muita freqüência, a expressão é utilizada para reforçar a condição geográfica, diferenciando-a perante outras regiões. A fronteira transforma-se em um substantivo próprio que serve para designar um acontecimento esportivo ou cultural, uma associação gauchesca, uma instituição local etc. Em outras ocasiões a expressão surge acoplada a substantivos, dando qualidade ou atribuindo um estado a algo, tornando-o mais específico. Por outro lado, vê-se também o termo fronteira vinculado a outra expressão, que lhe dá algum predicativo. Neste caso, o que é intensificado é a localização do espaço em relação Estado do Rio Grande do Sul, isto é, na região Oeste, ou ainda dando ênfase ao fato de que faz parte de uma área onde o território de três países se encontra, ou ainda reforçando o fato de ela ser um marco de ligação pacífica entre Estados nacionais distintos.

Vejamos como isto ocorre, primeiramente, examinando O Jornal de Uruguaiana e El Interior, e, após, em A Platéia e Norte.

a) O Jornal de Uruguaiana

- Adjetivando (da fronteira ou fronteiriça(as/o/os): região, arrozeiros, ciudades, paso, messoregião, produtores, pivot central, região da campanha.

- Adjetivada (fronteira): oeste.

- Substantivada: Lions Club Três Fronteiras, 3 Fronteiras Open de Tênis, Piquete Fronteira da Tradição, Piquete Sentinela da Fronteira, Campeonato Fronteirão de Futebol.

b) El Interior

- Adjetivada (fronteira): triple.

Embora os exemplares selecionados para análise de O Jornal de Uruguaiana sejam em maior número do que os de El Interior, verificou-se que há um uso mais freqüente e diversificado da expressão fronteira e suas variantes no jornal do lado brasileiro do que no do lado argentino. Do mesmo modo, no primeiro periódico, a forma como é usada a expressão fronteira ocorre nas três subcategorias, o que já não acontece no jornal El Interior. Pôde-se perceber que a questão fronteiriça perpassa tanto os sujeitos como os eventos locais e revigora a condição diferenciada do espaço, no caso do jornal uruguaianense. O que parece estar sendo processado é colocação em prática de uma estratégia de naturalizar o fenômeno fronteira, através da aplicação deste na denominação de situações ou mesmo qualificando outras questões. Cabe destacar, ainda, que, no jornal do lado brasileiro, são empregadas palavras em espanhol quando fronteira está dando qualidade a algo.

c) A Platéia

- Adjetivando (da fronteira ou fronteiriça(as/o/os): coração, rua, carnaval, cidades, mujer, povo, comunidade, movimento, animação, clube(s), autoridades, segurança pública, esporte, garoto, integração energética, mayor control, pilotos, ciclistas, potencial turístico, gaúchos, prototipo del, radiofonia, región, departamentos, telefonia, arquétipo turístico (obelisco), futebol veterano, nuestra región, comércio.

- Adjetivada (fronteira): nossa, da paz, oeste.

- Substantivada: Clube de Orientação da Fronteira, Encontro de Mulheres da Fronteira, Carnafronteira 2000, Copa Fronteira da Paz de Xadrez, I Fronteirão de Futsal 2000, Exposição de Mulheres da Fronteira, Projeto Cultural Catálogo Artístico da Fronteira, Os Artistas da Fronteira da Paz, CTG Fronteira Aberta, Torneio Fronteiriço Zona Norte, Grupo de Dança Raízes da Fronteira, Frontera Rivera (clube de futebol), V Campeonato de Halterofilismo da Fronteira, Vozes da Fronteira (CD).

d) Norte

- Adjetivando (da fronteira ou fronteiriça(as/o/os): historia, campión, trabajo comunitario, comunidad.

- Adjetivada (fronteira): da Paz, de automobilismo, nuestra.

- Substantivada: Club Frontera Rivera, Club Frontera Rivera Chico, Cuarta División de Frontera.

No caso dos jornais que compõem o segundo bloco, verifica-se que as três modalidades do uso de fronteira estão presentes nos dois periódicos. O fenômeno que caracteriza uma divisa é utilizado para designar entidades e eventos de modo a fazer parte de sua nomeação. Do lado santanense, isto é bastante forte no Campo Cultural e Esportivo, e do lado riverense mais no Campo do Esporte. Quanto ao emprego de fronteira para qualificar, nos dois jornais, de um e de outro lado, ele ocorre acoplado a substantivos que designam seres, entidades, espaços físicos, eventos, coisas. Percebe-se, novamente, que no caso do jornal do lado brasileiro a expressão fronteira está vinculada a termos da língua espanhola. Um dos aspectos que chama a atenção na fala do fronteiriço, - e que agora surge nas páginas dos jornais -, é a qualificação dada à fronteira como "da Paz". Vê-se que aqui há uma preocupação em ressaltar que existe o reconhecimento do espaço como lugar de divisa, mas que a convivência é pacífica e que este espaço tem dono, é deles: "nossa/nuestra". Ao dizerem isto, sublinham que a relação caracteriza-se por ser amigável e foi construída - a duras penas - pela comunidade local como possível e necessária, para a sobrevivência do povo fronteiriço. Eles sabem o quanto lhes custou para que chegassem a este nível, aceitando e compreendendo as diferenças e peculiaridades típicas das comunidades que habitam o outro lado da linha de divisa entre os dois países.

Considerações sobre a categoria analisada

Nesta categoria, a fronteira aparece no seu nível "mais básico". Trata-se sobretudo do reconhecimento das evidências de lugar e status. A expressão fronteira (e correlatos) é simplesmente "aceita" como caracterizador principal. A palavra é acrescentada como qualificador de uma variedade de fatos, situações, manifestações para lhes dar especificidade; ou se qualifica pela adjunção de outras expressões para que estas matizem, complementem ou sobredeterminem aquilo que caracteriza basicamente a região e seus moradores. Ou simplesmente é substantivada como reconhecimento da substancialidade da situação.

Conforme pode ser visualizado no Quadro 2, no jornal A Platéia há um uso mais recorrente da expressão fronteira e, na maioria das ocorrências, para qualificar algo (29 vezes). Nota-se que este artifício não foi encontrado nos exemplares analisados de El Interior, mas é registrado n'O Jornal de Uruguaiana (08 vezes) e no riverense Norte (04 vezes). Por sua vez, a fronteira aparece qualificada mais vezes nos jornais das cidades da divisa entre Brasil-Uruguai (06 vezes). A expressão fronteira também ocorre com mais freqüência no jornal santanense para compor a denominação de um lugar determinado - ou ocupando o lugar do nome das próprias cidades -, transformando-se em um substantivo próprio (14 vezes). Neste quesito, o jornal de Uruguaiana vem em segundo lugar (05 vezes), seguido do periódico Norte (03 vezes), já em El Interior, de Libres, não ocorre este uso da expressão fronteira.

No geral, pode-se dizer que há um maior distanciamento entre a posição do jornal de Uruguaiana e o de Libres com relação ao emprego da expressão fronteira. Este movimento é realizado pelos jornais de Livramento-Rivera, sendo que A Platéia recorre bem mais a este mecanismo, ou seja, a fronteira é mencionada mais vezes por este periódico. A situação fronteiriça assume um lugar de relevância, perpassando outros Campos Sociais. Ela é assumida nos textos jornalísticos como um diferencial para a comunidade local e, por isso, seus usos se desdobram, atingindo várias frentes.

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6.1.2 Fronteira como amálgama cultural

Neste item, através dos textos retirados dos jornais fronteiriços, é possível constatar a mescla das culturas no espaço local. Percebe-se o terreno fértil em que se constitui a fronteira para que outras comunidades possam abrir caminho e mostrar suas características, de modo a que a comunidade local passe a conhecer seus hábitos e costumes, conquistando desta forma reconhecimento e respeito através do convívio. Tais práticas sociais, à medida que se tornam acontecimentos valorizados pelos fronteiriços, passam a se constituir em notícias.

a) O Jornal de Uruguaiana

Em O Jornal de Uruguaiana e El Interior, estas "misturas" foram também apresentadas através das páginas onde o intercâmbio entre eles se concretizou. Salientamos que os textos aqui analisados têm predominância de ocorrências neste item, mas outras questões também atravessam o discurso jornalístico, revelando outras categorias a serem examinadas posteriormente.

Cerca de 22 textos de O Jornal de Uruguaiana demonstram como está representada no veículo a relação entre as culturas presentes de modo predominante no espaço fronteiriço de Uruguaiana-Libres. A cultura gauchesca se mostra viva, assim como as marcas do povo vizinho, muitas delas registradas na língua. O destaque singular fica por conta das manifestações em defesa do povo árabe-palestino trazidas à comunidade fronteiriça por seus representantes locais.

Vejamos alguns exemplos:

Liga Uruguaianense de Futebol Veterano

Os jogos serão os seguintes: no campo do Boa Vista: Ajax/ Tio Agostinho X Vitorino; no campo do Ferro Carril, La Coruña X Renner (...) (O Jornal de Uruguaiana, 22/julho/2000 - Esporte, p. 16)1.

No trecho acima, são listados os times de futebol da Liga de Veteranos de Uruguaiana, nomes espanhóis, típicos de times argentinos como Ajax e La Coruña. A incorporação destes nomes, da mesma forma que no texto anterior, reproduz e reforça a inclusão de termos em espanhol no linguajar fronteiriço.

Escolinha Rui Ramos disputa mais amistosos

No último final de semana a escolhinha (sic) de Futebol Rui Ramos disputou mais uma série de amistosos com suas categorias onde enfrentou as equipes do Mancha Verde e Penharol, e mais uma vez obteve bons resultados. (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000 - Esporte, p. 19).

O mesmo procedimento ocorre no texto acima, em que para times de futebol da região, são usados nomes de clubes futebolísticos de países vizinhos como o Peñarol e o Boca Júniors. Note-se que, no exemplo citado, a grafia da primeira palavra está aportuguesada, pois, conforme as normas da língua espanhola, deveria estar escrito 'Peñarol'. Estas mesclas ocorrem com freqüência entre espaços de línguas distintas. A cultura local apropria-se de elementos pertencentes a outros grupos, passando a transformá-los e adaptá-los à comunidade, que os incorpora e reproduz com naturalidade.

Do mesmo modo, um time com a denominação de Boca Júniors participa de torneios locais como a 6ª Copa Chavantes de Futebol Sete, mencionada em duas matérias veiculadas em O Jornal em outros dois dias.

Um outro exemplo de textos em que encontramos uma hibridação do português com o espanhol pode ser visto abaixo.

Piquete Martín Fierro vence o XII Festival de Ovino e Vinho

No final de semana passada o Piquete Martín Fierro participou do XII Festival de Ovino e Vinho em Santana do Livramento. O piquete de Uruguaiana foi a maior delegação a comparecer ao evento (...). (O Jornal de Uruguaiana, 10/agosto/2000 - Tradicionalismo, p.9).

Marcelinho

Marcelo Perez está atingindo cada vez mais um excelente índice de audiência (...) Mas não é só isso. O segredo e a diferença estão exatamente na qualidade das músicas. São aquelas que o ouvinte está louco para ouvir e só consegue isso no programa Bolson Musical. (O Jornal de Uruguaiana, 22/julho/2000 - Geral, p. 9).

Não fosse o espaço um lugar diferenciado, fronteira entre dois países de línguas distintas, este tipo de nota não teria o menor destaque. Entretanto, o que ressalta-se aqui é o fato de o nome do programa musical mencionado no segundo texto, destinado àquele ouvinte que gosta de música de qualidade, ser em espanhol. Como se sabe, as ondas do rádio não respeitam as barreiras impostas através dos acordos firmados entre Estados Nacionais, para demarcar fronteiras territoriais. Os programas produzidos no espaço fronteiriço ultrapassam estas fronteiras e alcançam os aparelhos receptores de rádio, localizados em um espectro além das linhas divisórias. Brasileiros e argentinos podem captar as mensagens e a "boa música" das rádios de Uruguaiana. Sendo assim, nada mais interessante para captar o radiouvinte do que a escolha do nome de um programa capaz de cativá-lo. Nota-se que acionar esta estratégia não é privilégio dos meios de comunicação, que, neste caso, pode resultar no aumento dos índices de audiência. A mesma estratégia é empregada em outras esferas com o mesmo objetivo, angariar adeptos tanto do lado de cá como de lá. No outro texto, um dos piquetes de Uruguaiana recebe o nome de Martín Fierro, uma personagem literária importante, principalmente, para os argentinos e uruguaios, mas que, pelas trocas culturais, está identificada com a figura do gaúcho fronteiriço 2 de modo geral.

Seguindo a mesma lógica, denominações em espanhol também são empregadas para designar propriedades da região, como a apresentada em O Jornal, trazendo uma notícia sobre o setor agropecuário.

Cabanha Paineiras e Rincón Del Sarandy estão no ranking da Associação de Angus do Brasil

(...) 10ª Cabanha Rincón Del Sarandy (Uruguaiana). (O Jornal de Uruguaiana, 22/novembro/2000 - Agro, p. 12).
A mescla das línguas fronteiriças também é visível nas charges como a colocada a seguir, transcrita e reproduzida:
Focos de aftosa em gados brasileiros
És brazileira, és soro positivo de aftosa!
Arriba, arriba! Que vaquinha mais bonita! (O Jornal de Uruguaiana, 16/novembro/2000 - Charge, p. 2).

Figura 3 - Charge sobre a febre aftosa (O Jornal de Uruguaiana, 16/nov/2000, p. 2)

A charge apresenta dois touros pastando e conversando a respeito de uma vaca que pasta próximo a eles. A ilustração estampada nas páginas do jornal uruguaianense, em novembro de 2000, satiriza as informações divulgadas internacionalmente sobre o surgimento de focos de febre aftosa em gado fronteiriço gaúcho.

Na época, essa contaminação motivou muitos países a suspenderem a importação de carne proveniente do Rio Grande do Sul. O surgimento de focos de aftosa é uma das causas de atrito no espaço fronteiriço, pois é nesse espaço que fazendas são constituídas por terras brasileiras-argentinas, assim como também, em Livramento, esta composição se dá por terras brasileiras-uruguaias.

O gado que circula livremente nas pastagens destas fazendas pode contaminar outros rebanhos. Os casos de febre aftosa, sempre que surgem em terras fronteiriças, são motivo de tensão entre as comunidades locais, sendo essa estendida aos governos federais devido à dificuldade de saber onde ocorreu o primeiro foco. Esse problema pode ocasionar até incidentes diplomáticos.

Observa-se que o texto da charge "tenta" um espanhol (a palavra 'brasileira' está escrita com z), muitos dos termos estão escritos nesta língua, embora sua divulgação se dê em um veículo de escrita portuguesa. Este tipo de situação não causa estranheza no leitor, que não vê motivos para manifestar críticas com relação à postura do chargista, percebe-se que há uma conformidade em aceitar esta sátira, mesmo vinda de um "hispano-hablante".

ABC do Chimarrão é um clássico para a tradição

O livro ABC do Chimarrão: Doutrina do Bom Matear, escrito há 5 anos por Aníbal Cadore, filho de Três Vendas de São Miguel, ensina os segredos do chimarrão. (...) Aníbal confirma a existência de mais três livros, América Sul Mateadora, A Grande Virada do Sanchuri, América Sul Mateadora, em espanhol.

Equívocos Mateiros

Primeiro Equívoco

O consumidor brasileiro prefere a erva bem verde, que não seja fina e nem venha a entupir a bomba.

(...) Quarto Equívoco

A erva-mate dura pouco, lava com facilidade; isto ocorre com o uso de uma cuia que deveria ser para uma pessoa e é usada por três e até quatro pessoas (O Jornal de Uruguaiana, 22/novembro/2000 - Tradicionalismo, p. 07).

É bastante comum a divulgação deste tipo de informação, relacionada à cultura do chimarrão, em todo o estado gaúcho - região em que a bebida é tradicionalmente degustada. No entanto, são colocados alguns esclarecimentos como o fato de um dos livros também possuir uma edição em língua espanhola. Este detalhe é pertinente e providencial para o leitor que tem esta como sua língua principal, como os argentinos e uruguaios, que também cultivam o hábito de tomar chimarrão. O texto traz exemplos daquilo que o escritor considera erros no consumo da bebida, apontados como "Equívocos Mateiros". O destaque fica por conta de, em determinados casos, vários indivíduos passarem uma cuia pequena para beberem o líquido. O escritor ressalta que este seria um erro, pois para atender a cerca de quatro pessoas, a bebida deveria ser servida em um recipiente maior. Este tipo de observação para a região fronteiriça é pertinente, pois uruguaios e paraguaios, por exemplo, têm o hábito de utilizar uma cuia individual para tomar chimarrão. Sendo assim, indiretamente, o tradicionalista busca esclarecer a um desconhecedor do hábito de tomar chimarrão, sobre as questões básicas desta cultura, através de um "ABC do chimarrão".

A seguir, são transcritos dois textos de um dos representantes da comunidade árabe-palestina em Uruguaiana. Vejamos:

Temos ou não o direito de viver

Nos últimos dias estamos testemunhando os últimos acontecimentos no Oriente Médio, que estão sem dúvida chocando à (sic) todos nós.

Quase seis milhões de pessoas, gritando em uma só voz, pedindo sua liberdade e sua identidade. (...) hoje porque apenas pedem seus direitos de vida, de ter o seu nome, a sua bandeira, a sua identidade, num pequeno pedaço de sua terra, está sendo atacado pelo mundo inteiro, através das mais importantes formadoras de opinião mundial ('a mídia').

Chamamos eles de bandidos, assassinos, terroristas etc.

Até quando vamos ficar enxergando o mundo e olhando para os Palestinos com os olhos dos outros? (...)

Aqueles interesses que hoje levam este país à falência, através do F.M.I. são os mesmos que controlam a situação de paz ou guerra no Oriente Médio. (...)

Esta é a nossa luta, uma luta pelo mínimo de direito que um povo pode ter, o direito de ter a sua presença, com a sua bandeira num canto de sua terra em paz, controlar os seus próprios passos, corrigir os seus próprios erros, definir o seu próprio destino.

Temos ou não o direito de viver? (O Jornal de Uruguaiana, 14/outubro/2000 - Geral/ Omar Tomalih, p. 15).

O Caminho da Paz

Quando começamos à (sic) enxergar uma luz no fundo do túnel e damos aquele esperado suspiro de alívio. O radicalismo do governo Israelense toma conta e acaba com nosso sonho, dando volta aos velhos e tristes tempos de massacre e sofrimento que passamos, declaram guerra e começam à (sic) bombardear aquele esperado canto que tivemos.
(...) Será que somos nós os terroristas?
Será que nós é que queremos guerra? Será que a palavra guerra caberia nesta situação?
(...) Esta é a realidade que muitos não irão acreditar e outros irão até contestar, mas não deixa de ser a verdade. (O Jornal de Uruguaiana, 14/outubro/2000 - Geral/ Omar Tomalih, p. 15).

Nas matérias extraídas d'O Jornal, percebe-se a posição em defesa do povo palestino e contrária aos israelenses. No primeiro texto, a intenção é reivindicar uma liberdade identitária, um território próprio, o direito à vida.

O autor do texto usa como título a frase: "Temos ou não o direito de viver". Na medida que emprega o verbo na primeira pessoa do plural inclui-se no grupo que clama por justiça, no entanto, mais adiante, muda - a pessoa do verbo e de nacionalidade, excluindo-se - a posição e diz: "Chamamos eles de bandidos, assassinos, terroristas etc", e questiona: "Até quando vamos ficar enxergando o mundo e os Palestinos com os olhos dos outros?".

No trecho citado, ele retira-se do grupo ao qual defende e passa a incluir-se no dos que olham para os palestinos, ou seja aqueles que estão distantes geograficamente do conflito que é travado no Oriente Médio. Logo em seguida, confunde o leitor assumindo-se como um brasileiro, pois situa-se "neste país" embora passe a encabeçar "nossa luta", isto é, a luta dos palestinos em busca de seus direitos. E encerra o texto com a mesma frase que usou como título.

No segundo texto, escrito pelo mesmo autor, um colaborador d'O Jornal, o discurso vai no sentido de reclamar pela paz e volta a criticar a postura do governo israelense, destacando que o massacre dos palestinos pelos israelenses é histórico, vem de longa data. Coloca os palestinos no lugar de um povo sofredor. Com as perguntas que deixa no ar, aponta com negatividade para o povo de Israel que, com suas atitudes bélicas, é o verdadeiro terrorista do Oriente Médio e encerra o texto dizendo que esta é "a verdade".

Pode-se perceber que quem assina o texto, embora não coloque o papel que desempenha junto à comunidade árabe-palestina uruguaianense, circula da posição de alguém que analisa os acontecimentos de modo neutro, e longe do palco onde eles se desenrolam, ao de um dos membros do grupo que solicita um posicionamento justo com relação aos últimos atos ocorridos entre palestinos e israelenses na disputa por seus territórios, que são vizinhos.

Conforme os depoimentos coletados entre os uruguaianenses e apresentados em O Jornal, o povo fronteiriço vai recebendo informações sobre o povo palestino a partir de um de seus representantes, que reforça o discurso de que este povo é massacrado, injustiçado e quer a paz.

Ao divulgar este tipo de posicionamento, o veículo contribui para a construção de um imaginário a respeito de ambos os grupos em conflito no Oriente Médio, deixando em destaque quem é o grupo do "bem" e que é o grupo do "mal", como se a análise fosse simples e maniqueísta.

Assim como os textos de Omar Tomalih dizem respeito a questões envolvendo o povo árabe, o material a seguir, transcrito na íntegra de O Jornal, trata do mesmo tema, isto é, dos revezes por que passa aquele povo.

No texto a seguir, é feita uma recapitulação histórica destas agruras, lembrando, uma vez mais, o quanto os árabes-palestinos sofreram nas mãos de conquistadores. Note-se que este material foi divulgado no caderno que correspondia à Barra do Quaraí, localidade próxima à Uruguaiana (cidade brasileira ligada à uruguaia Bella Unión por uma ponte), por onde O Jornal também circulava.

Cultura Islâmica

No ano 200 AC terminou o domínio macedônico na Palestina, este domínio que foi exterminado pelos Seléucidas da Síria na época do rei Antioco Grande. Em 63 AC o domínio Selúcido foi arrebatado pelos Romanos comandados por Pompeu Magno. No ano 63 AC os Macabeos rebelaram e foram exterminadores (sic). No ano 40 AC, os judeus foram dispersados (sic).

A permanência romana em palestina durou até o ano 638 EC e em 639 EC comiçou (sic) o domínio islâmico sobre todo o território palestino e arredor.

Isto continuou até o ano 1099 EC quando nas cruzadas umas partes da palestina (sic) foram ocupadas pelos europeus, mas em 1187 EC a palestina (sic) foi libertada pelo General Muçulmano Saladino (Salahud-Din), depois deste a palestina (sic) foi dominada pelos mamelucos Seléucidas, logo pelos turcos Otomanos que governaram até o ano 1918 EC que o fim da segunda guerra mundial (sic).

Continue... (O Jornal de Uruguaiana, 18/novembro/2000 - Da Barra do Quaraí/ Sueltos da Barra, p. 10).

Vale destacar que o texto acima apresenta vários erros de concordância e substantivos próprios como Palestina, Cruzadas, Segunda Guerra Mundial aparecem com letra minúscula. Além do mais, o texto não é assinado, e, talvez, poderia ser contestado por um conhecedor de história antiga, já que não fica claro de onde surgiram tais informações, que, provavelmente, não são muito conhecidas do brasileiro comum.

Com proposta semelhante, o texto da comunidade árabe-palestina, reproduzido na próxima página e transcrito a seguir, marca uma data importante para aquele povo:

Figura 4 - Comemoração palestina (O Jornal de Uruguaiana, 22/nov/2000, Geral, p. 06).

Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino chega ao 53º aniversário

O presidente da Sociedade Beneficente Árabe Palestino Brasileira (Sobapab) de Uruguaiana, Samir Adel Salman, encaminhou ofício à redação d'O Jornal destacando a data de 29 de novembro, quando as Nações Unidas adotaram a resolução 181 que estabeleceu o direito à existência de um Estado Árabe (Palestino) com status de Cidade Internacional, a cidade de Jerusalém com promessas e determinações consignadas e assumidas junto ao Povo Palestino que culminava na garantia de uma pátria independente e soberana.

Samir Salaman lembra que são de conhecimento mundial, os confrontos desencadeados entre Judeus e Palestinos, que em pouco mais do que oito semanas já ceifaram a vida de 265 homens, mulheres e crianças Palestinas e 14 soldados Judeus.

(...)Passados mais de meio século, apenas o Estado de Israel se estabeleceu, ante a violência os Palestinos foram dispersos. 'Até hoje vivem em Israel, nos territórios ocupados, na Cisjordânia e na região de Gaza, e uma grande maioria nos países vizinhos ao Ex-Estado Palestino, que somados dão o maior contingente de exilados que o mundo já conheceu, aproximadamente 5 milhões de pessoas, vivendo na sua maioria em condições subumanas de atividades temporárias e longe de seu solo ancestral', ressalta. (...) 'estamos a comemorar o 53º aniversário desta data que marcou a penalização (sic) de toda uma nação.

O dia de solidariedade é a ocasião para mobilização da opinião mundial, da necessidade de se tomar atitudes sensatas e racionais no sentido de permitir aos Palestinos o regresso ao exercício de seus direitos nacionais e humanos inalienáveis e inarredáveis, capitulado na Declaração Universal dos Direitos Humanos (...) Mensagens de apoio e solidariedade são evocadas dos quatro cantos do mundo, numa voz uníssona, que profetizam a necessidade de equacionamento da injustiça que se está a praticar contra o Povo Palestino. (O Jornal de Uruguaiana, 22/novembro/2000 - Geral, p. 06).

Como vemos, dando prosseguimento à temática ligada à cultura e ao povo árabe-palestino, foi publicada nas páginas de O Jornal de Uruguaiana de 22 de novembro de 2000, uma reportagem que descreve o desfile realizado na cidade uruguaianense comemorativo ao 53º aniversário da decretação do Estado Palestino. Neste caso, o que se destaca é que o texto constitui-se em uma matéria feita pelos repórteres de O Jornal, não sendo uma manifestação particular de um leitor. Mesmo assim, uma vez mais, os palestinos são chamados a depor e se colocam na figura de um povo massacrado, punido, expulso de suas terras, exilado em lugares distantes. E através deste discurso, fica justificado, por exemplo, porque eles exercem "atividades temporárias", afinal, estão longe de sua terra natal, longe de seu povo, de seus ancestrais. A data é utilizada para pedir solidariedade à população mundial pela causa palestina, ocasião em que são solicitadas a todos "atitudes sensatas e racionais" para com à causa palestina.

Um detalhe que cabe ser ressaltado é a foto que acompanha a matéria: nela, à frente do grupo, um homem conduz um carrinho de bebê com uma criança sentada sobre a Bandeira do Brasil. A legenda diz: "Povo Palestino quer ser reconhecido na prática como Estado".

Verifica-se, nestes textos ligados à cultura palestina, que a repetição de idéias em prol do povo árabe-palestino vai tornando este o posicionamento correto, isto é, os palestinos são as vítimas e os israelenses os perversos, não há discussão em torno do assunto, não há contraponto. Isto se justifica pelo número de imigrantes palestinos que habitam o Rio Grande do Sul (e, de modo geral, os espaços de fronteira do Brasil com seus vizinhos latinos).

Faz aqui oportuno salientar que não é objetivo deste estudo analisar o conflito que assola o Oriente Médio há muitos anos. O destaque ao tema visa ressaltar a freqüência com que o assunto vem à tona e sempre de modo favorável aos palestinos e contrário aos israelenses. O jornal não busca colocar em debate as ações que são provocadas por ambos os povos nas terras árabes. Desta forma, a postura unilateral é assumida, também, pelas pessoas responsáveis pela produção das notícias do periódico.

Movimento Negro de Uruguaiana comemora 20 de Novembro

O presidente do Movimento Negro de Uruguaiana, Ataídes Rodrigues, explica que o objetivo da existência do Movimento é pesquisar e divulgar a história e cultura da raça negra, além de lutar contra todo tipo de discriminação.

Ataídes afirma que já ocorreram três casos de racismo registrados no município. Na Fronteira Oeste ainda há registro de ocorrência em 1994 na cidade vizinha de Itaqui e em outras localidades.

"Hoje a discriminação racial em Uruguaiana está mais moderada, porém ainda existe e nós temos que combater", disse Ataídes. (O Jornal de Uruguaiana, 22/novembro/2000 - Geral, p. 10).

O assunto veiculado nesta matéria teria (e tem) espaço em diversas mídias, não só do Rio Grande do Sul como de todo o Brasil. Entendemos interessante destacar esse texto pela questão histórica ligada ao negro e sua cultura no espaço fronteiriço gaúcho. Para lutar em favor das revoluções rio-grandenses contra o império, o negro foi alforriado antes aqui do que em outros estados brasileiros. No entanto, conforme o texto destaca, esta é uma das raças que ainda sofre discriminação entre os habitantes de Uruguaiana. Sem sombra de dúvidas, o negro teve papel importante tanto nas frentes de batalha como nas fazendas gaúchas, pois assumiu a luta como sua, assim como as lides campeiras e domésticas, deixando suas marcas na cultura regional. Vê-se através de suas manifestações atuais, que, assim como os palestinos, o negro necessita chamar a atenção da comunidade fronteiriça para a discriminação que sofre. A diferença é que ele sofre preconceito por ser de outra raça, o que não acontece (ou pelo menos não é a reclamação feita) com os representantes do povo palestino. Esta atitude preconceituosa vem da comunidade onde habita, ao contrário dos palestinos que são aparentemente bem aceitos pelos uruguaianenses. O fato é que a relação estabelecida com o negro e os portugueses/brasileiros do período colonial/imperial foi assimétrica, onde esse povo é visto como marginal e inferior, por isso teve (e ainda tem) que mostrar sua indignação por ser tratado de modo discriminatório.

b) El Interior

No jornal El Interior, os textos que mesclam as culturas e os uruguaianenses-libreños são aqueles "recortados" de O Jornal de Uruguaiana. Os textos destacados para a categoria de mescla de culturas são poucos. Eles dizem respeito ao esporte e à cultura árabe-palestina.

Algumas das dinâmicas acionadas pelo jornal uruguaianense são aceitas pelo periódico El Interior ao reproduzir, nas páginas destinadas ao intercâmbio, informações sobre esporte, onde as denominações em português e espanhol se misturam nos nomes dos times fronteiriços:

Liga Uruguaianense de Futebol Veterano

(...) no Campo da Chácara do Sol, Cabreloa X Fronteste/ La Coruña; no Campo do Ferro Carril, Ferro Carril X Ajax/ Tio Agostinho (...)

Na quinta-feira foram realizados dois jogos atrasados da primeira rodada: Acvau 3 X 9 Ferro Carril e Ajax/ Tio Agostinho 2 X 3 Cobreloa. (El Interior, 14/out/2000 - Esporte - O Jornal de Uruguaiana - p. 20).

Em El Interior, a página 20 do dia 17 de outubro reproduz a coluna assinada pelo árabe-palestino Omar Tomalih, com os dois textos analisados anteriormente, publicados em O Jornal. Chama a atenção o fato de os editores do periódico correntino terem escolhidos este tipo de temática para ser reproduzida no jornal destinado aos argentinos que habitam o outro lado da fronteira. O que se tem de informação ligada a esta questão é o fato de a comunidade local ressaltar que o grupo de palestinos está presente em ambos os lados da linha divisória, o que, talvez, possa ser verificado através da escolha de um assunto, que teria repercussão positiva e ressonância para o leitor da Província de Corrientes, região em que circula El Interior.

c) A Platéia

Muitos dos mecanismos utilizados em O Jornal também são acionados por A Platéia. Entretanto, além das páginas em espanhol presentes neste periódico, é comum encontrar outros textos escritos nesta língua ou expressões que fazem referência a figuras como Martín Fierro.

Gaúcho Testamento

O músico compositor Talo Pereira fez um desabafo público ao receber a confirmação de vencedor com a música Gaúcho Testamento no Festival um canto para Martín Fierro realizado aqui em Sant'Ana do Livramento no final do ano de 1999 (A Platéia, 14/maio/2000 - p. 22 - Caderno Variedades/ Carreteando) - Texto com foto mas sem legenda.

Já vimos o nome de "Martín Fierro" adotado em outro evento, no setor agropecuário, como foi possível verificar em texto veiculado em O Jornal de Uruguaiana, já comentado anteriormente. Desta vez, a denominação é dada a um evento cultural e adotado naturalmente, como personagem ilustre também para os brasileiros. O que pode ser observado é que, de modo geral, esta figura que representa o homem que luta com dificuldades para sobreviver na vida campeira não é tão valorizada (ou até mesmo conhecida) pelos brasileiros como pelos uruguaios e pelos argentinos. Entretanto, aparentemente por um processo de crossing over3, os fronteiriços, ao entrarem em contato, trocam informações, incorporando, neste caso, valores e figuras representativas, reconhecendo-se neles e, a partir dessa assimilação, sentem-se no direito (e com orgulho) de prestar-lhe uma homenagem, trazendo a designação deste nome, Martín Fierro - para diferentes acontecimentos tanto no setor agropecuário como no setor cultural.

Seguindo no uso do espanhol, vejamos o texto a seguir.

Comunicado

El Cónsul del Uruguay en Sant'Ana do Livramento, señor Daniel Farias Vidal, hace saber: que com motivo de conmemorarse el próximo 23 de setiembre 150º años de la desaparición física del Prócer General José G. Artigas, invita a todos los residentes uruguayos a concurrir esse día a las 11:00 horas a la Plaza Artigas (João Manuel y Saldanha da Gama), en donde se depositaran por parte de los residentes uruguayos y el Consulado, oferendas florales al Prócer de la Patria. Posteriormente 11:45 horas, en el salón de actos de la Asociación Comercial e Industrial de Livramento (avda. Tamandaré, n.º 2101 - 4º andar) hablará el señor Cónsul y la Prof. Carmen André sobre vida del General José G. Artigas. (A Platéia, 20 e 21/setembro/2000 - p. 4) Comunicado - colocado dentro de um boxe.

Duas questões devem ser levadas em conta a partir desse texto em espanhol. A primeira delas diz respeito a sua veiculação, ao lado de outras matérias em português. A idéia é a de naturalização do convívio entre as duas línguas na comunidade fronteiriça. Em casos como este, não é verificada nenhuma contestação por parte dos leitores. O que se verifica é a aceitação deste tipo de procedimento, sem que seja considerado uma afronta ao público ao qual se destina A Platéia. Outro ponto que merece destaque é que o comunicado está direcionado aos uruguaios e aos "doble chapa" que habitam o espaço, principalmente Livramento, já que é nesta cidade que o jornal circula predominantemente. Por sua vez, o discurso do Cônsul faz alusão à figura de Artigas, ilustre general tão reverenciado pelos uruguaios. E por último, a descrição das solenidades relata uma ação bem peculiar dos uruguaios para com seus heróis, que é a de depositar coroas de flores aos pés dos monumentos representativos destes, destinando um momento para ressaltar seus feitos, hábitos que não são comumente cultivados pelos brasileiros.

A aparição de textos em espanhol ao lado de textos em português é comum em A Platéia, e o próprio jornal reconhece e valoriza a peculiaridade. Além disto, o periódico abre suas páginas para dizeres em árabe, o que causa surpresa para um forasteiro e orgulho para o fronteiriço, como destaca a matéria a seguir.

Aconteceu virou manchete

A JB Empresa Jornalística foi visitada na última quarta-feira, pela equipe de reportagem do programa 'O Povo Gaúcho', exibido pela TVE Rio Grande do Sul, Fundação Rádio e TV Piratini, canal 7.

(...) Em Sant'Ana do Livramento por exemplo, o detalhe que chamou a atenção foi o fato de um jornal diário, se preocupar com a miscigenação das raças, povos que para cá vieram, e unidos construíram um futuro melhor para muitos que viriam depois.

Até aí nada de novo de uma empresa se preocupar com a cultura da região em que atua, mas a forma de demonstrar essa preocupação é que despertou o interesse desta equipe em querer saber mais.

Para os leitores isso não é novidade, o jornal divulga notícias em dois outros idiomas, para assim atender e atingir o público de outros países e etnias. (...) foram recebidos pelos Diretores Antônio e Kamal Badra, que se sentiram orgulhosos em saber que a JB Empresa Jornalística (Empresa responsável pelos jornais A Platéia e Jornal da Semana) é a única que edita um jornal Tri-lingüe no Estado.

'O fato de parte da colonização do Rio Grande do Sul, ter sido feita por árabes, é conhecido, o que é surpreendente, e que muitas pessoas não imaginam é que um jornal diário, tem páginas especificamente, direcionadas a esse público', declarou Soares Malta. (A Platéia, 07-08/setembro/2000 - p. 05) - Acompanham fotos dos visitantes ao jornal, seus diretores e alguns funcionários com legendas explicativas.

Vejamos então, como esta mescla surge em A Platéia. Um exemplo disto são três poemas colocados na mesma página, lado a lado, reproduzidos e transcritos a seguir, com o nome do caderno escrito em árabe:

O nosso desfile é nossa cara
Como é bonita a imagem de um
soldado que junta a seriedade com o amor.
Amor pela vida e seriedade pelo trabalho.
O soldado, reflexo de seu país.
O soldado brasileiro, soldado da paz,
como o Brasil é país de paz.
E assim o povo também.
Vive com todos vizinhos com toda paz,
amizade, amor, sem guerra,
sem violência, sem inveja dos outros,
sem egoísmo e imagem da polícia brasileira
com a polícia uruguaia no Parque Internacional,
imagem de orgulho, simplicidade e paz.
Imagem do carinho pelo outro (...)
(A Platéia, 10/ setembro/ 2000, Caderno Variedades - Caderno Literário - p. 28) - Poema assinado por Mohammad El Hanini.
Retorno

(...)Amaram-se
Quietos
Sentindo
O reflexo
De suas tensões.
E o guasca
Voltando
De um pouso
Mal pago
Trazia
No peito
Um 'asco'
Mui grande
Do grande
Carinho
Que não teve
Usura!...

Velocínio Silveira - Lenço Branco da CAPOSAN. (A Platéia, 10/ setembro/ 2000, Caderno Variedades - Caderno Literário - p. 28).

Árbol

Árbol seco y mustio
de ramas peladas
por la impiedad
de tan largo inverno
Los pájaros pasan
sin posar en ti
porque no hay abrigo
donde cobijarse
y esquivar el frío
que traen por dentro
Estás esperando
en letargo sueño
que una mágica
te devuelva luego
lo que como siempre
te roba el invierno
ladrón traicionero
Y extenderás tus gajos
dadivoso y bueno
vestido de verde
color esmeralda
a todos los vientos
brindando tu abrigo
y tu fresca sombra
a todo ser vivo
que a ocuparte venga
Y serás testigo
de romances nuevos
y romances viejos
nacerán píchones
bocudos y hambrientos
y habrá algarabía
en los patios nuestro.
Blanca Silvia de Figoli

Presidente de Honra da Ordem Acadêmica dos Intelectuais do Cone Sul. (A Platéia, 10/setembro/2000, Caderno Variedades - Caderno Literário - p. 28).

Figura 5 - Caderno Literário (A Platéia, 10/set/2000, Variedades, p. 28)

Primeiramente, verifica-se que a denominação Caderno Literário está em árabe. O autor do poema, que diz "O nosso desfile é nossa cara", manifesta-se com freqüência no jornal. Ele recebeu a condecoração de Presidente de Honra da Casa do Poeta Santanense e sua produção é publicada em A Platéia dentro do Caderno Literário. Pode ser verificado que, nestes dizeres, Hanini faz alusão à Semana da Pátria, comemoração realizada em todo o território nacional, em Sete de Setembro, data da Proclamação da Independência Nacional.

O poeta palestino dá destaque ao "nosso desfile" que é a "nossa cara", juntando-se ao povo brasileiro, assumindo-se como parte do grupo. Aproveita a data e o evento para exaltar a postura pacifista do povo, do soldado e do país que recebeu o palestino e no qual reside com seus familiares há alguns anos. Dá também destaque à condição de vida possível no espaço fronteiriço: sem violência, sem guerras, sem inveja, sem egoísmo, e sim com paz, amizade, amor. Salienta ainda a boa convivência que existe entre as forças policiais brasileiras e uruguaias, que dividem em harmonia o mesmo espaço. O poeta dá destaque, de modo geral, ao respeito pelo outro, à solidariedade, à compreensão, sentimentos cultivados e demonstrados pelo fronteiriço ao acolhê-lo.

No segundo poema, podemos encontrar expressões bem características do linguajar gauchesco como "guasca", "mui". Já o terceiro e último poema está escrito em espanhol. Estes dois últimos não fazem alusão à fronteira em si nem às festividades da Semana da Pátria, mas servem de parâmetro, na medida em que demonstram como três línguas - o português, o árabe e o espanhol - além do linguajar gauchesco - dividem a mesma página de um jornal fronteiriço, sem que isso cause estranheza ou revolta por parte do leitor ao qual o veículo se destina. O jornal se permite trazer esta variedade de línguas sem pedir "licença" ao leitor. Vale destacar que a predominância desta permissividade se dê nas páginas destinadas a abrir o espaço para que a população expresse emoções e sentimentos que se constituem em manifestações culturais dos povos que habitam a fronteira. A predominância é de textos de caráter conotativo, que levam a diferentes interpretações, muito pessoais. A seguir, estão transcritos os poemas assinados por Luciano Machado em homenagem ao Dia das Mães, reproduzidos após.

Mãe

Pequenino nome
Feito de doçura e amor
Carinho e bondade.
Aqueles que podem dizê-lo
Repetindo-o
Em todos os dias de sua vida
Fortalecem seus caminhos
E são radiantes as estrelas
Que iluminam seus passos
Porque seus lábios proferem
Uma palavra mágica.

Madre
Chiquitito nombre
Hecho de dulzura y amor
Cariño e bendad (sic).
Aquellos que pueden
Decirlo, repetiéndolo
En todos los dias de su vida
Llenan de fuerza sus caminos
Y son radiantes las estrellas
Que alumbran sus pasos,
Porque su labios profieren
Una palavra (sic) mágica.
(A Platéia, 14/maio/2000 - pág. 26 - Caderno Variedades)

Figura 6 - Homenagem às mães (A Platéia, 14/mai/2000, pág. 26 - Caderno Variedades).

Mecanismo semelhante ao apresentado anteriormente acontece com estes dois poemas cujo título é Mãe/Madre. Observa-se, no entanto, que o autor assina apenas uma vez o texto, pois optou por colocar as duas versões - em português e em espanhol - uma abaixo da outra. Entende-se também, neste caso especialmente, o porquê de tal articulação. Luciano Machado é um "doble chapa" e aproveita a ocasião para se dirigir tanto as mães do lado de cá como as mães do lado de lá. Assim, ele ressalta e reconhece a diferença de serem uruguaias, brasileiras ou "doble chapas" como ele, ou independente de qualquer outra nacionalidade, todas as mulheres nesta condição merecem uma reverência no dia em que é comemorado o fenômeno da maternidade, traduzido em uma "palavra mágica/ una palabra mágica": mãe/ madre.

Trazemos outros textos que fazem referência à presença dos árabes-palestinos na região.

Em nome de todas as mulheres de Sant'Ana do Livramento, parabenizamos as mulheres brasileiras pelo nosso dia. Sakiba Hanini (A Platéia, 08/março/2000 - p. 19).

O pequeno texto colocado acima está impresso em uma das páginas cujo cabeçalho tem expressões escritas em árabe, significando "Caderno Literário". Percebe-se que quem assina o material é uma representante da comunidade árabe-palestina da região4. A passagem do Dia Internacional da Mulher é aproveitada para lembrar que a condição de ser mulher ultrapassa as barreiras culturais e nacionais, todas são mulheres independente de crenças, naturalidade, devem comemorar o dia que é "nosso", é das mulheres.

Além dos escritos em árabes, vemos, nas páginas de A Platéia, outras questões envolvendo o povo árabe-palestino e seu movimento pelo mundo afora.

Aqui estou junto a ti
Na frente do teu túmulo
eu parei
O tempo fez a volta
A casa está a sua espera
Ficou sem pedras
Caindo devagar, aos pedaços
E você ficou esperando na porta
Até você ficar como a casa.
Na frente do teu túmulo
Parei depois de anos de fora.
Chorei muitas lágrimas
Lágrimas de desculpa
As desculpas não valem nada
Depois de tantos anos
Longe de ti...Que é uma vergonha!
Vergonha porque vendi teu carinho
Pelo meu sonho
E deixei você sozinha me esperando
Oh minha mãe! Levante agora, acorde...
(...) Pois deixei você pelo dinheiro
Eu esqueci que sem você
Eu não existo, nem sinal
Na frente do teu túmulo
Parei pedindo desculpas e perdão
Até que chegou uma voz tranqüila
Dizendo, voltou meu filho!
Deus te abençoe
Ele devolveu você para mim
E se você voltou para a tua
Pátria.
Você voltou para o meu colo
E se a pátria te desculpar
Eu te desculparei...
Meu filho. (A Platéia, 14/ maio/ 2000 - p. 30 - Caderno Variedades - Caderno Literário).

Neste poema Hanini aproveita a passagem de comemoração do Dia das Mães para evocar sua pátria e sua mãe, ambas distantes fisicamente, mas bem presentes em sua mente e coração. Ele reconhece que as deixou em detrimento de uma ambição e que hoje, a frente do túmulo da mãe já falecida, desdobra-se em desculpas e em pedidos de perdão, que, aparentemente, em seu imaginário, são concedidos e intermediados por Deus. A poesia é o mecanismo acionado por um dos representantes da comunidade árabe-palestina para apresentar seus sentimentos de remorso quanto ao abandono da terra natal e dos parentes que lá deixou. Da mesma forma que Hanini, muitos foram os descendentes desta comunidade que realizaram a mesma façanha e que sentem saudade do que deixaram para trás em busca de sucesso e pelo desejo de progredir financeiramente. A aventura de vir habitar terras tão distantes, com culturas estranhas a sua, na intenção de realizar um sonho, deixou marcas que eles guardam com tristeza, mas que entendem que devem ser compreendidas, sendo que a cura para esta dor pode ser conquistada na medida em que imploram a remissão do pecado cometido.

Assim como ocorre em O Jornal de Uruguaiana, em A Platéia percebe-se o destaque à cultura gauchesca, muito forte na região da campanha, incluindo-se aqui as terras fronteiriças, onde as lides campeiras se dão nas áreas rurais. Como esta característica atinge tanto aos santanenses como aos riverenses, as referências ao "gauchês" são trazidas em textos do periódico brasileiro destinado aos leitores fronteiriços.

Rincão da Carolina

Há poucos dias estive charlando com os companheiros Nelson ex-patrão do CTG Rincão da Carolina e o atuante Orestes Quevedo, também integrante do Rincão da Carolina e elemento de muita experiência na organização de eventos culturais. (...) e já estou me preparando para visitá-lo, jogar um truco, beber um vinho gostoso na boa companhia desses amigos que ao longo dos anos estão batalhando pelo culto das nossas tradições em Sant'Ana do Livramento (A Platéia, 14/maio/2000 - p. 22 - Caderno Variedades/ Carreteando).

Aconchego do Tio Nico

Programação do Rancho Crioulo Aconchego do Rio Nico para 15 de setembro corrente. Semana Farroupilha.

...Charla informal
Hora cívico-cultural com arriamento das bandeiras e execução dos hinos.
Tertúlia Crioula (A Platéia, 10/setembro/2000 - Caderno Variedades - Seção Carreteando de Vilmar Villa de Menezes -p. 20).

Origem da palavra gaúcho

Homenageio a nossa data magna, quando comemoramos os 165 anos de eclosão da Revolução Farroupilha, transcrevendo um trecho do livro Rodeios dos Ventos (Mercado Aberto, 2ª ed.) de Barbosa Lessa, contista e pesquisador que honra o solo e a gente do Rio Grande.

'(...) Intrigado, fui a consulado da Espanha perguntar se haviam (sic) algum canário residente em Porto Alegre. Indicaram-me o Sr. José Juan Morales Gutierrez...

(...) Disse-me o Sr. José Juan Morales Gutierrez que, se eu quisesse saber mais coisas sobre as Canárias, escrevesse ao Prof. Néstor Alamo, uma sumidade.

Somente hoje pela manhã chegou a resposta à minha carta: 'Las Palmas de Gran Canárias, 10-XII-77.

Distinguido señor: Espero me perdone usted; he estado de viaje primero y luego he tenido una serie fatigosa de trabajo que me ha impedido el atender a mis compromisos.

Contexto a la suya de 7 de octubre anterior. Debo decirle que la palabra gauche no existe. Creo que ella deve corresponder a guanche, que sí tiene existéncia. Esta voz sierve a los habitantes prehispánicos de estas islas. Esta raza tuvo existencia hasta la mitad primera del siglo XVI aunque ya mesclada con los europeos que vinieron a civilizarnos. Hoy, la raza, como tal, está extinguida o casi, aunque en el sur de Tenerife aun se pueden observar débiles vestígios de ella. Acaso en las montañas de las otras islas también.

Com mis deseos de que tenga una feliz Navidad y el mejor año 78' (A Platéia, 20 e 21/setembro/2000 -Coluna Atos & Fatos, assinada por Renato Levy - p.2).

Nos dois primeiros textos, podemos ver que as "charlas" correm soltas. Trata-se de uma expressão recorrente no meio gauchesco e empregada com freqüência na região da fronteira dando destaque a cultura regional, neste aspecto comum a ambos os lados da linha divisória. No terceiro texto, além de haver a preocupação em apresentar a origem da palavra gaúcho, vê-se que não existe nenhum constrangimento por parte do jornal em reproduzir um texto, enviado por um colaborador, onde uma parte está escrita em português e a outra em espanhol. Nota-se também que, de acordo com a pessoa consultada, a palavra "gaúchos" pode ter tido sua origem nas Ilhas Canárias, antes mesmo de elas terem sido colonizadas pelos europeus.

Isto pode indicar que na sua principal base o surgimento da expressão está na matriz dos povos que vieram a colonizar tanto os territórios do Uruguai como do Brasil, ligando-os através das mesmas raízes. O movimento que é sugerido é de aproximação entre as culturas na medida em que possuem ligações históricas.

Tradicionalismo exalta a cultura gaúcha

Mesmo com o frio que se fez presente, a Rua dos Andradas comportou um público fiel, que assistiu até o fim, um dos maiores desfiles do estado, que este ano ganhou a participação de cavalarianos de cidades vizinhas e também do país vizinho, Uruguai. Crianças, jovens e adultos deram a verdadeira demonstração de amor pela terra, dando uma grande mostra de que nossa tradição sempre estará viva dentro de cada gaúcho que traz os valores da cultura sul riograndense guardada no coração (A Platéia, 26/ setembro/ 2000 - p.3) - O texto é pequeno, mas está acompanhado de várias fotos com legendas descrevendo o desenrolar do evento.

Vemos no texto acima, uma vez mais, a ligação dos fronteiriços a partir do tradicionalismo, da cultura gaúcha. O trecho relata a comemoração de um acontecimento importante para o cidadão sul rio-grandense: "20 de Setembro". Note-se que participam do evento representantes das cidades e dos países vizinhos que vêm confraternizar com os fronteiriços do lado de cá. Como já vimos anteriormente, a Revolução Farroupilha envolveu os povos fronteiriços de modo geral, sem que houvesse uma preocupação maior com relação a sua nacionalidade.

A história demonstra que, na época, os laços estabelecidos entre os fronteiriços da região foram muito fortes, aproximando-os para que pudessem sobreviver as agruras do momento e vencer as dificuldades. E estes entrelaçamentos se mantiveram pelos tempos, com maior intensidade em alguns momentos e com menor em tantos outros. O certo é que as marcas destas relações foram muito fortes e são passadas de geração para geração através de relatos e mesmo através de manifestações culturais como o desfile e os festejos comemorativos da Semana Farroupilha. Nesses eventos, são relembrados os feitos históricos e a uniões entre "todos" os gaúchos de modo a fortificar os valores e os costumes que eles têm em comum.

Trazemos a seguir outros dois exemplos onde pode ser visto o terreno saudável e receptivo para manifestações culturais distintas.

A magia da Bahia

(...) A comunidade da fronteira, acostumada ao tradicional carnaval de rua, com escolas de samba e blocos, sentiu-se ferida com a falta das escolas, mas foi presenteada com uma real 'Magia', o Trio Elétrico, que veio de longe, trazendo a cultura de outro estado, e assim, deixando o povo brasileiro, juntamente com os uruguaios, um pouco mais unidos (...) O povo dançou, cantou, gritou e pulou, transformando as ruas do Brasil e Argentina, numa verdadeira avenida de Salvador (A Platéia, 09/março/2000 - p. 8) - Matéria acompanhada de fotos sem legendas.

Solenidade marca início da Semana de Livramento

Inicialmente, ocorreu a clarinada patriótica simbólica, às 8:45hs, no Parque Internacional. (...) Às 18h30hs, no Parque Internacional foi realizado o 'Sant'Ana em Festas', com diversas apresentações artísticas. Hoje a programação será a seguinte: (...) Local: Parque Internacional (...) Atrações: Academia Lampert (tango, pagode, danças infantis) - Os Fandangueiros (conjunto tradicionalista) (A Platéia, 25/julho/2000 - p. 3) - Acompanha foto com legenda sobre o evento.

Note-se que, no primeiro texto, ocorre um engano ao tratarem as ruas de Rivera como se fossem da Argentina, demonstrando desconhecimento sobre a região. Parece que ao forasteiro tanto faz... Por outro lado há o visível reconhecimento das diferenças culturais existentes no território brasileiro, entre elas o Trio Elétrico que anima os carnavais do Nordeste e que, desta vez, vem animar o evento na fronteira. A novidade, segundo o texto, veio colaborar para tornar brasileiros e uruguaios um pouco mais unidos. Destaca, também, que as músicas e as danças típicas desta época e tocadas por estas bandas são diferenciadas e têm uma configuração muito própria da Bahia. O sentimento que é trazido à tona refere-se à clareza em reconhecer a existência de diferenças culturais e solicita o respeito e a compreensão a estas diferenciações. A partir do exemplo do Trio Elétrico e mesmo do Carnaval Bahiano, o jornal reforça em suas páginas a importância em admitir o outro como tal e valorizar a sua cultura, servindo como referência para as próprias diferenças existentes entre os fronteiriços de cá e de lá da linha divisória.

No segundo texto, o que merece destaque é a variedade das apresentações artísticas: o tango, o fandango e o pagode. Como no caso analisado acima, são diferenças de ritmos, de estilos ligados a diferentes culturas, mas que merecem seu espaço, principalmente o tango, tipicamente cultivado no Uruguai e na Argentina, mas com alta penetração na fronteira, e as músicas gauchescas, presentes nos dois lados da linha divisória, com pequenas distinções, mas oriundas das mesmas fontes.

d) Norte

Nos exemplares selecionados para análise do periódico Norte não há referências à presença de diferentes grupos culturais no espaço fronteiriço, o que não deixa de ser curioso na medida em que muitos são os brasileiros que moram em Rivera e cidades uruguaias próximas. A questão das diferenças lingüísticas é ignorada pelo jornal nas matérias jornalísticas. Entretanto, embora não tenham sido analisados mais detalhadamente, os textos publicitários, em uma observação rápida, permitiram verificar que, no período eleitoral brasileiro, havia anúncios em português em Norte. Este material era direcionado aos brasileiros que estão em Rivera e aos "doble chapa", que têm direito a votar ou no consulado ou em Livramento, caso utilizem algum endereço nesta cidade. Do mesmo modo, a presença de árabes-palestinos nos municípios uruguaios da fronteira é relevante e se destaca já que possuem hábitos culturais bastante diferenciados dos costumes dos brasileiros e uruguaios da região.

Considerações sobre a categoria analisada

O número de textos onde aparece como se configura o amálgama cultural fronteiriço é bem maior nos dois jornais brasileiros (22 vezes em O Jornal e 21 em A Platéia) do que no argentino (03 vezes) e nem aparece no uruguaio. A densidade do material que é apresentado sobre a cultural árabe-palestina merece destaque, demonstrando como é forte a mobilização destes grupos para garantir seu espaço dentro da comunidade fronteiriça, trazendo seu posicionamento sobre as questões que envolvem os povos palestinos e israelenses, em constante conflito, no seu território de origem. A imprensa é utilizada como canal de divulgação e sempre buscada pelos líderes destas comunidades para que possam dizer a todos os fronteiriços o que se passa com seu povo e como é a sua cultura.

Também fica claro o alto índice de tolerância na divulgação de textos em espanhol ou até mesmo em árabe nas páginas dos jornais fronteiriços, principalmente os brasileiros em questão. Expressões tanto da língua espanhola como do linguajar gauchesco passam a ser empregadas naturalmente nos textos jornalísticos demonstrando o quanto a idéia já foi incorporada pelo fronteiriço. A continuidade dada a este tipo de procedimento e a ênfase em destacar os feitos históricos e tradicionalistas da região através de eventos específicos funcionam como estratégia de reforço, dando, cada vez mais, solidez a uma cultura que, por sua vez, pode e quer ser reconhecida como fronteiriça.

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6.1.3 A fronteira como transcendência do local

Esta é a última categoria dentro do eixo a fronteira. A idéia é demonstrar como a fronteira possibilita uma ultrapassagem das linhas do local para esferas mais amplas como o regional, o estadual, o nacional, o internacional.

As conotações que recebe o espaço fronteiriço são variáveis e circulam de acordo com a necessidade dos acontecimentos e atores envolvidos. Conforme a ocasião, a fronteira é percebida - e dita - como um espaço local, incluindo territórios de ambos os lados da linha divisória como um único.

Em outros momentos a fronteira passa a ser designada como lugar internacional. Duas são as possibilidades de acionar este mecanismo. Uma delas é dando importância a eventos, que por envolverem povos de países distintos - brasileiros e argentinos ou brasileiros e uruguaios ou as três nacionalidades -, passam a assumir um status de maior abrangência e/ou relevância.

Esta estratégia, de tornar a fronteira como área binacional ou internacional, serve também para executar outro jogo, o de lançar a outras instâncias problemas e dificuldades que estão ocorrendo no local, no intuito de minimizar possíveis tensões. Isto se dá quando um acontecimento local deixa de ser tratado como tal, ultrapassando o âmbito estadual ou municipal. É comum ocorrer este movimento quando o evento beira o conflito. É o momento em que o homem fronteiriço atribui a responsabilidade dos fatos a esferas distantes e com incumbências de responder pela soberania nacional. Assim a situação deixa de ser local e, neste caso, são chamadas à cena as instituições de esferas federais que deverão, através da negociação, encontrar soluções em nível internacional, com repercussão na fronteira.

A estratégia de considerar o espaço fronteiriço como regional, por vezes, também é empregada pelos fronteiriços e assume dois formatos. Um para mostrar que a região fronteiriça diz respeito tanto a áreas que compõem o território brasileiro como a que faz parte da Argentina ou do Uruguai, isto é, a ampla região fronteiriça. Outra forma de tratar a fronteira como regional é quando aparece apenas a inclusão dos elementos de um dos lados, ou seja, toda a região fronteiriça de um dos países. Com esta artimanha, os habitantes que ocupam as áreas limítrofes passam a diferenciá-la também das demais áreas que compõe seus territórios nacionais - o brasileiro, o argentino e o uruguaio -, isolando-se das regiões que não fazem parte das faixas de divisa entre os países.

Quando este chamamento tende a ser oficial, em nível governamental, a expressão empregada passa a ser o estadual, onde as figuras representativas e responsáveis são o governador, seu secretariado e as instituições reconhecidamente estaduais. Desta forma um acontecimento transcende a repercussão local, mas não se distancia muito. Em tais ocasiões verifica-se a presença de uma dessas autoridades no local fronteiriço ou longe, mas tratando de modo diferenciado, quase que especial, a fronteira.

Vejamos o que dizem os textos.

a) O Jornal de Uruguaiana

O Impulso para o futuro: Gasoduto é inaugurado

(...) Solenidade de inauguração com as presenças dos governadores do Rio Grande do Sul e Entre Ríos (Argentina) (O Jornal de Uruguaiana, 06/julho/2000 - legenda de foto que acompanha a chamada de capa que é a frase acima).

Aberta a primeira válvula do gasoduto e do progresso

Em poucas oportunidades os hinos do Brasil e da Argentina foram entoados na mesma emoção de parceria em Uruguaiana como ocorreu terça-feira (...) somente havia ocorrido há 50 anos quando da inauguração da Ponte Internacional. Com a presença do governador Olívio Dutra, da Secretária de Energia, Minas e Comunicações, Dilma Roussef, de representantes dos governos das províncias de Entre Ríos e Corrientes, do prefeito de Uruguaiana, Nelson Bonotto, do intendente de Paso de los Libres, Eduardo Sanabria e de diversas autoridades das esferas estadual e federal ... (O Jornal de Uruguaiana, 06/julho/2000 - Geral, p. 04).

Projeto Piloto para gás domiciliar em Uruguaiana

A abertura da válvula de pressão ...foi feita pelo Governador Olívio Dutra e pelo vice-governador da província de Entre Ríos, Edelmiro Tomás Pauletti. (...) Olívio Dutra salientou também que o gás que está chegando ao Estado através do Gasoduto Brasil/Argentina e Bolívia/Argentina vai transformar o Rio Grande do Sul da condição de importador para exportador de energia. (O Jornal de Uruguaiana, 06/julho/2000 - Geral, p. 04).

A questão da inauguração do Gasoduto, embora se desenrole no cenário local, chama a atenção para questões envolvendo o "estadual" e o "federal", em nível oficial, até porque é a resultante de acertos firmados entre os governos federais envolvendo os estaduais. As autoridades presentes se deslocaram da capital do Rio Grande do Sul, Corrientes e Entre Ríos até a fronteira para prestigiar o evento cuja importância atingirá toda uma vasta região. As esferas representadas foram desde as locais, às estaduais e federais.

Neste sentido, a fronteira recebe como atributo o destaque por sua localização. É ali que se dá o contato, naquele espaço é que se concretiza a passagem do canal condutor de gás, cruzando dois países.

Ao funcionamento do gasoduto é atribuído o progresso, sua relevância para a integração dos povos da região é comparada à inauguração da Ponte Internacional - construção esta que facilitou efetivamente as trocas e os intercâmbios, via espaço fronteiriço, nas mais variadas áreas. Ao acontecimento é dado valor internacional e envolve outros países que fazem parte do sul da América Latina. É um feito que colabora para elevar o processo de ligação e de trocas entre os países do Cone Sul. Por isso, o feito dá importância para a comunidade local, que irá desfrutar dos benefícios da nova energia, e destaca a região fronteiriça, palco de acontecimentos como este.

Outro evento de natureza semelhante está ligado à Estação Conversora de Uruguaiana.

Eletrosul Uruguaiana é a 1ª a integrar Brasil/Argentina (O Jornal de Uruguaiana, 16/novembro/2000, chamada de capa).

Estação conversora de Uruguaiana é a 1ª interligação energética Brasil e Argentina

O gerente das Centrais Elétricas do Sul do Brasil (Eletrosul), Hamilton Pereira e Silva, disse que a estação conversora de freqüência localizada no município, e primeira na interligação elétrica Brasil-Argentina, está em pleno funcionamento e continua cumprindo o papel de viabilizar o intercâmbio neste sentido, dentro dos padrões estabelecidos no acordo. Segundo ele, (...) 'A estação conversora de freqüência de Uruguaiana é um exemplo concreto da política de integração demonstrada pelos governos brasileiro e argentino.

(...) O gerente da Eletrosul explica que a estação conversora de freqüência de Uruguaiana ... e torna realidade a integração elétrica entre o Brasil e a Argentina. '(...) Somos o resultado de um acordo firmado entre os governos do Brasil e da Argentina num projeto arrojado e desenvolvido sob medida em função das peculiaridades dos sistemas elétricos a serem interligados. (...) destaca que a estação promove importantes benefícios aos dois países agora interligados (...) beneficiando principalmente as atividades econômicas da região Oeste do Rio Grande do Sul e Província de Corrientes. (O Jornal de Uruguaiana, 16/novembro/2000 - Geral, p. 5). (Observação: Fotos acompanham o texto. Uma das legendas diz: "Estação conversora de Uruguaiana é a primeira de Interligação Elétrica Brasil/ Argentina").

A estratégia empregada, tanto na chamada de capa, na legenda da foto como na matéria veiculada internamente no jornal, referindo-se à Estação Conversora, segue o mesmo raciocínio utilizado no material produzido sobre o Gasoduto. Neste caso, quem assume as falas não são autoridades oficiais, mas um "gerente", que possui, entretanto, representatividade institucional. O texto enfatiza o valor de concretude integracionista da obra que envolve os governos federais e estaduais com reflexos diretos, e positivos, para a comunidade local. Um outro destaque do texto é o fato de ser a implementação das propostas prevista em "acordo", demonstrando que resoluções colocadas "no papel" podem se transformar em realidade. Uma vez mais, o espaço físico onde é possível confirmar o processo de trocas e de integração é o fronteiriço, e, por isso, ele deve ser valorizado.

Sambas & Milongas

Hoje Cide Guez Trio estará atuando no restaurante do Cassino Rio Uruguai, em Paso de los Libres. Repertório nacional e internacional, assim como a cozinha do Cassino (O Jornal de Uruguaiana, 22/julho/2000 - Geral, p. 09).

Já neste exemplo o foco é outro. Um evento cultural é divulgado em texto breve. O que cabe ressaltar é a valorização da cultura local como internacional, isto é, o repertório apresentado pelo Trio é "nacional e internacional", podendo esta categoria referir-se a músicas produzidas e tocadas do outro lado da Ponte, dando ênfase à posição de internacional. Este tipo de estratégia desloca o local para uma condição de espaço internacional e é empregada de várias formas e com freqüência em eventos culturais e esportivos como demonstram os textos abaixo.

26ª Feira do Livro em poucos dias supera o público infantil da edição anterior

Programação

11ª Feira Internacional - 4º Fórum de Literatura e História do Mercosul - 8ª Feira do Livro Infantil

(...) Palestra '150 anos da morte de Artigas' por Andréz Rodrigues (professor e historiador e vice-presidente da Junta Departamental de Artigas, Uruguai) e pelo Ten. Cel. Guido Marini Rios. (...) 'Getúlio Vargas e Perón' por Alejandra Mumback (professora e historiadora argentina). (O Jornal de Uruguaiana, 19/setembro/2000 - Geral, p. 04).

Plantas transgênicas e educação ambiental serão temas de simpósio do meio ambiente

Uruguaiana vai sediar no período de 28 a 29 de setembro, no auditório do Senac, o XI Simpósio Conesul de Meio Ambiente e o XII Simpósio Uruguaianense de Meio Ambiente, promoção da Acupama e da Comissão Binacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis Paso de los Libres-Uruguaiana. (...) Na sexta-feira, serão levados a debate o Paisagismo no Pátio Escolar, pela agrônoma e doutora em paisagismo, Beatriz Fedrizi; a Política Nacional de Recursos Hídricos pelo engenheiro florestal do IBAMA, Tarso Isaías; o Esgotamento Sanitário, pelo engenheiro da Corsan, Arno Nicolau Henck e Direito, Comunidade e Cultura Ambiental, que será tema do promotor público Cláudio Ari Mello. (O Jornal de Uruguaiana, 27/setembro/2000 - Geral, p. 09).

Sant'Ana destaque no 1º Encontro de Basquete Mirim do Mercosul

Com a participação de clubes e equipes de escolas, o Colégio Marista Sant'Ana com sua equipe de basquete mirim, participou no dia 17 de setembro, em Bella Unión, no Uruguai, do 1º Encontro de Basquete Mirim do Mercosul, num evento que teve a presença de 32 agremiações convidadas. (...) foi a única equipe brasileira presente na competição, na qual acabou sendo eleita o grande destaque (O Jornal de Uruguaiana, 27/setembro/2000 - Esporte, p. 16).

2º Torneio Internacional de Futebol Infantil

A escolinha de futebol Sport Club Leon, representando Uruguaiana e o país, inicia amanhã, na província de Entre Ríos, república argentina (sic), a disputa do 2º Torneio Internacional de Futebol Infantil (O Jornal de Uruguaiana, 06/dezembro/2000 - Esporte, p. 12).

O fato de a Feira do Livro contar com representantes da Argentina e do Uruguai, talvez moradores de cidades vizinhas, próximas de Uruguaiana, dá a conotação de internacional ao evento. Por sua vez, o Simpósio, por contar com a organização da Comissão Binacional (instituição criada e atuante em Uruguaiana-Libres) e a participação de representantes de entidades brasileiras da esfera federal, é considerado de abrangência do Cone Sul. Já a competição esportiva, envolvendo escolares, agrega a dimensão de Mercosul, embora a única representante do Brasil - note-se o maior membro do Bloco - seja de Uruguaiana. O torneio de futebol passa a ser denominado de internacional embora o jornal noticie dois participantes de países distintos, uma de Uruguaiana e outra de Entre Ríos. Vale destacar que "República Argentina" está escrito com as iniciais em letra minúscula, não deixando de ser um desrespeito como o país vizinho.

Ratifica-se, com estes exemplos, como em alguns momentos a comunidade local aproveita a situação fronteiriça para dar destaque aos seus acontecimentos, ampliando o espectro de sua abrangência e relevância. A proximidade com os países vizinhos propicia e facilita estes intercâmbios. Por outro lado, deve-se levar em conta que, como estas cidades se localizam em uma mesma região, por vezes é mais viável recorrer a elas para que os eventos culturais e esportivos tenham mais atrativos e participantes, já que a distância das capitais estaduais e federais é bem maior. Esta também é uma maneira de valorizar o povo que constrói o espaço, de valorizar a cultura produzida na região bem como seus sujeitos, os fronteiriços.

Poluição sonora provocada por trens é levada ao Ministério dos Transportes

As diretorias da Associação Comunitária Uruguaianense de Proteção dos Animais e Meio Ambiente (Acupama) (sic) e da Comissão Binacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis Paso de los Libre-Uruguaiana, enviaram um fax ao Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, onde denunciam a violação da Lei do Silêncio por trens da empresa ferroviária América Latina Logística (ALL) no perímetro urbano da cidade. (...) causando intranqüilidade a milhares de pessoas que moram nas imediações dos trilhos, trajeto terminal ferroviário à entrada da Ponte Internacional. (...) Cópia do documento também foi enviada ao Ministério dos Transportes e também a Secretaria Nacional dos Transportes Ferroviários. (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000 - Geral, p. 07).

Exército Brasileiro na defesa das margens do Rio Uruguai

O Comando da 2ª Brigada CMEC plantou na segunda-feira, 100 mudas de árvores nativas, viabilizando o projeto da Comissão Binacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Paso de los Libres [-Uruguaiana]5 e Acupama.

Este projeto prevê a plantação de mil mudas nas margens do rio Uruguai, dentro das terras do Comando da Brigada. (...) foram empregados 20 homens do Esquadrão de Comando do Pelotão de Polícia do Exército (...) O Comando da Brigada também desenvolveu um plano objetivo de plantio e manutenção das mil mudas, contando com o acompanhamento técnico de biólogos da Comissão Binacional. (O Jornal de Uruguaiana, 16/novembro/2000 - Geral, p. 06).

Os dois exemplos acima têm ligação com os anteriores, mas vale ressaltar que, no trecho transcrito, fica claro que a entidade binacional luta por questões ligadas ao local. O incômodo que a população de Uruguaiana sente com relação à passagem dos trilhos de trem no meio da área urbana é com freqüência destacado por O Jornal de Uruguaiana. Outra questão que está por trás deste conflito e o da carga que é levada nos vagões. Geralmente, o que é transportado pelos trens que transitam de um lado ao outro da fronteira são grãos, especialmente arroz, motivo de desconforto para os arrozeiros brasileiros e os argentinos da região. No entanto, pela condição de fronteira nacional, há a necessidade de unir esforços no sentido de proteger o Rio Uruguai que abastece toda a região, de lá e de cá da linha divisória. Seria bem menos eficiente se só a população de uma das margens se preocupasse com a preservação das águas do rio e com o meio ambiente da região de modo geral. Como este grupo de defensores da natureza percebeu que suas ações podem ter maior repercussão assumindo a condição fronteiriça e, conseqüentemente binacional, unem esforços e, desta forma, dirigem-se a seus respectivos governos e entidades federais e estaduais cobrando posicionamentos e ações em prol da comunidade uruguaianense-libreña.

Observa-se que, no segundo texto, ao ser citada a Comissão Binacional, a palavra 'Uruguaiana' foi esquecida, conforme complementamos entre colchetes. O mesmo acontece com a legenda de uma das fotos que acompanham a matéria que diz: "Exército, Comissão Binacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e Acupama.". Neste último texto, percebe-se também que duas outras instituição foram conclamadas a agirem em defesa da região, neste caso, na defesa do meio ambiente. Uma delas, ligada às Forças Armadas Brasileiras, representa, no espaço fronteiriço, o poder que se preocupa em resguardar e defender a soberania e o território nacional. A outra é uma das representantes oficiais do setor policial, responsável pela manutenção da ordem da sociedade civil. São duas entidades que, na medida em que se fazem presentes em ações como esta, servem também para demonstrar que ali estão para manter a demarcação do território, a soberania nacional e a lei.

Em uma situação delicada, o procedimento adotado por uma instituição civil, que visa proteger o meio ambiente, é o de se apoiar em outras instituições que são as representantes oficiais do poder e da força dos governos nacional e estadual, mostrando também que a fronteira, pela condição que lhe cabe, precisa ser amparada.

Eleições 2000

Há (sic) quatro dias das eleições O Jornal de Uruguaiana destaca nas próximas cinco páginas as principais propostas dos candidatos ao executivo municipal (...)

Caio Repiso Riela (...) Nós temos que investir no nosso Distrito Industrial para que ele receba uma infra-estrutura básica afim (sic) de atrair empresários brasileiros e estrangeiros para que eles tenham interesse em investir no município. (...) Tem que existir no camelódromo uma participação constante da prefeitura para atrair estrangeiros e os próprios brasileiros da nossa região da Fronteira. (...) O município tem que institucionalizar a sua gurda (sic) municipal. Para isso tem que haver um entrosamento entre a Brigada Militar, a Polícia Civil e com os órgãos de segurança também em nível federal, pois vivemos numa cidade de fronteira. Precisamos fazer com que haja (sic) parceria também com o Governo Federal através do Exército, da Polícia Rodoviária, da Polícia Federal, enfim há vários dispositivos federais e estaduais que não estão no processo de segurança porque não existe iniciativa da administração municipal. (O Jornal de Uruguaiana, 27/setembro/2000 - Política, p. 04).

Agora é nas palavras do candidato a prefeito de Uruguaiana que o entrelaçamento entre as esferas é solicitado para resolver problemas que são eminentemente locais, preocupação natural da administração pública municipal. A situação fronteiriça permite também que o discurso do político dê destaque à possibilidade de atrair investimentos e consumidores estrangeiros no momento em que uma empresa, sediada no outro lado da Ponte, mostrar interesse em atravessá-la e instalar uma filial do lado brasileiro. Ou que um libreño ou mesmo correntino venha a Uruguaiana adquirir qualquer produto de consumo diário, como gêneros alimentícios.

Em vários momentos, o discurso do candidato ressalta que um movimento no sentido de fazer com que a região fronteiriça progrida só é possível com a união de esforços, e das forças constituídas, entre elas as Polícias Civil e Militar, o Exército, enfim os governos estaduais e federal, somando-se ao poder municipal. Este tipo de manifestação é comum em qualquer campanha eleitoral. No entanto, percebe-se que, realmente, em espaços como o fronteiriço, o discurso está muito próximo daquilo que a situação real apresenta, isto é, em determinadas ocasiões o governo municipal se vê prejudicado ao não poder tomar decisões que resolvam problemas locais, já que, por causa das tênues linhas que separam os territórios nacionais, muitos acontecimentos ultrapassam o âmbito local para se transformarem em incidentes internacionais.

Uruguaiana antes ...

O Cólera Morbus e a Varíola

A ameaça de uma nova epidemia do Cólera Morbus punha a Câmara Municipal de Uruguaiana, novamente no estado de prontidão e logo em seguida outra peste, a Varíola. Em 16 de janeiro de 1874 a Câmara Municipal envia ofício (...) Que existem dois casos de trabalhadores da Estrada de Ferro do Estado Oriental (Uruguai), acometido (sic) em Arapel e na cidade de Salto (...) 'No entanto, não será isto razão, para que esta Câmara despreze o que lhe cumpre fazer, visto como é sabido, que o flagelo do mal tem feito seus estragos nas Repúblicas Limítrofes. 'Na mesma data, a Câmara envia ofício ao Sr. Fermínio dos Santos, Vice-Cônsul Brasileiro em Santa Rosa (Bella Unión) Uruguai, sobre as notícias aterradoras que aqui têm chegado (...). (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000, p. 12).

Ato cívico-militar lembra Retomada de Uruguaiana

A cidade ficou sitiada por um mês e meio de início de agosto de 1865 a 18 de setembro de 1865 por tropas paraguaias. Uruguaiana foi retomada e o exército paraguaio se rendeu, após os combates com os militares que formavam a Tríplice Aliança, em 18 de setembro de 1865. Estavam presentes no momento da rendição das forças paraguaias comandadas pelo General Antônio Estigarriba, as celebridades Duque de Caxias, Dom Pedro II e os presidentes do Uruguai e Argentina (O Jornal de Uruguaiana, 19/setembro/2000 - Geral, p. 05).

Nestes dois casos, a história é acionada para tratar a condição fronteiriça. Através da narrativa, os fatos são trazidos para o presente, fazendo com que as relações entre os povos fronteiriços façam parte de uma tradição. Há um reforço das relações entre as comunidades que vivem nas áreas limítrofes do Brasil, do Uruguai e da Argentina. Os dois exemplos relatam fatos onde as relações entre estes três países já era vivida pelo homem fronteiriço, especialmente entre brasileiros, uruguaios e argentinos 6.

No primeiro caso, a ligação se dá através da preocupação com uma epidemia, "o flagelo do mal" que atingiu a região, indiscriminadamente. O material foi selecionado por um historiador local que, com a concordância d'O Jornal, trouxe à cena acontecimentos históricos, acionando a memória coletiva da comunidade.

Entretanto, no segundo caso, a produção é atual, mas a referência é feita aos eventos ocorridos há 135 anos. Neste caso, vale destacar que a ênfase é dada à capacidade (e sucesso) que os povos dos três países tiveram ao se organizarem, na linha de fronteira, contra uma quarta nação, o Paraguai, para reaver terras brasileiras. O acontecimento passado é trazido à cena, relembrando o poder que é possível adquirir através da união dos três povos contra um inimigo comum. Do mesmo modo, a comemoração é utilizada para reavivar na lembrança dos fronteiriços um momento em que se deu efetivamente um movimento integracionista entre os povos da fronteira, deixando em segundo plano a condição de pertencerem a nações distintas.

Governo Estadual quer maior controle contra entrada ilegal de gado na fronteira

O Secretário da Agricultura em nível estadual, José Hermeto Hoffmann, encaminhou ontem, em Brasília, solicitação de reforço no controle da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. No pedido, Hermeto Hoffmann quer maior fiscalização na divisa dos dois países visando evitar a entrada ilegal de gado. 'A Argentina vem se mostrando menos rígida no controle à febre aftosa e temos o dever de cuidar do nosso rebanho', afirma o secretário. (...) O Secretário, antes de viajar ao Planalto Central, fez uma rápida análise quanto à proposta de recontagem e averiguação sanitária de bovinos e ovinos no Rio Grande do Sul, uma sugestão de técnicos da secretaria. Em sua avaliação 'sem o combate ao contrabando, através de forte fiscalização na divisa, o censo será falho, pois de nada adianta fazê-lo se as fronteiras estão abertas. O contrabando é uma questão federal e antecede a realização da recontagem', explica. (O Jornal de Uruguaiana, 27/setembro/2000 - Agro, p. 15).

Prevenção a Aids em Uruguaiana terá investimento de R$ 840 mil a partir de 2001

Conforme a coordenadora municipal dos serviços DST/Aids, Thaís Aramburu, o dinheiro foi liberado pelo Banco Mundial e pelo Ministério da Saúde, com uma pequena participação da prefeitura municipal. (...) "Uruguaiana é um dos 13 municípios gaúchos que conquistaram essa verba, que somente poderia ser destinada a cidades com mais de 300 mil habitantes", diz Thaís, que atribuiu a conquista aos fortes argumentos apresentados aos donos do cofre: situação geográfica, tráfico de drogas intenso, prostituição e a outros fatores que transformaram Uruguaiana em área de alto risco de contaminação por HIV. (O Jornal de Uruguaiana, 02/dezembro/2000 - Geral, p. 14).

Os dois textos acima, um relacionado à questão da febre aftosa, outro relacionado à AIDS, reportam a situação fronteiriça para um patamar de nível estadual e federal. A partir de questões com reflexos prioritariamente locais, a posição adotada por autoridades estaduais e, no segundo caso, federais e internacionais, é de defesa de causas fronteiriças. Desta forma a região, reconhecidamente vista como ponto estratégico de contato entre dois países, é lançada para outro nível, demonstrando que é de importância para o Estado e o país, e, portanto, merece ser vista com atenção. A estratégia adotada por O Jornal neste caso é de deslocamento. Para que a relação entre as nações que estão situadas dos dois lados da divisa não fique mais tensa, os problemas são transferidos para outras autoridades que deverão dar conta da problemática. Sabe-se que tal dificuldade é decorrente do fato de o espaço ser fronteiriço. A situação pode gerar (e já gerou em diversos momentos), acontecimentos delicados, pois estão ligados concreta e diretamente ao lugar, trazendo repercussões negativas para a relação entre os fronteiriços, com reflexos em nível estadual e federal, provocando atritos internacionais.

b) El Interior

Nos exemplares de El Interior coletados para análise não foi verificada a presença de textos que fossem enquadrados nesta categoria onde acontecimentos locais extrapolem esta dimensão, transformando-se em eventos de caráter nacional ou internacional. Isto se deve talvez ao fato de que, no momento, não estava ocorrendo nenhuma programação social, cultural ou esportiva, nem tão pouco política ou econômica de relevância, envolvendo os dois pólos fronteiriços, que fizesse com que o jornal adotasse este tipo de procedimento na construção da mensagem. Ressaltamos, no entanto, que, a partir das observações feitas, podemos afirmar que, assim como em Uruguaiana, em Paso de Los Libres, eventos realizados em nível local podem receber uma dimensão maior, dependendo da origem de seus participantes. Por outro lado, podemos verificar que, em outros textos, a posição da fronteira como espaço é tratada por vezes como local e, por vezes, reconhecida como internacional. A maior preocupação do jornal diz respeito a fatos ligados ao regional, espaço ao qual está dirigida, preferencialmente, a circulação do veículo. No entanto, no material de El Interior aqui reproduzido, esta temática não é predominante. Aproveitamos para relembrar que o jornal argentino está sendo utilizado como um contraponto na pesquisa, não tendo sido coletado na mesma proporção que o periódico uruguaianense.

c) A Platéia

Assim como em Uruguaiana-Libres, em Livramento-Rivera a fronteira transborda o espaço local assumindo uma dimensão de regional, internacional nas páginas de A Platéia e Norte, como demonstram os textos a seguir.

'Dia Internacional da Mulher' é comemorado por diversas entidades

No 'Dia Internacional da Mulher, entidades de Livramento e Rivera realizaram alguns eventos no largo do Parque Internacional com a finalidade de prestar homenagens às fronteiriças.

O Movimento de Mulheres de Livramento, o Movimento das Mulheres Uruguaias, ... promoveram uma Marcha Internacional da Mulher 2000.

A Associação de Mulheres de Negócios, presidida por Beatriz Silva Dutra, com o apoio do Sesc, desenvolveu, nesta última quarta-feira, a Exposição do Encontro de Mulheres da Fronteira, aproveitando as instalações do camarote construído para o Carnaval. (A Platéia, 09/março/2000 - p. 3).

Nuestro enfoque de hoy

Miles de poetas utilizaron múltiples páginas sobre el retorno y la alegría de cada primavera. Del archivo de Varela, vemos un quinteto juvenil de modelos cruzando el parque, que muestra la alegría y la esperanza que renace com cada primavera. Este es el Parque Internacional que todos quieren ver, com alegría y color que son la mejor postal que se puede ofrecer al desarrollo. Para que se logre este exponente de evolución, nuestras autoridades deberán redoblar esfuerzos para superar el centralismo de otras latitudes que no compreenden el tradicional espírito de integración entre nuestros pueblos. (A Platéia, 26/ setembro/ 2000 - p.16) - Acompanha foto de cinco moças caminhando no Parque Internacional.

No primeiro texto, a valorização do local como espaço internacional fica por conta da comemoração do Dia Internacional da Mulher. A ocasião é aproveitada como gancho para homenagear a mulher fronteiriça, no caso as uruguaias de Rivera e as brasileiras de Santana do Livramento, que também podem ser consideradas, naquele lugar, como merecedoras do título de pessoas internacionais. E nada mais propício do que realizar o evento em um espaço denominado de internacional, espaço este que liga as duas cidades. Note-se também que, neste trecho, as santanenses são colocadas em um mesmo patamar que as uruguaias, ou seja, a esfera local representativa de um dos lados está posta em nível de igualdade com a esfera nacional do outro.

Já no segundo texto, escrito em espanhol e colocado na página onde todos os textos estão nesta língua, novamente o Parque Internacional é chamado de modo a valorizar a efetiva relação entre as duas nações, entre os dois países. O lugar é considerado pelos fronteiriços como curioso e glorioso, pois nele efetivamente se dá uma relação amigável entre populações locais distintas, representantes de duas nações, demonstrando como é possível existir integração entre os povos.

Eventos culturais também funcionam para dar destaque à questão do local como espaço internacional como o Carnaval.

Trio elétrico agita as ruas no carnaval internacional

Confira os flashes da animação nos clubes nas páginas 5,6,7 e 8 (A Platéia, 07/março/2000 - Capa) - manchete acompanhada de fotos, sem legendas.

'Tomate com Laranja' dita o ritmo do Carnaval Internacional (A Platéia, 08/março/2000 - Capa - Manchete) - Acompanhada de várias fotos sem legendas.

Expectativa e opinião da comunidade da Fronteira

'O sucesso do Carnaval Internacional 2000 é o resultado da parceria e do esforço do Poder Público e do empresariado.' - José Luiz Caggiani - Secretário de Turismo.

'Recentemente cheguei da praia e estou surpreendida com o movimento e com a animação da Fronteira.' - Suzana Ribeiro - Pianista.

'Vamos ter o carnaval de antes e o carnaval após Carnafronteira 2000, pois a presença desse trio fará com que repensemos este grande evento' - Neri Casseres - Médico (A Platéia, 08/março/2000- p. 13) - Matéria acompanhada de fotos com legendas sobre a opinião da população com relação ao Carnaval.

Trio-Eléctrico

Los simpatizantes del carnaval-internacional destacaron como realmente notable la labor del Trio Eléctrico de Salvador, animando las jornadas locales.

A ellos, se agregaron las expresiones de turistas, que ya han adelantado que estarán presentes en el próximo año y que esta fiesta de nuestra frontera será inolvidable. (A Platéia, 09/março/2000 - p. 7) - Coluna El Mirador de Próspero, assinada por Martin Correa.

Os textos, acima, publicados em A Platéia - um deles em espanhol - dizem respeito às festividades carnavalescas ocorridas no ano de 2000. Devido ao fato de a comemoração se desenrolar em um espaço urbano de divisa entre dois países, ela recebe a conotação de internacional, passando a ser denominada de modo bastante peculiar: Carnafronteira. Se levarmos em conta o índice de estrangeiros presentes ao Carnaval em cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, poderíamos afirmar que, nestas localidades, o evento tem um cunho internacional pela diversidade de nacionalidades do público presente. No entanto, o que se passa em Rivera-Livramento é que, embora a interação entre duas nações seja algo comum naquela localidade, no Carnaval do ano de 2000 tal iniciativa recebeu destaque maior porque as atividades carnavalescas foram programadas de modo a incluir os membros das duas comunidades em um único grupo, o dos fronteiriços.

O empenho dos poderes locais é ressaltado, pois, através da união de autoridades de ambos os lados, é que se tornou possível trazer um trio elétrico de Salvador/ Bahia (Estado considerado referência em se tratando de animação popular nos dias de Carnaval) para abrilhantar os festejos na fronteira. Segundo os fronteiriços, o fato é tratado como "curioso" pelos estrangeiros, mas, para esses, é algo corriqueiro. Para alguém que não está acostumado com este tipo entrosamento, a relação entre as duas comunidades torna-se diferencial, e, é neste sentido, que os moradores locais valorizam a sua condição de fronteiriços, de internacionais, de modo a legitimar a condição internacional da fronteira, acionando a estratégia de racionalização, que é seguida pela mídia ao dar destaque a acontecimentos como o Carnafronteira, o Carnaval-Internacional.

Já nos textos a seguir, as situações que elevam o local ao status de internacional dizem respeito à inauguração do novo aeroporto de Rivera e às obras da Eletrosul.

Presidente uruguaio inaugurou obras do Aeroporto 'Presidente Gestido' com autoridades fronteiriças

Em cerimônia oficial realizada ontem no Aeroporto Presidente Oscar Gestido de Rivera, o presidente Jorge Batlle inaugurou as obras de remodelação da pista principal. O ministro de Transportes e Obras Públicas do Uruguai, Lucio Cáceres destacou a importância do fato ressaltando a sua integração com o Rio Grande do Sul. Finalmente, o ministro de Defesa Nacional, Luiz Brezzo utilizou conceitos semelhantes ao de Cáceres acrescentando que, em função da integração com o Brasil e os objetivos do Mercosul, a fronteira de Rivera-Livramento passa a desempenhar uma tarefa de vanguarda. Além dos parlamentares uruguaios presentes, o senador Walter Riesgo, deputados Henri Lopez, Guido Machado, os prefeitos Gleni Lemos e Asdrúbal Vázquez participaram desta jornada.

Mais tarde Glenio cumprimentou Batlle abordando assuntos relativos ao desenvolvimento de Fronteira (A Platéia, 14/maio/2000 - p. 14) - Matéria acompanhada de fotos com legendas esclarecendo quem eram as autoridade presentes.

Glenio Lemos prestigia inauguração

O prefeito Glenio Lemos participou na manhã de sexta-feira da solenidade de obras no Aeroporto Internacional de Rivera. A solenidade contou com a presença do presidente uruguaio Jorge Batlle e os ministros de Obras Públicas e da Força Aérea, também as autoridades locais riverenses como o intendente Asdrúbal Vásquez (sic), senadores e deputados. O presidente uruguaio e os ministros ao conversarem com o prefeito santanense destacaram a importância das obras que foram realizadas e que darão condições de aterrissagem de aeronaves de maior porte. O prefeito Glenio Lemos, por outro lado, também destacou a relevância da iniciativa do governo uruguaio, que vem de encontro (sic) a um anseio da comunidade da Fronteira. Além de proporcionar um intercâmbio maior não só com o Rio Grande do Sul mas também com outros estados brasileiros (A Platéia, 14/maio/2000 - p. 15) - Matéria com fotos e legendas, mostrando o prefeito de Livramento ao lado das autoridades uruguaias.

Batlle inauguró obra de remodelación del Aeropuerto 'Presidente Oscar Gestido'

Muy próximo al medio día de ayer, com la presencia del presidente de la Repúblicas Jorge Batlle, los ministros de Defesa Nacional Lus Brezzo, de Transportes y Obras Públicas Lucio Cáceres y altas autoridades nacionales y departamentales y de la municipalidad de Sant'Ana do Livramento quedaron inauguradas las obrtas de remodelación del Aeropuerto Binacional 'Presidente Gestido' en Cerro Chapeu en Rivera. En primer término, hicieron uso de la palabra el titular de Transportes y Obras Públicas. (...) Resaltó la posición geográfica com Brasil y lo que ello representa para la región, donde operan de un tiempo a esta parte empresas de Brasil.(...) Citó a modo ejemplo en materia de integración com Brasil, la importancia del acuerdo de Fortaleza y la incidencia del Mercosur. (...) Representó a la municipalidad de Livramento, el prefeito Glenio Pereira Lemos que en saludó al presidente Jorge Batlle, acompañado de su colega Asdrubal Vázquez. Por último, también Pereira Lemos mantuvo amable diálogo com el senador (...) y los diputados (...) autoridades nacionales en un clima muy fraternal, al que se sumó el Cónsul de Uruguay en Livramento (...)

Palabras de Batlle

(...) un afectuoso saludo a las autoridades y pueblo de Sant'Ana do Livramento, saludando en esa oportunidad al prefeito Glenio Lemos. Recordó, cuando años atras residió en Palomas y cumplió actividades laborales en Livramento. (A Platéia, 14/ maio/ 2000 - p. 49 - Página em espanhol).

Obra aproxima integração energética na fronteira Brasil com Uruguai

A Eletrosul, subsidiária da Eletrobras, está dando início as obras de construção da unidade conversora de freqüência de energia Brasil/Uruguai, que fará interligação com o sistema elétrico da Unisas y Transmisiones Electricas del Estado (UTE), através de uma rede que percorrerá 1.800 metros desde a unidade do Bairro Registro até a linha divisória. (...) Conforme informaram, inicialmente o Brasil deve importar do Uruguai 300 mega Watts de energia, o suficiente para abastecer uma cidade de 500 mil habitantes. 'A interconexão é um caminho de ida e volta, pois reforça os vínculos de fronteira, permitindo que haja uma regularidade no fornecimento de energia na região, independente de fatores adversos ou sazonais que possam ocorrer, pois o sistema poderá transmitir força nos dois sentidos, ora do Uruguai, ora do Brasil', explicaram. (...) estação conversora que funcionará numa área ao lado da subestação II da CEEE, no Bairro Registro, fará interconexão com a similar uruguaia localizada na região de Empalme (próximo à Zona Franca de Rivera) que distribui energia da região de Passo de los Toros e Salto Grande. Os custos gerais da conexão energética financiados pelo BID para Brasil e Uruguai estão avaliados num total de 32 milhões de dólares. A Eletrosul assumirá metade deste custo e a UTE, a outra parte (A Platéia, 11/agosto/2000 - pág. 10) - Acompanha foto das obras com legenda.

Os exemplos sobre a inauguração da nova pista do Aeroporto de Rivera - sendo que um destes em espanhol - e sobre a Unidade Conversora da Eletrosul, trazem novamente à cena o vai-e-vém do local para o internacional.

Sobre as matérias do Aeroporto Presidente Gestino, percebe-se que, ao mesmo tempo que, do lado uruguaio as autoridades presentes são representativas de órgãos federais, estaduais e municipais, do lado brasileiro as autoridades municipais são as únicas representadas. No evento, fica destacada a posição estratégica das duas cidades como espaço de ligação entre os dois países e de fundamental importância para a solidificação do Tratado do MERCOSUL. Conforme apresenta A Platéia, o esforço integracionista, dito como de vanguarda pelos integrantes da solenidade, é ressaltado e se concretiza nas obras de um aeroporto que tem por objetivo aproximar as relações entre os dois países e os demais que compõem o Bloco. Neste esforço, o Rio Grande do Sul passa a ser citado e incluído, recebendo relevância como estado chave, de localização importante para que a integração se solidifique de fato.

Com relação ao texto sobre a Estação Conversora de Energia, a iniciativa recebe destaque por ser uma ação a mais no sentido de fortalecer os laços de integração na fronteira. Os benefícios provenientes deste intento não são destinados apenas às cidades envolvidas diretamente - as fronteiriças - mas trarão reflexos positivos para uma vasta região e se configura numa proposta de "ida e volta", isto é, ambos os lados obterão retornos com a conclusão da obra. Percebe-se de modo claro que, neste caso, para que a idéia fosse concretizada era necessário a adesão dos governos federais, envolvendo instituições de caráter nacional como a Eletrobrás e sua sucursal Eletrosul e a UTE. Mas uma vez mais, o espaço onde se solidifica esta transação é o fronteiriço, lugar onde as linhas de transmissão uruguaias entrarão em contato com as brasileiras de modo a efetivar o intercâmbio de um lado ao outro, de um país para outro, atendendo as necessidades de cada momento.

Cabe ainda destacar que o sobrenome do intendente de Rivera está escrito, em um dos textos como Vázquez e no outro como Vásquez. Outra incorreção grave colocada é o uso da expressão "de encontro", sendo que o correto, pela lógica do texto, seria "ao encontro de", isto é, favorável ao anseio da comunidade local. Tais gafes são comuns nos textos jornalísticos, mas podem causar um grande mal-estar entre os leitores, podendo até trazer reflexos mais delicados em uma comunidade pequena, envolvendo autoridades de cidades, países distintos. Já no texto que fala sobre a construção da unidade conversora em Livramento, a expressão Paso de Los Toros está grafada de forma incorreta (Paso foi escrito com o emprego de dois "s").

Notícias da área esportiva também demonstram como se dá a questão de o local ultrapassar suas barreiras. Exemplo disso pode ser verificado no texto seguinte.

Seleção Gaúcha e Uruguaia de Basquete jogam na inauguração do ginásio do Irajá

O dia 15 de julho entrará para a história do basquete santanense por sediar a inauguração de um dos principais monumentos da recente história deste esporte na Fronteira, o novo ginásio do Irajá Atlético Clube. (...) como atração da programação de inauguração do ginásio a realização de um confronto entre duas forças do basquete sul americano, as seleções adultas de basquete do Rio Grande do Sul e Uruguai que, farão a partida oficial de inauguração do ginásio.

A solenidade, porém, tem início às 17h, com o hasteamento de bandeiras, interpretação dos hinos brasileiro e uruguaio (...) a apresentação das seleções será aberta ao público santanense que, terá a oportunidade de conhecer as novas e modernas instalações do ginásio que, a partir do dia 15, será entregue oficialmente a comunidade (A Platéia, 06/julho/2000 - p. 22) - Acompanha foto com legenda: "Seleções Gaúcha e Uruguaia fazem o jogo inaugural do ginásio no dia 15".

No exemplo acima, a dimensão do local em relação com as demais esferas se confunde. O confronto esportivo se dará entre duas seleções uma delas representante de um estado brasileiro e a outra representante de um país. Se levarmos em conta a diferença das dimensões territoriais entre o Brasil e o Uruguai podemos compreender a relação que é estabelecida, mas se levarmos em conta o nível hierárquico, iremos perceber que há um descompasso entre eles em nível de representatividade. Observa-se que os hinos a serem entoados e as bandeiras a serem hasteadas, por ocasião da solenidade, são os nacionais, nem é falado no hino rio-grandense. No lugar onde se dará a disputa, um espaço de fronteira, este tipo de iniciativa é comum e pode ser aproveitada, novamente, para ampliar o valor do jogo, dando ao evento uma dimensão que vai além do local.

Radialista quer brigar por mais empregos

Outra preocupação do candidato pedetista é com relação a reciclagem do lixo. Para ele dever-se-ia construir uma Usina Binacional para este fim, em conjunto com Rivera. Eleito vereador, DAGOBERTO REIS (sic), pretende criar em seu gabinete um Banco de Idéias para que a população possa opinar e dar sugestões sobre aquilo que julgar necessário. (A Platéia, 10/setembro/2000 - p. 9) - Acompanha foto do candidato tendo como legenda o seu nome.

Juventude binacional integra-se a comunidade mundial

Na nossa fronteira, a ACM/ACJ - Associação Cristã de Moços/Asociación Cristana de Jovenes, com sede em nossa cidade desde 1996, tem como assessora executiva Maria de Lourdes Bristo Mattos e como presidente do Conselho de Dirigentes Voluntários Cláudia Cartana. Este Conselho é binacional, ou seja, é formado por integrantes brasileiros e uruguaios. Muitas atividades foram desenvolvidas durante este ano pela ACM/ACJ, sendo que um dos principais acontecimentos foi o intercâmbio ao Peru organizado pela Organização Latino Americana e Associação Cristã de Moços da Espanha, no qual Maria de Lourdes representou o Uruguai. Neste intercâmbio foi elaborado um plano iberoamericano de formação juvenil, o qual contou com a participação de doze países: Brasil, Uruguai, Perú (sic), Argentina, Paraguai, Chile, Costa Rica, Panamá, República Dominicana, Espanha El Salvador e Venezuela. A ACM/ACJ realiza vários cursos de capacitação de curta duração para jovens e adultos, nos quais os alunos recebem certificado de conclusão. (A Platéia, 8/ dezembro/ 2000 - A Platéia Guia, p. 16).

Acima são colocados dois textos que demonstram como situações e proposições de ações em nível predominantemente podem ser denominadas como internacionais, mais precisamente binacionais. No primeiro exemplo, é nas palavras de um candidato à Câmara de Vereadores de Livramento, que a proposta é trazida. Para ele, a criação de uma usina de reciclagem de lixo, que viesse atender à comunidade local - Livramento-Rivera - passaria a ser identificada de modo a deixar claro que envolve dois países, muito embora seus serviços fossem direcionados a habitantes de duas cidades ou, no máximo, a outras situadas nas proximidades.

No segundo caso, a entidade conhecida em nível mundial, e que tem por característica voltar suas atividades para crianças e jovens, destaca-se por configurar-se em uma organização binacional por contar com a participação de pessoas provenientes das duas cidades, ou seja, riverenses e santanenses. As atividades nas quais a entidade está envolvida recebem destaque por se consistirem em situações onde a questão integração/ intercâmbio é o ponto forte. Para a ACM/ ACJ Frontera, que já carrega na sua denominação características de composição bilíngüe, nada mais coerente do que ser chamada a ser representante de um espaço onde um processo como este se oficializa.

Nos dois exemplos percebe-se que a fronteira passa a ser "explorada" como lugar onde efetivamente é possível constituir instituições de nível mais amplo do que local. Se levarmos em conta que, provavelmente, muitos dos participantes da ONG sejam "doble chapa", a existência de membros dos dois países é algo normal para a região e curioso para alguém de fora que vê em uma primeira vez acontecimentos como esses. Mas temos que convir que aquele é o espaço onde este trânsito entre o local e as outras esferas se faz possível, ou até mesmo, torna-se coerente a partir da realidade das comunidades que ali habitam.

No último texto de A Platéia que compõe este bloco, transcrito a seguir, verificamos a estratégia de buscar em acontecimentos históricos este trânsito de um lado ao outro da linha divisória. A passagem de um país para outro é apresentada como algo normal, reforçando a idéia de que o local, ao permitir o encontro de dois territórios nacionais, transborda para uma esfera de internacional, como o nome do parque mesmo diz. O trecho refresca a memória dos fronteiriços sobre o tempo em que o Parque, espaço que recebe na sua denominação a referência de área internacional, há muito já é usado por santanenses e riverenses. Os habitantes das duas comunidades se apropriaram do lugar, desfrutando, de diversas formas, da faixa de contato entre os países, transitando livremente de um lado ao outro e passando esta idéia de convivência harmônica entre os dois povos de modo a ratificar a afirmação de que aquele espaço nada mais é do que o espaço construído pelos fronteiriços e usado por eles a seu bel prazer, tornando o internacional como local.

Pensando em Livramento

Em certas ocasiões, detenho-me a pensar sobre o que foi ou representou este município de Sant'Ana do Livramento, há 50 anos passados. (...) Se no verão havia eletricidade durante a noite, o Parque Internacional era o lugar certo para os pais levarem a seus filhos para brincar e como era gostoso juntar pedrinhas e cascudos caídos das luzes, para imaginar uma estância com as suas cercas de pedras e o rebanho juntando nas mangueiras. Tudo isto era sonho, porém era a realidade infantil daquela época [A Platéia, 29/ setembro/ 2000 - Coluna Atos & Fatos - assinada por Renato Levy - p.2] - Texto dentro de um boxe.

d) Norte

Assim como em El Interior, por termos adotado uma sistemática de usar os dois jornais produzidos do outro lado da linha divisória apenas como contraponto, em Norte, dentre os exemplares recolhidos, em nenhum texto pôde ser registrada a predominância do local ter assumido a posição de internacional de modo a contemplar a análise proposta por esta subcategoria. Também assim como o que ocorreu na região de Uruguaiana-Libres, em Livramento-Rivera verificou-se, em nossas observações de campo, que existe o movimento de o local transcender sua esfera, assumindo o status de internacional. Entretanto, tal representação não se fez presente no material jornalístico divulgado em Norte nas edições selecionadas.

Considerações sobre a categoria analisada

Pelo levantamento feito, tanto nos movimentos realizados pela sociedade e trazidos pelos jornais do lado brasileiro, a fronteira pode ser tratada como um fenômeno que transcende a dimensão do local, assumindo o papel de espaço internacional. Efetivamente, é em lugares como este que tal movimento torna-se possível. Fica evidenciado, também, que a situação fronteiriça permite tornar os espaços pertencentes aos dois países vizinhos como um espaço único, construído e engendrado pelo fronteiriço. Muitas são as formas e as estratégias empregadas para realizar estes dois exercícios. A busca em tratar um evento cultural, esportivo ou que envolva causas sociais, mas de caráter primeiramente local como se fosse internacional, se dá de modo a ampliar o valor do acontecimento, assumindo uma dimensão mais abrangente e de maior importância. Do mesmo modo, na medida em que autoridades municipais são colocadas em níveis quase que de igualdade com as federais, uma representando um país e outra a nação vizinha, cria-se um entrelaçamento, reforçando a importância da fronteira como espaço diferenciado que permite esta configuração, de modo a distingui-la de outras regiões.

Os jornais de Uruguaiana e de Santana do Livramento desempenham uma função fundamental neste vai-e-vém do local ao internacional e vice-versa, reproduzindo em suas páginas a idéia de a fronteira ser um fenômeno onde o espaço local passa a ser o responsável por permitir que certas articulações colocadas em práticas pela sociedade assumam um caráter de relevância e destaque, de modo a torná-la - a fronteira - uma referência para a realização de uma integração de fato.

Ao todo foram 46 textos classificados nesta categoria, todos eles presentes nos dois jornais produzidos do lado brasileiro. Entretanto, cabe destacar que destes, cinco estão nas páginas de A Platéia destinada ao material em espanhol, ou seja, presume-se que estejam destinados a leitores uruguaios ou "doble chapas", dando a algumas temáticas o caráter de internacional, de modo a interessar moradores do lado brasileiro e do lado uruguaio.

Concluído este primeiro eixo, passaremos a ver como a mídia impressa local estampa em suas páginas as relações estabelecidas entre os habitantes locais, os fronteiriços.

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6.2 O Fronteiriço

Enquanto o primeiro eixo organiza o espaço geográfico, em torno deste segundo organizam-se as relações entre os que habitam as áreas urbanas na região marcada pela divisa entre os países. Como nosso objetivo é o de observar as estratégias diversificadas de identidade, diferença e interação do homem da fronteira, conforme sua própria percepção, ativada nos jornais, procuramos observar, em cada ângulo, como transparece aí a questão quem somos nós. Foram incluídas, neste ponto, quatro categorias do nós fronteiriços: ou brasileiros ou argentinos ou uruguaios; todos da fronteira; da região fronteiriça ampliada; semelhantes implícitos.

A primeira categoria foi subdividida em duas outras: nós, os daqui e eles, os de lá; nós, os daqui mas sem excluí-los. A segunda categoria também recebeu duas subdivisões: nós, os de cá mais os de lá; nós, marginalizados.

Através desta estrutura, pensamos ser possível identificar de modo mais claro como o fronteiriço se reconhece, como reconhece o outro e como estabelece relações em um espaço tão peculiar como o entre nações, países distintos, mas com um convívio muito próximo e constante.

Ressalta-se que, em alguns exemplos trazidos como destaques, verifica-se a presença de elementos que podem ser classificados e analisados em mais de uma categoria ou subcategoria já que possuem características que se enquadram tanto em um quanto em outro item. Entretanto, escolhemos os que nos pareciam mais significativos para darmos ênfase aos itens criados a partir do material coletado e selecionado para a análise final.

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6.2.1 Nós, ou brasileiros ou argentinos ou uruguaios

Nesta categoria, fica clara a presença de um outro. Nos textos publicados pelos jornais, percebe-se que são estabelecidas diferenciações entre as pessoas oriundas dos distintos lados da linha de divisa entre os países. Desta forma, o fronteiriço afirma sua identidade, vinculando-se à sua nação. Apresentamos, assim, alguns exemplos onde há um predomínio deste relacionamento estabelecido entre os moradores de Uruguaiana-Libres e de Livramento-Rivera.

Com exceção de El Interior, que deu este viés nas relações entre os fronteiriços em apenas quatro textos, nos demais o número de registros se amplia: O Jornal - 18 vezes, A Platéia - 40 vezes, Norte, 15. Recebe destaque o jornal de Livramento devido ao número de vezes em que este tipo de estratégia é empregada. Esta alternativa comporta duas variantes.

A) Nós, os daqui e eles, os de lá

A idéia predominante neste material é de relativa separação. Existe o reconhecimento da presença do outro, mas o destaque é dado à diferença. Percebe-se que este tipo de tratamento ocorre, principalmente, quando a temática diz respeito a questões ligadas à economia ou aos assuntos policiais.

a) O Jornal de Uruguaiana

Mercado de Arroz

Reunião fica sem acordo sobre importação

O encontro foi realizado quinta-feira em Porto Alegre, e ao contrário do que se esperava, acabou contando apenas com a presença do Uruguai, com o representante da Argentina não tendo comparecido ao evento. A reunião terminou sem um consenso em torno da possibilidade do Brasil colocar cotas de importação aos parceiros do Mercosul (Argentina e Uruguai). (...) Como a Argentina não participou da reunião, a discussão em torno das importações foi adiada para um novo encontro, agendado para o próximo dia 24, em Montevidéu.

(...) A preocupação das lideranças gaúchas é que ambos países entrem com volumes consideráveis de arroz no mercado brasileiro forçando uma queda das cotações nesta fase inicial da colheita. (O Jornal de Uruguaiana, 04/março/2000 - Agro/ Coluna Safras & Mercado, p.19).

Federarroz tenta evitar importação do cereal oriundo da Argentina e do Uruguai

O Presidente da Federarroz, Arthur de Albuquerque, disse no início desta semana que a entidade decidiu ser o pólo ativo de uma ação administrativa de antidumping no Departamento de Defesa Comercial (Decon) no Rio de janeiro (sic) (RJ), tentando, desta forma, evitar a importação originário da Argentina e do Uruguai. (...) 'Quando barrou o frango e o café brasileiro por este mecanismo, a Argentina abriu o precedente para que outros países do bloco adotassem a mesma posição' explica. (...) O Brasil consome 200 mil toneladas por ano e já se tornou tradição a compra do Uruguai. (O Jornal de Uruguaiana, 27/setembro/2000 - Agro, p. 15). O texto é acompanhado de foto com a legenda: "Federação quer evitar importação de arroz da Argentina e do Uruguai".

Suspensão da compra de carne bovina não será mais aceita pelo governo federal

O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Oliveira, disse que o governo brasileiro não deverá mais aceitar a adoção de barreiras comerciais contra produtos nacionais, como ocorreu com a suspensão na compra de carnes bovinas e suínas gaúchas por parte da Argentina e do Chile, a menos que estejam fundamentadas por parecer técnico.

A manifestação ocorreu em resposta a solicitação do Conselho Nacional de Pecuária de Corte, que esteve reunido em Brasília na última quarta-feira, da qual participaram o presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Farsul, Fernando Adauto, e o diretor executivo do Sidecargs, Zilmar Moussale.

(...) o surgimento da doença [Febre Aftosa] no Estado não deveria servir como empecilho às tratativas de comercialização de carne com os Estados Unidos quando surgiram os primeiros focos (O Jornal de Uruguaiana, 14/outubro/2000 - Agro, p. 18).

Argentina retoma as importações

A Argentina retoma a importação de carne fresca desossada do Rio Grande do Sul. (...) As exportações do produto no RS estavam suspensas desde o início de outubro quando originam de focaos (sic) de aftosa no Estado para voltar a vender a carne os frigoríficos devem estar localizados fora do raio de 25km de onde foram encontrados os focos da doença (O Jornal de Uruguaiana, 22/novembro/2000 - Agro, p. 12) (Observação: O texto é acompanhado de uma foto da Ponte Internacional com a legenda: "Serviço de Sanidade Agroalimentar liberou a importação de carne para o Brasil".

Ministro da Agricultura defende tarifa maior para agronegócios do Mercosul

O Aumento da TEC (Tarifa Externa Comum) do Mercosul, para importações de agronegócios, de terceiros mercados, com a finalidade de fomentar o comércio de produtos dentro do bloco, é a idéia defendida pelo ministro da Agricultura, Marcus Vinícius Pratini de Moraes. Segundo ele, a intenção é ajudar o Mercosul a superar a crise iniciada com a desvalorização do real, no início do ano passado e agravada com a recessão na Argentina (O Jornal de Uruguaiana, 02/dezembro/2000 - Geral, p. 14).

Nardes reúne embaixadores do Uruguai, Argentina e Paraguai, para discutir Aftosa

O Deputado Federal Augusto Nardes, um dos coordenadores da Frente Parlamentar da Agricultura no Congresso Nacional e membro da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, propôs em reunião de auditório púnicas (sic) na Câmara dos Deputados, com a presença de representantes da Argentina, Uruguai e Paraguai a adoção de medidas conjuntas entre os países do MERCOSUL, que visem o combate da Febre Aftosa.

Nardes, ao questionar o representante Paraguaio ... ouviu a explicação que impeça que estrangeiros saiam de terras na fronteira, fato que dificulta a fiscalização, já que não há marco divisório da fronteira dentro de uma mesma propriedade e repudiou as acusações que a contaminação teria origem no Paraguai por causa da distância de quase 1.000 km entre Chaco e a cidade gaúcha de Jóia?RS (sic), no Brasil. Já o embaixador do Uruguai, respondeu que o foco registrado na província de Artigas está recebendo a condição de 'quarentana' (sic), com a intensificação de fiscalização, vacinação e abate de animais contaminados. (O Jornal de Uruguaiana, 06/dezembro/2000 - Política/Geral, p. 03).

A questão do arroz é trazida com freqüência pelo jornal assim como a da febre aftosa, pois são problemas do interesse dos produtores de Uruguaiana e arredores. Tanto o cultivo do arroz como a criação de gado há anos sustentam a economia local, por isso qualquer incidente que envolva estes dois segmentos diz respeito à comunidade, merecendo atenção da mídia. Como a situação causa tensão entre os agropecuaristas de cá e de lá, o problema é lançado para a esfera estadual e nacional, assumindo-se como um incidente envolvendo diferentes nações, como o Brasil, Uruguai e Argentina, criando o devido distanciamento entre os envolvidos.

Os três textos, a seguir, foram extraídos do Caderno de Intercâmbio, isto é, material produzido em El Interior e veiculado em O Jornal de Uruguaiana, sendo que o segundo exemplo está transcrito e reproduzido.

Campaña para evitar el dengue

(...) También se recomienda a quien viajen a paises en los que el virus del dengue está muy extendido se protejan de las picaduras y al regresar vayan de inmediato a un médico para someterse a un control preventivo. (...)

De donde proviene

asta ahora la infección ingresaba al pais por pacientes provenientes de Paraguay, Bolivia y Brasil. Pero ya se ha detectado casos autóctonos. (O Jornal de Uruguaiana, 18/novembro/2000 - Intercâmbio - El Interior, p. 17).

O texto apresenta-se de modo "ameno" em comparação com os outros dois. Note-se que sua veiculação ocorre no mês de dezembro, prevenindo os turistas que se deslocam para o Brasil (principalmente para os que cruzam a fronteira por via terrestre), para uma doença que ocorre em países como o Brasil. Não há discriminação a Uruguaiana até porque não é uma região propícia para o mosquito responsável pela disseminação da doença. Sendo assim, nada melhor do que tratar os sujeitos de modo diferenciados, os brasileiros e os de outras nações que não os argentinos.

Jurisdicciones superpuestas

La policía brasileña detiene a un argentino en territorio ... argentino

El Mercosur ha dejado superposición de jurisdicciones y vacíos legales que deverán ser revisados por algún tribunal. Mientras tanto, pueden ocurrir hechos que podrán derivar en incidentes.

La insólita actitud de personal de Gendarmería ubicada en la cabecera del Puente Internacional que une las ciudades de Paso de los Libres y Uruguayana, volvió a poner en duda la seguridad que esta Fuerza, como otras, brindan a los habitantes, sobre todo a la hora de defender sus derechos y soberania nacional.

(...) Aunque pide a un taxista amigo que vaya hasta su domicilio a buscar el comprobante, el policial que dirige el operativo (reconocido como 'apretador' y 'coimero') y perteneciente a la 'Policía Rodoviária', comieza a intimidarlo y amenazerlo.

(...) La policia brasileña lo sigue, com sirenas y luces encendidas. El supuesto infrator llega a la aduana de Paso de Los Libres, seguido por las fuerzas policiales - con armas en la cintura, cosa que no pueden hacer - comenzando una discusión porque los brasileños lo querían llevar detenido.

(...) Según los gendarmes, consultado el Juez Oliva, éste 'les informa por teléfono que deben entregarlo, porque según el Tratado de Recife, Art. 30, se extiende la jurisdiccion de la policia brasileña y tenían derecho a detener al fugitivo'.

(...) Tratados Internacionales

Una alta fuente del Juzgado Federal de Paso de los Libres, explicó que 'cuando se firmaron los tratados correspondientes al Mercosur (sic), quedaron algunos vacíos legales que no se tuvieron en cuenta'.

(...) Por outra parte, informaron que a partir de Tratado de Recife, com el sistema de aduanas integradas, se ha ampliado las jurisdicciones de ambas policías, las que llegan hasta el local primario aduaneiro. La misma fuente afirma que tanto la Gendarmería como la Policía Rodoviária tiene jurisdicción sobre el puente hasta el 'edificio de la aduana'.

¿Y La Soberania?

A esta altura del relato, y más allá de la infracción que haya cometido el argentino en Uruguayana, la pregunta surge de inmediato: ¿Cómo es posible que Gendarmería Nacional, cuya obligación es defender la soberanía argentina, acepte plácidamente que la policía brasileña ingrese a nuestro território en busca de un ciudadano argentino? ¿No es esto una violación a los derechos internacionales? ¿No debió haberse dado participación al Juzgado Federal?

(...) De outra manera, además de todo lo que se está resignando en estos momentos de crisis, inexorablemente también se perderá la soberanía (O Jornal de Uruguaiana, 02/dezembro/2000 - Intercâmbio - El Interior/ Paso de Los Libres, p. 16).

Figura 7 - O Jornal de Uruguaiana, 02/dez/2000 - Intercâmbio El Interior, p. 16.

Protesta

El paro de la CGT

Los sindicalistas presentaron en sociedad una propuesta alternativa de veinte puntos. Adhirieron más de quinientas personas.

(...) En lo que hace a nuestra zona específicamente hablamos de los inconvenientes del Mercosur, de um Sistema María o MIC/DTa que está cuestionado y que nos ha quitado muchas fuentes de trabajo. Aquí había mucha gente se ganando la vida en lo que hacía al comercio exterior, estibaje, muchas familias vivían de ello, pero con este contrabando organizado que es el Sistema María, eso se ha acabado y la cosa es de puerta a puerta. Como eso, los créditos que necesitan nuestros empresarios, las reglas de juego parejas que exigen nuestros comerciantes de estas ciudades fronterizas que no pueden competir com Brasil, y otros'.

(...) Con relación al acatamiento por parte de los camioneros, Cetina dijo que 'sabemos que hubo un alto acatamiento y a esto se le suma lo que la aduana paró toda su actividad. Esto significa que en este paso fronterizo no hubo actividad hoy (O Jornal de Uruguaiana, 02/dezembro/2000 - Intercâmbio - El Interior, p. 17) Acompanham a matéria 3 fotos, uma delas mostrando um a extensa fila de caminhões cuja legenda diz: "Ruta 227 - El paro realizado por personal de Aduana provocó largas colas de camiones".

O segundo texto em espanhol trata de um acontecimento bastante delicado para a região: um argentino preso pela polícia brasileira em território argentino. Sem dúvida alguma este tipo de situação pode causar um incidentes com proporções diplomáticas envolvendo os governos federais de ambos os países. O tema é utilizado para discutir questões como Mercosul, que deixaram vácuos problemáticos para os fronteiriços, e a soberania nacional, posta em risco em situações como essa. Critica a postura das polícias argentina - que desconhece o que faz e recorre a "leis" para justificar o acontecido - e brasileira nos espaços fronteiriços, denominando um policial brasileiro como reconhecidamente um 'apretador' (expressão utilizada figurativamente para designar mesquinho, miserável) e 'coimero' (dono de casa de jogo) que ameaça e intimida, atravessa a fronteira armado na captura de um "suposto" infrator. O texto é construído em forma de narrativa, ampliando o imaginário do leitor. O terceiro e último texto do bloco trata de uma paralisação ocorrida no território argentino. O relato é aproveitado para criticar o MERCOSUL e o comércio realizado pelos fronteiriços, denominado no texto de "contrabando organizado" e "Sistema Maria". A disputa entre os caminhoneiros (questão delicada para a Argentina, pois há um grande número de caminhoneiros brasileiros circulando pelo território argentino) é também trazida pelo texto, que joga a responsabilidade das dificuldades vividas por aquele povo para outros mais distantes, os brasileiros e não os uruguaianenses, vizinhos fronteiriços. Desta forma, o jornal evita o confronto direto, mas alerta o leitor para a questão envolvendo os povos de ambos os lados da Ponte Internacional é tensa.

b) El Interior

Vibrante pelea

Empató Juan Manuel Escalante

El juvenil Juan Manuel Escalante empató la noche del viernes com el brasilero Carlos Chavez, manteniendo viva la esperanza boxísta mercedeña. También se desarrollaron diversos combates entre púgiles locales.

El pasado vierne 13 por la noche en el gimnasio de la escuela Normal M. F. Mantilla de esta ciudad, la esperanza mercedeña, el juvenil, Juan Manuel Escalante empató en cinco round con el brasilero Carlos Chavez. La velada boxísta de nivel internacional, se realizó bajo una importante afluencia de público, y fué organizado por el gimnasio 'Carlos Monzón', que es dirigido por Caralino Escalante. (...)

Y en la última, la que toda la afición esperaba, una de las esperanzas, del boxe mercedeño, El campeon argentino juvenil JUAN MANUEL ESCALANTE, se enfrento a un boxeador del vecino pais del Brasil CARLOS CHAVEZ, apodado 'el relampago negro del Brasil', este combate se desarrolo a 5 round de 2X1, donde el intercambio de golpes permanente hizo sentir el aliento de los presentes en el paraninfo boxístico. Una pelea pareja en donde ambos boxeadores pusieron todo de sí para mostrar sus poderios. (El Interior, 17/out/2000 - Deportes - p. 16).

Nesta matéria, de cunho esportivo, a competição realizada em uma cidade argentina fronteiriça conta com a participação de dois atletas, um deles proveniente da cidade uruguaia vizinha Mercedes e o outro proveniente do outro país, o Brasil. Mesmo sabendo-se que o território deste outro país inicia ao atravessar a Ponte, e mesmo considerando o evento como local, em se tratando de confronto, torna-se mais recomendável para o veículo criar um certo distanciamento entre os envolvidos, diluindo assim uma situação desagradável para os leitores brasileiros do periódico. Até mesmo porque o "relâmpago negro do Brasil" não fez mais do que empatar com o competidor argentino.

Cien años de historia...

Pasado, presente y futuro

Curuzú Cuatiá se hizo de a caballo, como la Patría. Y fue protagonista de la historia de la Provícnida y de la joven Nación que surgió orgullosa a la faz de la tierra y en el concierto de los pueblos. Algún ignoto curuzucuateño peleó en las invasiones inglesas y formó parte de la tropa libertadora del General San Martín. Algún curuzucuateño empuñó el sable y la pluma para escribir con Artigas las mejores páginas de la vocación libertaria de la tierra guaraní. Curuzú fue presa de los Portugueses coloniales em 1911 y supo sacudirse el yugo de los 'bandeirantes' con la única ayuda de las lanzas guaraníes comandadas por el 'indio' Andresito; personage discriminado en su época y borrado de la história, al punto de que no figura en ella. Ninguna humilde praza lleva su nombre, ninguna calle perpetúa la gesta de ese hombre que permitió que los curuzucuateños, siguiéramos hablando en castellano. (El Interior, 15/out/2000 - Curuzu Cuatiá - Locales - p. 09).

O trecho acima faz parte de um texto longo que prossegue ressaltando os feitor dos argentinos naturais de Curuzu Cuatiá como a participação na Guerra das Malvinas, conflito travado entre Argentina e Inglaterra nas águas geladas ao sul do continente latino-americano. No decorrer do texto, é destacada a dimensão territorial do Departamento, a capacidade de produção que possuía há anos atrás e encerra questionando a situação precária em que vivem estes homens fronteiriços nos dias de hoje, conseqüência da crise por que passa todo o país.

O relato histórico utilizado neste exemplo serve para atingir a memória coletiva do curuzucuateño. No início, seus heróis como San Martín e Andresito, são chamados a cena. Personagens que sofreram nas mãos dos portugueses e bandeirantes. Através deste mecanismo, vem à tona a lembrança de que os habitantes daquele espaço do território argentino tiveram confrontos com os habitantes do lado de cá, trazendo para o presente - e lançando para o futuro - este tipo de reflexão envolvendo os de cá e os de lá de modo sutil. Através deste procedimento, vai ficando gravada a idéia de rivalidade entre os dois povos, fazendo com que não seja permitido ao homem fronteiriço esquecer que já ocorreram desavenças entre os povos que vivem nos diferentes lados da fronteira. Por meio da narrativa, a legitimação torna-se um modo de operação, tratando do presente sem perder a noção histórica da relação, fazendo com este tipo de relacionamento possa ser compreendido como parte integrante de uma tradição eterna e aceitável. Por isso, é sempre bom relembrar este tipo de acontecimento para que a relação com os "vizinhos" seja estabelecida com certas precauções.

c) A Platéia

Duas temáticas chamam atenção neste item. Uma delas vinculada às questões policiais e outra ao setor agropecuário onde o foco é a aftosa.

Ladrão de veículo preso em flagrante

O Policial Militar, Valfrido, compareceu no Centro de Operações da Polícia Civil, para apresentar o preso em flagrante, Ronei Teixeira Rodrigues, residente na Rua Vicente Ilha de Vargas, s/n, bairro Prado...

(...) De acordo como o policial, Ronei não estava atuando sozinho, tinha o mesmo a companhia de outro indivíduo de nacionalidade uruguaia, o qual conseguiu fugir do local.

Juntamente com o preso em flagrante foi encontrado um rádio AM/FM, o qual afirma ser de seu companheiro uruguaio.

Foi feito o auto de constatação de furto qualificado. (A Platéia, 11/agosto/2000 - p. 21).

Foragido da Justiça é preso pela Polícia Civil

O Inspetor Cóssio integrante da equipe de Investigação da Delegacia de Polícia de Livramento, apresentou no Centro de Operações da Polícia Civil, o foragido da Justiça, Arizole Carvalho Corrêa, em razão do cumprimento do mandado de prisão nº 112/95, expedido pelo juiz da vara (...) da comarca de Santa Maria.

O policial informou também que Arizole, identificou-se (...) como sendo Amildo Guedes Braz apresentando uma cédula de Identidade uruguaia.

De acordo com o Delegado (...), o foragido foi encaminhado ao presídio local, e o procedimento de transferência fica a critério do juiz de execução, e a SUSEP (A Platéia, 8/ dezembro/ 2000 - A Platéia Policial -p. 21) - com foto do foragido e legenda explicativa.

Estrangeiros poderão ser multados a partir de novembro

A impunidade dos motoristas estrangeiros infratores está com os dias contados no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) e os departamentos estaduais de trânsito (Detrans) dos três Estados vão aplicar e cobrar, a partir de novembro, multas dos condutores de outras nacionalidades que descumprirem o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). No Rio Grande do Sul, o Detran vai cobrar ainda as 1,8 mil infrações cometidas no ano passado.

O cerco dos hermanos (sic) infratores vai ocorrer de duas formas. (...) O turista será orientado a acertar as contas com a lei em determinados postos da PRF espalhados na fronteira. Ele só poderá sair do Brasil após quitar a dívida. Caso o turista se negue a pagar a multa, o veículo ficará retido. A retirada só será aceita mediante o pagamento da dívida.

A atuação dos policiais federais, porém, será mais enérgica. Eles deverão encaminhar o motorista até uma agência bancária para o pagamento da multa ou executarão a cobrança no local da infração. Isso porque uma decisão da Justiça Federal não só autoriza a cobrança de estrangeiros como exige que seja feita no ato da autuação. (A Platéia, 20/ outubro/ 2000 - Seção A Platéia Nacional - p.9)

No primeiro exemplo, o texto descreve a prisão em flagrante de um cidadão brasileiro, morador de Santana do Livramento. De acordo o jornal, este indivíduo estava acompanhado de outro, um uruguaio. O que vale salientar é que, como já vimos em outros casos, muitos são os moradores locais que possuem dupla cidadania. Pois bem, assim como o santanense poderia também ser cidadão uruguaio a possibilidade de o outro envolvido também ser um cidadão brasileiro não pode ser descartada. No entanto, o que foi relatado é que o brasileiro estava com a "má companhia" de um uruguaio.

Situação semelhante é apresentada no segundo texto. Neste exemplo, o cidadão é descrito como um uruguaio. Ora, se é fronteiriço, talvez também tenha origem brasileira, mas, para a ocasião, o tratamento dado ao acusado é de que ele não é um brasileiro. O homem é considerado como um delinqüente estrangeiro, no entanto seu mandado de prisão partiu de um juiz brasileiro. O que deveria se configurar em um incidente internacional é tratado como local/ regional e o indivíduo é um foragido da justiça brasileira. De qualquer modo, neste caso, fica destacado que quem cometeu o delito foi um uruguaio, cidadão do país vizinho.

No terceiro texto, os fronteiriços de Rivera e cidades uruguaias ao redor são incluídos nas categorias de estrangeiros, de turistas, de "hermanos". Estes indivíduos ficavam, segundo a posição apresentada por A Platéia, impunes ao cometerem infrações no trânsito, desrespeitando o Código Brasileiro.

Uma observação importante, nesta matéria, é o fato de ela estar colocada na sessão Nacional - espaço este que, anteriormente, não era discriminado no veículo. Percebe-se que poucas foram as vezes em que o riverense foi tratado como "hermano", mas neste caso isto acontece. Pode-se atribuir esta denominação, talvez, ao fato de o texto estar sendo reproduzido a partir de uma informação vinda da Agência Nacional de Notícias que alimenta o periódico, onde o tratamento dado aos uruguaios e aos argentinos vai bem nesta direção - turistas, estrangeiros, "hermanos" - diferente do tratamento dado normalmente pela comunidade e pelos profissionais da mídia local.

Movimento semelhante é realizado pela sessão de A Platéia em espanhol. Só que o jornalista uruguaio responsável pela produção deste material traz para as páginas do periódico as palavras, o clamor de um leitor que solicita o reforço no contingente policial uruguaio na fronteira. Tal reivindicação é ratificada pelo jornalista, que destaca o fato de isto ser importante para lutar contra a delinqüência que ocorre na fronteira com o Brasil. Vejamos a matéria.

La Policia de Ayer

El estimado lector Héctor Suárez García, nos remitió una interesante nota, cuya colaboración mucho agradecemos y que está relacionando con las labores policiales en nuestra frontera. (...)

En tal sentido, los departamentos fronterizos com Brasil, especificamente Rivera, por su frontera terrestre tendría que tener un caudal superior al actual, que es totalmente insuficiente. Sólo la buena voluntad del reducido plantel policial, con el heróico sacrificio que ello representa han permitido logros de importancia en la lucha contra la delincuencia (A Platéia, 20/ outubro/ 2000 - Caderno A Platéia en Español - Coluna El Mirador de Próspero, assinada por Martin Correa - p.14)

Nos exemplos que seguem, o ponto tratado é a febre aftosa.

Batlle preocupado con la aftosa en Rio Grande

El presidente de la República, Jorge Batlle, llamó a defender la frontera frente a los casos de aftosa en la región.

'Es vital que todos cuidemos las fronteras. Hace siete años que Uruguay esta libre de aftosa. Es un capital valiosísimo que da al Uruguay, como la tuvo al principio de este proceso, una preferencia de acceso a los mercados, y esto lo tenemos que cuidar como la niña de nuestros ojos', sañaló el primer mandatario.

Mientras el presidente realizaba estos comentarios se informó que la Organización Panamericana de la Salud (OPS), comunicaba desde Estados Unidos que Bolivia, Brasil, Paraguay y Uruguay se declararon en estado de alerta, y mantendrán un mayor control fronterizo y restricciones a las importaciones, para evitar la propagación de la fiebre Aftosa en sus territórios. (A Platéia, 07-08/setembro/2000 - p. 07).

Todo tiempo pasado fue mejor

El célebre Jorge Manrique, dijo 'Todo tiempo pasado fue mejor' y a medida que transcurre el tiempo parece que en realidad siegue teniendo mucha razón.

Según nos recordaba el productor Arigoni, años atrás, cuando aparecían brotes de aftosa, se tomaban precauciones e inmediatamente se vacunava.

...Según lo estiman los veterinarios y profesionales que analizan estas instancias, el virus puede agregarse a la suela de un zapato y cruzar la extensa franja de frontera sin que nadie pueda detectarlo (A Platéia, 10/ setembro/ 2000 - p.41) Coluna El mirador Próspero, dentro de um boxe, onde, ao final do texto, acompanha a foto do responsável pela coluna.

Percebe-se que, nos dois textos veiculados nas páginas de A Platéia destinadas ao material escrito em espanhol, a reivindicação gira em torno da preocupação com o contágio da febre aftosa nos rebanhos uruguaio. Nestes exemplos, em nenhum momento, a questão é tratada como ocorrendo nas zonas rurais de Rivera-Livramento onde as fazendas da região situam-se em terras onde as próprias divisas nacionais ficam confusas. O assunto é tratado no sentido de deixar claro que o problema deles - brasileiros, gaúchos, santanenses - pode atingir a todos. - uruguaios, riverenses. Neste caso, há uma distinção entre nós os daqui e eles os de lá já que a situação é delicada e precisa ser tratada com cautela, sem que a tensão seja reforçada o que não quer dizer que os jornalistas uruguaios irão ignorar a problemática e a apreensão certamente vivida pelos agropecuaristas que possuem terras e rebanhos do lado uruguaio. Pode ser constatado que o resgate histórico também é manejado no texto, lembrando ao leitor que "todo tiempo pasado fue mejor", época em que eram tomadas atitudes para impedir que os estragos proporcionados pela febre aftosa atingissem os rebanhos uruguaios.

Atrações artísticas atraíram público à praça General Osório

O Movimento Tradicionalista de Sant'Ana do Livramento MTSL e o Galpão O Uirapuru realizaram em parceria, no último domingo, dentro da programação da Semana Farroupilha, uma mateada (sic) com shows artísticos e bailados (sic), na praça General Osório. O Objetivo foi proporcionar aos turistas e a (sic) comunidade em geral a oportunidade de participarem deste grande evento tradicionalista.

(...) Também foi constatada a presença de vários turistas argentinos e uruguaios, que apreciaram as apresentações, inclusive registrando as atrações com fotos, para levar como lembrança da Semana Farroupilha. (A Platéia, 20 e 21/ setembro/ 2000 - p.7).

Neste caso, onde a temática é um evento cultural, a discriminação não é tão forte, mas ela existe. Como o evento é organizado por duas entidades de Santana do Livramento, ao se referir que o evento foi prestigiado por turistas, o jornal destaca que estes são de nacionalidade argentina e uruguaia, deixando um pouco de lado, o fato da forte relação entre os santanenses e riverenses. O cidadãos de Rivera ficaram ou diluídos na "comunidade em geral", mas sem que isto fique dito, ou passaram a ser incluídos no grupo dos turistas, isto é, os de lá.

d) Norte

Nos dois textos a seguir a temática é o futebol. Um dos clubes recebe a denominação de "Frontera". Quando o veículo se refere à comunidade fronteiriça não há nenhuma menção ao lado brasileiro. A referência é feita à comunidade local, mas só a do lado da cidade de Rivera, ou ampliando para a equipe representante da cidade vizinha de Rocha. Os dois times estão ligados ao futebol local, da fronteira, mas só do território uruguaio.

Vestuario com mucha tristeza, hasta de los propios ganadores del partido

Frontera nunca había jugado en Belvedere en toda su vida profisional. (...)

Finalmente, a través de NORTE envió un saludo a toda la gente amiga que dejsó (sic) en nuestra frontera en su etapa en esta ciudad. (Norte, 25/setembro/2000 - Contracapa).

Con muchos problemas de integración se buscará tres puntos impostergables

Recordar el encuentro entre Frontera Rivera y Rocha del Campeonato Apertura provoca una rara sensación agridulce.

En primera instancia porque fue el último encuentro que el equipo riverense disputo con la conducción técnica de Gerardo Pelusso y porque fue uno de los mejores partidos jugados por Frontera en la presente temporada.

(...) Frontera viene de muy malos resultados y algunas malas presentaciones, Rocha está en la última posición del certamen pero a un sólo punto de los rojos.

(...) Frontera llega con muchos problemas a la disputa de este encuentro.

(...) De todas maneras hay que convenir que jugar ante Nacional por la última posición de torneo.

(...) No hay competencia de aficionados, no hay actividad por el fútbol local, razón por la cual es una buena oportunidad para acompañar a Frontera (...) (Norte, 30/setembro/2000 - Contracapa).

No exemplo seguinte a situação é mais delicada. A questão envolve trabalhadores brasileiros ilegais atuando nas fazendas uruguaias. Provavelmente alguns destes trabalhadores sejam santanenses ou dos arredores, mas para evitar o conflito recebem a denominação de brasileiros, distintos dos uruguaios ou dos fronteiriços. O texto, além de denunciar o trabalho ilegal destes indivíduos em terras uruguaias, destaca que o procedimento adotado pelo grupo é diferenciado daquele aplicado pelos trabalhadores rurais uruguaios que têm preocupação em realizar a tarefa de modo a aproveitar ao máximo a lã, produto uruguaio reconhecidamente de qualidade. Note-se neste caso que o jornal atribui a denúncia aos políticos pertencentes à bancada do Partido Colorado e que o tratamento empregado, "nuestra gente", faz referência apenas aos cidadãos do lado riverense, que ficam ameaçados de perderem postos de trabalho, trabalhadores estes, pessoas distintas e prejudicadas pelos habitantes do país vizinho.

Bancada de la 123 denuncia 'desleal e ilegal competenciade esquiladores brasileños

Com la firma de los ediles José Nolberto Gonzáles y Franklin V. Benavides, la bancada de la agrupación Todo por Rivera, lista 123 del Partido Colorado, denunció y alertó sobre la contratación de trabajadores brasileños en el sector agropecuario, mediante una intervención escrita, ante la Mesa del Legislativo Municipal, donde precisam lo siguiente:

'(...) la grave situación que vive el sector, enfrentando la desleal e ilegal conpetencia de esquiladores brasileños, que han ingresado a realizar tareas en campos riverenses'.

(...) Los brasileños, traen trabajadores de aquel país, a los cual no afilian, (...) trabajan en negro... y no cumplen en lo más mínimo com las leyes de nuestro país. Igualmente se nos dijo que traen inclusive los surtidos de viveres desde el vecino país, no comprando absolutamente nada en los comercios de Rivera. Esta gente, ejerce una competencia totalmente desleal... los brasileños, como no pagan impuesto alguno, ni mucho menos cumplen com pagar lo que es debido a los trabajadores...'

'La segunda repercusión que esta invasión trae, es que en Uruguay, se acondiciona la lana esquilada, lo que trae un benefício agragado a uno de nuestro principales productos, y como en el Brasil, esta práctica no es común, estos esquiladores no realizan. Nos consta, por los años que trabajo en el periodismo rural, que los esquiladores brasileños, no realizan tareas a la par de nuestras empresas, por lo que también creemos que pueden haber allí algunos problemas.'

'Todo esto, además trae aparejado que se vea con preocupación el hecho que nuestra gente pierda fuentes de rabajo (sic), y que no tiene oportunidad recíproca, ya que no pueden trabajar del otro lado de la frontera.'

'Nos llama poderosamente la atención, la actitud de los empresarios rurales, que contratan gende del extranjero, en prejuicio de los uruguayos...'

'Pedimos también que el planteo se pase a las Juntas Departamentales de los departamentos de frontera, para que ellos puedan interesarse en la temática si estos extremos se dan en sus departamentos, y a los senadores ... para que el Parlamento pueda buscar soluciones legales a este tema...' (Norte, 30/setembro/2000 - p. 05)

No próximo texto, o tema tratado é a febre aftosa. O material demonstra a preocupação do veículo em apresentar a problemática que bate à porta dos ruralistas uruguaios. Neste caso, a distinção entre o nós e o eles se faz presente. O nós, uruguaios da região fronteiriça, estamos correndo, o risco de ter a reincidência do vírus no país.

Nota-se que a preocupação se dá pelo ingresso de produtos de origem animal provenientes do Brasil e da Argentina. Fica colocado aqui a distinção entre o nós e o eles sendo que do segundo grupo fazem parte Brasil e Argentina, países onde o vírus está se proliferando, colocando em risco as regiões fronteiriças uruguaias, simbolizando o lobo que está a espreita no bosque - travestido de cordeiro - prestes a atacar o rebanho, no caso, o uruguaio.

Juguemos en el Bosque, mientras el lobo está. ¿El lobo está?...

(...) Y así, el mismo día que algún periodista irresponsable emitía la notícia falsa sobre los focos de aftosa en Rivera, cientos de riverenses ya estabamos indignados com la falta de seriedad com la que se maneja un asunto tan delicado. Y es gracias a la eficiencia de los actuales medios de comunicación, que la gran mayoría de los uruguayos ha oído hablar sobre fiebre Aftosa y sus terribles consecuencias para el país en el caso del reingreso del vírus al Uruguay, a punto de que si a ud. Se le preguntara:... ¿se está controlando el ingreso de productos de origen animal y derivados proveniente de Brasil y Argentina?...

(...) Cuidado. El lobo ya está vestido. Y no somos niños. Y esto no es un juego (Norte, 30/setembro/2000 - p. 06).

B) Nós, os daqui mas sem exclui-los

Ainda dentro da categoria nós - "ou brasileiros ou uruguaios ou argentinos" - destacamos a subcategoria onde a ênfase recai para os fronteiriços de um dos lados da linha divisória, mas onde não há destaque no sentido de exclusão do outro. Os textos relatam questões do interesse predominantemente a um dos grupos que compõem a comunidade fronteiriça, mas que, pela ligação entre ambos, pode interessar ou atingir o outro. Vejamos como isto funciona nos textos jornalísticos.

a) O Jornal de Uruguaiana

Nos dois próximos textos extraído de O Jornal, o MERCOSUL atravessa a temática central. No primeiro caso, a entidade que lança a discussão com relação ao transporte de cargas tóxicas pela Ponte Internacional, mas principalmente por usar o Porto Seco de Uruguaiana. Embora o representante da Comissão Binacional de Meio Ambiente seja chamado a dar sua posição, nota-se que a problemática está mais ligada à cidade de Uruguaiana porque ali os caminhões ficam estacionados por mais tempo. Os membros das instituições ouvidas estão ligados ao lado brasileiro: Sindimercosul, Fepam, Defesa Civil de Uruguaiana. E o chamamento para a fiscalização da situação é direcionado aos órgão municipais, estaduais e federais, do lado brasileiro.

No segundo texto, a vinculação dos gaúchos se dá com seus irmãos brasileiros, catarinenses e paranaenses. Desta vez, quem faz parte do grupo são os brasileiros e os interesses destes é que serão defendidos. Como dissemos novamente o MERCOSUL está na pauta, por isso a preocupação em dedicar especial atenção aos estados que estão ligados diretamente com os países que compõem o Bloco. Os olhos estão voltados para as questões que atingem diretamente estes estados e suas economias.

Sindimercosul denuncia risco de tragédia por falta de segurança contra cargas tóxicas em Uruguaiana

Terça-feira, 8h, uma carga de Carbureto de Potássio pega fogo no pátio da EAF (Estação Aduaneira de Fronteira) em Uruguaiana.

(...) Segundo o presidente do Sindimercosul (Sindicato dos Transportadores de Cargas ), José Vanoli Machado, em quatro anos, cerca de três mil e 500 profissionais participaram de cursos na entidade.

(...) Segurança precária

O líder sindical, também integrante de uma comissão que trata sobre o assunto, denuncia que não existe nenhum projeto de segurança contra cargas perigosas e nem área proibida delimitada ao tráfego de caminhões.

(...) Segundo o instrutor autônomo do Senac, Délcio Soares de Carvalho, a estrutura de segurança contra cargas perigosas em Uruguaiana é precária. 'Na Estação Aduaneira de Fronteira não há nenhum sistema de escoamento para produtos tóxicos, em caso de vazamento, e a fiscalização que deveria ser feita por órgãos municipais, estaduais e federais não existe', observa Délcio.

Barril de Pólvora

O presidente da Comissão Binacional de Meio Ambiente Uruguaiana/Paso de los Libres, Juraci Luques Jacques, diz que a área não foi liberada porque não foi aprovada pela Fepam (Fundação Estadual de Proteção Ambiental), embora o processo já tenha sido encaminhado pelas autoridades integrantes da defesa civil (sic) de Uruguaiana há mais de um ano (O Jornal de Uruguaiana, 02/dezembro/2000 - Geral, p. 11)

Desenvolvimento Regional

O deputado federal Augusto Nardes (RS) anuncia o empenho das lideranças no Norte do Rio Grande do Sul, Oeste catarinense e Sudoeste paranaense para a criação de um Fórum, a fim de gerenciar o programa de desenvolvimento da recém definida mesorregião da fronteira do Mercosul que busca promover atividades econômicas sustentáveis, respeitando as características ambientas da mesorregião, desenvolvendo os setores produtivos que atendam às necessidades de melhoria das condições de vida e fortaleçam a economia da população selecionada (O Jornal de Uruguaiana, 22/julho/2000 - Geral, coluna Capital Federal, p. 13)

O que pode ser avaliado nestas duas matérias é que os textos estão dando destaque às comunidades do lado de cá. No entanto, se ocorrer alguma tragédia ambiental envolvendo o derramamento de cargas tóxicas no Rio Uruguai, provavelmente o lado uruguaio será afetado. Do mesmo modo, no segundo exemplo, ao tratar das características ambientais da mesorregião da fronteira, sabe-se que estas características também são peculiares ao lado de lá da linha de divisa e que, pela ligação entre as propriedades rurais fronteiriças, muitas são as fazendas que abrangem terras do lado de cá e do lado de lá. Sendo assim, embora o foco pareça estar centrado somente nos do lado de cá, não há uma exclusão com os envolvidos do lado de lá.

Em alguns textos a referência empregada para os do lado de cá - com destaque para estes - se fixa no uso da expressão "Fronteira Oeste", ou seja nós, do lado de cá, do oeste gaúcho. Vejamos:

Nova cultivar Irga 421 é apresentada aos arrozeiros da Fronteira Oeste

Cerca de 150 produtores da Fronteira Oeste participaram quinta-feira do Dia do Campo, organizado pelo Instituto Riograndense do Arroz (Irga), Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana , PUC e Fepagro [Centro de Pesquisa de Sistemas Agropecuários Integrados]. (...) O Presidente da Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana, Walter Arns, destaca que a cultivar é uma variedade precoce (...) (O Jornal de Uruguaiana, 04/março/2002 - Agro, p. 18).

Vitivinicultura será um dos temas do VIII Seminário Agronômico

Programa

(...) Vitivinicultura: perspectivas para a Fronteira Oeste

(...) Irrigação via Pivôt Central da Fronteira Oeste (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000, p. 20).

Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul - JIRGS

(...) disputada nos naipes masculino e feminino que contou com a participação de dez cidades na região da Campanha e Fronteira Oeste (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000 - Esporte, p. 19)

Nos três exemplos, acima a expressão Fronteira Oeste é empregada. Em um deles referindo-se aos produtores de arroz, em outro para falar sobre seminário de agronomia e um terceiro para tratar de um campeonato esportivo, envolvendo participantes da Região da Campanha e Oeste Gaúcho. Nestes casos, no espaço fronteiriço só está sendo tratado como o lado de cá. Aqui há a tendência de se estabelecer um processo de exclusão ou de separação entre um lado e outro da linha divisória embora a questão do arroz e até da vitivinicultura possa interessar a produtores de toda a região. Os eventos são direcionados, a princípio, só para os gaúchos cujas entidades envolvidas defendem os interesses dos de cá. Entretanto, como já foi falado anteriormente, muitos dos produtores brasileiros possuem terras que ultrapassam a divisa, assim como produtores argentinos e uruguaios possuem propriedades que invadem terras brasileiras.

b) El Interior

Hotel de turismo

Serás lo que debas ser...

El gobierno militar la constuyó, pelo hasta el momento nadie lo puso en funcionamiento.

Enclavada a las márgenes del río Uruguay, en un lugar estratégico de la ribera montecasereña, la obra inconclusa del Hotel Turismo, encierra una história cargada de rumores diferentes, pero que hasta el día de hoy se mantienen dentro, de un mosaíco de comentarios domésticos, que ni siquiera ya buscan respuestas y soluciones contundentes al tema.

Construído durante el gobierno militar, para aprovechar y fijar una política agresiva en materia turística en esta zona de excelencia, por su ubicación fronteriza, la moderna obra que ya consumió más de 20 años de edad, es custodiada en estos momentos por la municipalidad local.

Lo que se habría construido para albergar turistas, terminó siendo un refugio esporádico de delegaciones deportivas, y de algún, que outro contingente que aprovechava sus instalaciones quando llegavam a Monte Caseros a participar de congresos o eventos sociales.

(...) Com el tiempo un empréstimo, se convirtió en los fondos para su refacción. Parecía que la obra iba a inaugurarse y por fin Monte Casero tendría un lugar de hospedaje de privilegio para aquellos amantes del río, del sol y de los carnavales. (El Interior, 15/out/2000 - Monte Caseros - Política - p. 14).

O texto, ao retratar a situação de um hotel local, apresenta a região como estratégica, de excelência na área de turismo porque além de estar situada às margens de um rio, é espaço fronteiriço. O jornal permite-se deixando no ar, nas entrelinhas, a ausência de dados e comentários maiores, abre a possibilidade de o leitor exercitar sua imaginação e interpretação com relação aos acontecimentos que se desenrolaram naquele espaço há tempos atrás, os quais impediram a conclusão da obra. O clamor em favor do hotel pode ser entendido pelo fato de a região ser território de passagem de turistas argentinos que se deslocam para o litoral do Rio Grande do Sul e Santa Catarina nos meses de férias de verão, hospedando-se do lado brasileiro que já possui uma infra-estrutura melhor no ramo da hotelaria. A possibilidade de o hotel entrar em funcionamento deixa nas entrelinhas que ali, na região de Monte Caseros, a economia com o turismo de argentinos - e porque não também de brasileiros - poderia receber incrementos. No texto, o assunto gira em torno dos interesses dos habitantes do lado argentino o que não descarta a participação dos cidadãos brasileiros no sentido de desfrutar dos serviços que o hotel possa vir a oferecer.

c) A Platéia

Nos textos seguintes o setor envolvido é o do esporte.

Santanenses intensificam preparação a um mês da abertura da Copa Fronteira

O Grêmio Esportivo Santanense viveu um início de temporada movimentado e já se prepara para a sua segunda competição regional no ano 2000, a Copa Fronteira de Futebol.

(...) os santanenses já têm seu grupo de jogadores totalmente definido para a disputa do torneio que reúne clubes profissionais de sete outras cidades da Fronteira-Oeste (A Platéia, 07/ março/ 2000 - pág. 15) - texto acompanhado de foto com a seguinte legenda: "Goleiro Jairo integra o grupo de atletas que vão disputar a Copa Fronteira".

Campeonato gaúcho de Veloterra começa a ser decidido em Piratini

(...) Os pilotos da Fronteira viajaram para a cidade de Piratini confiantes num bom desempenho e dispostos a conquistarem os pontos que os levarão para as últimas duas provas do ano em condições de serem campeões. Este é o caso específico de dois pilotos santanenses. (...) A conquista de pontos também é o objetivo dos demais pilotos da Fronteira que brigam pelas primeiras posições (...) Os pilotos da Fronteira aproveitaram o feriado de sexta-feira para desenvolver os últimos treinos na pista do Lago Batuva (A Platéia, 10/ setembro/ 2000 - p. 46).

Equipe militar prestigia evento do 3º B Log

Com alto nível transcorreu a 2ª Rústica de Aniversário do 3º B Log de Bagé, do qual participaram 285 atletas, com destaque para a equipe de Livramento, que representou a cidade nessa competição de atletismo. As colocações da equipe local (foto) foram as seguintes... fica além das vitórias individuais, o espírito de grupo por parte dos militares locais. (A Platéia, 20 e 21/ setembro/ 2000 - p.31). Acompanha foto com legenda: "Equipe que foi a Bagé, presente no torneio do B Log".

Nos exemplos citados, a ênfase é dada aos esportes e aos atletas santanenses. Estes são tratados como participantes de equipes locais e os eventos são denominados como da Fronteira Oeste ou Gaúchos. Mas como já verificamos em tantos outros momentos, estes esportistas, naturais da fronteira, são em uma boa quantidade, cidadãos com dupla nacionalidade, podendo participar de disputas realizadas aqui e lá, do outro lado da divisa. Do mesmo modo, nas competições envolvendo times de futebol da região, não é relevante saber se o jogador é mais brasileiro ou mais uruguaio, podendo este competir em eventos cuja vinculação se dá com o lado de cá ou com o lado de lá. Ao tratar o tema desta forma não há necessariamente uma posição de exclusão do outro, sabendo-se das interrelações que são estabelecidas na comunidade local.

Mecanismo parecido é acionado quando a temática está voltada para a cultura.

Programação da Semana Farroupilha do CTG Fronteira Aberta

14/09 - Quinta-feira

09:15h - Casereada do CTG Fronteira Aberta no Galpão da Praça General Osório

10:00h Recepção aos cavalarianos, chegada da chama crioula.

- Hasteamento dos pavilhões com execução dos Hinos Nacionais e Riograndense

- Locução de abertura

- Acendimento do fogo de chão

(...) 20/09 - Quarta-feira

9:00h Participação do CTG Fronteira Aberta no desfile

12:00h Almoço de confraternização dos participantes do desfile na sede campeira

18:00h Arriamento dos pavilhões e extinção da chama crioula

22:00h Grande Baile de encerramento da Semana Farroupilha 2000... (A Platéia, 07-08/setembro/2000 - p. 25) - Com foto da fachada da sede do CTG, sem legenda.

Raízes da Fronteira

O Grupo de Danças Raízes da Fronteira do Clube Cruzeiro do Sul, em comemoração a Semana Farroupilha, promoverá no dia 17 de setembro, a partir das 15h, a 'I Mostra de Danças', da qual participarão os grupos de dança dos CTG e entidades ligadas ao tradicionalismo de Livramento (A Platéia, 10/setembro/2000 - Coluna Clube Cruzeiro do Sul - p. 04).

Caposan solicita apoio da senadora Emília Fernandes

A Casa do Poeta Santanense - Caposan, através de sua presidente Amarina Prado, enviou uma correspondência, por intermédio do vereador João Maria Nogueira de Moura, à senadora Emília Fernandes solicitando a colaboração da parlamentar para o lançamento do CD 'Vozes da Fronteira', cujo custo está estimado em R$ 5,00 a unidade.

O 'Vozes da Fronteira' trata-se de um CD gravado em duas vozes (uma declamadora feminina e um masculino), com fundo musical de violão executado pelo renomado professor Eliécer Castro. Este CD terá capa alusiva ao Parque Internacional.

'Acreditamos que esta iniciativa terá voa receptividade por tratar-se de um brinde de baixo custo e alta qualidade, além do que, oportunizará a divulgação de nossos valores e do aspecto geográfico de nossa fronteira', salientou Amarina Prado. (A Platéia, 20/ outubro/ 2000 - Seção A Platéia Acontecimentos - p. 7) - Acompanha foto da capa do CD (Parque Internacional, com as bandeiras do Brasil e do Uruguai tremulando) com a legenda: "Capa do CD Vozes da Fronteira".

Nestes três últimos textos podemos verificar que o destaque é dado para os habitantes do lado de cá, mas não necessariamente excluindo os de lá. No primeiro texto, fica destacado que os hinos a serem entoados serão o do Rio Grande do Sul e o Nacional, no caso o Brasileiro; no segundo a ênfase fica para o dado "entidades ligadas ao tradicionalismo de Livramento"; no terceiro o pedido de auxílio feito pela entidade, que no nome carrega a expressão "santanense", é direcionado a uma senadora brasileira. Porém, em nenhum dos casos é possível dizer que os habitantes do lado de lá estão excluídos. Por tudo que já foi dito, quando a questão é ligada ao Campo da Cultura, em especial à gaúcha e à fronteiriça, os enlaces se dão naturalmente e talvez por isso mesmo não seja necessário, ou conveniente, no momento específico, mencionar este entrelaçamento. O importante é não dar destaque à exclusão e sim deixar que a relação fique dita indiretamente.

Viajar pelo Rio Grande é trilegal, tchê!

Foi um sucesso a palestra com jantar promovida pelo Galpão Guascas do Caverá, no dia 17/09/00, onde o palestrante Atílio Ibargoyen (Fazenda Palomas) abordou o tema: 'Tradicionalismo e Turismo', com vídeos mostrando as belezas do Rio Grande do Sul, onde a Secretaria de Turismo do Estado prioriza a figura do gaúcho.

Vale lembrar, que nosso município apesar de promover um dos eventos mais prestigiados e grandiosos como a Semana Farroupilha, não consta no Calendário de Eventos do RG (2º semestre).

Precisamos mudar essa posição, acreditando e explorando os potenciais turísticos da nossa fronteira (A Platéia, 20 e 21/ setembro/ 2000 - p.7) Acompanha o texto, duas fotos com legenda explicativa.

Neste texto, o apelo é para o turismo gaúcho. Só que, ao tratar do turismo nos espaços de fronteira, fica o destaque feito, mesmo que não claramente, às peculiaridades dos espaços de ligação entre dois países, entre dois povos que cultivam as tradições gaúchas, subentendido na afirmativa "potenciais turísticos da nossa fronteira". Vale destacar que há momentos propícios, em que a situação cambial é favorável para a moeda brasileira, criando a oportunidade para o turista gaúcho visitar Livramento já que, ao atravessar a rua, ele pode desfrutar dos free shoppings localizados no lado uruguaio.

Recuperar la luz en el Parque Internacional es fundamental ya que se viene el verano

Sigue preocupando la falta de luz en el Parque Internacional, el cual ya ha sufrido una importante transformación, com la limpieza y corte de arbustos, pero que aún no está apto para se devuelto a las familias de la frontera.

La fotografía ilustra el pésimo estado en que los vándalos, han dejado las luminarias del lado uruguayo.

(...) No bastante el parque Internacional está bordeado por un bueno número de trailers y gente que trabaja en él como cambistas, etc (A Platéia, 8/ dezembro/ 2000 - A Platéia en Español - p. 11) - Acompanha foto de luminárias do Parque e legenda: "Vergonozo estado presentan las luminarias del lado uruguayo del parte internacinal. La foto es elocuente. No hay un globo ni una lamparilla sana."

Neste material extraído de A Platéia en Español, a questão está voltada para o descaso dos governantes uruguaios com relação ao Parque Internacional. Como o destino no texto deduz-se que sejam os riverenses, a cobrança é feita para as autoridades uruguaias. Entretanto, o recado pode ser estendido - e entendido - para as autoridades santanenses e brasileiras, responsáveis pela manutenção do Parque do lado brasileiro. Usando da artimanha de direcionar a reclamação para seus compatriotas, o jornalista uruguaio aproveita as páginas de A Platéia para lembrar que o Parque é de responsabilidade e do interesse de ambos os lados. Desta forma, podemos dizer que, através de um processo de exclusão, o texto realiza o movimento inverso, de inclusão, mesmo que isto se dê de forma indireta, e favorável no sentido de elogiar o tratamento que o Parque vem recebendo no lado brasileiro.

Operação Papai Noel, da Brigada Militar

(...) O objetivo da operação Papai Noel, é reforçar e dar uma maior ênfase ao policiamento nas áreas comerciais de todas as cidades do estado.

Em nossa cidade a área comercial, já é uma privilegiada em termos de recursos humanos, pois é entendida pela Brigada Militar como área principal de comércio. (...)

Atuando nestas áreas a Brigada Militar, tem o efetivo do Parque Internacional, a patrulha de resposta rápida que trabalha motorizada, no combate direto da ocorrência, e nesta área a grande vedete também da Brigada Militar a Patrulha Comercial, que faz o trabalho mais voltado para a prevenção. (A Platéia, 8/ dezembro/ 2000 - A Platéia Policial - p. 21) - Texto em um boxe, com foto de dois brigadianos ao lado do Papai Noel com legenda explicativa.

Vê-se que, nesta matéria, o foco é o policiamento realizado pela Brigada Militar, entidade gaúcha, responsável pela segurança do Parque Internacional do lado brasileiro. Como comentou-se em outros exemplos, o espaço onde está localizado o Parque é bastante central no que diz respeito ao comércio da região. Por ali transitam brasileiros e uruguaios para adquirirem produtos de consumo doméstico diariamente. Este movimento intensifica-se nos períodos em que há festividades como acontece no Natal, época onde as vendas são estimuladas pelo setor comercial. Por isso, ao referir-se ao policiamento da área, a abrangência da ação atinge tanto a brasileiros como a uruguaios que circulam normalmente nas ruas próximas a linha divisória. Verifica-se, assim, uma articulação de inclusão se que necessariamente isso seja dito.

d) Norte

Día del Patrimonio: concurso 'Memorias' de la Agrupación Universitaria

En el marco del Día del Patrimonio a celebrarse el sábado 14 de octubre, la Agrupación Universitaria de Rivera há convocado a participar del concurso 'Memoria' com el propósito de rescatar la memoria colectiva de la comunidad con el relevamiento de documentos y fotografías de interés histórico.

Las condiciones son las seguientes:

1º - Podrán participar de dicho concurso: fotografías, afiches, programas de teatro y conciertos, postales, invitaciones y otros materiales, de real valor histórico que representen la actividad social y cultural de la comunidad fronteriza (...)(Norte, 30/setembro/2000 - p. 08).

O texto que enquadramos nesta subcategoria faz menção à memória do fronteiriço. Como já foi comentado em momentos anteriores, o gancho utilizado aqui para relembrar o que sucedeu na fronteira, envolvendo toda a comunidade local, isto é, os de cá e os de lá, é a memória, o resgate histórico. Embora o concurso esteja direcionado, a princípio, para os riverenses, é provável que, neste evento, muitos dos acontecimentos trazidos envolverão brasileiros, habitantes do município de Livramento e arredores, ou até mesmo cidadão com dupla nacionalidade, situação comum para o fronteiriço. Aqui não há, como ocorre em alguns exemplos de A Platéia, um processo de exclusão e sim um indicativo de inclusão mesmo que "silencioso".

Considerações sobre a categoria analisada

É passada, com freqüência nos textos dos periódicos, a idéia de separação entre os povos fronteiriços, o que não significa necessariamente isolamento e sim interação. Questões ligadas à economia - agropecuária, base da região - tendem a ser tratadas com delicadeza, pois criar uma certa tensão entre as comunidades envolvidas. Para evitar tais conflitos, os jornais, principalmente O Jornal de Uruguaiana e A Platéia, nos textos em português, trazem interlocutores que se manifestam sobre as temáticas mais pesadas amenizando o tom da notícia.

Incidentes policiais são bem mais tensos no espaço Uruguaiana-Libres do que em Rivera-Livramento. El Interior é bem mais severo em seus comentários com relação ao Brasil e aos brasileiros do que O Jornal de Uruguaiana com relação aos argentinos e à Argentina, embora isto também seja realizado pelo jornal uruguaianense. O editor de El Interior utiliza as páginas destinadas ao intercâmbio para "alfinetar" as questões conflitantes que envolvem os brasileiros.

Recorrer à história para refrescar a memória do fronteiriço como têm sido o relacionamento entre os membros da comunidade local é uma das artimanhas empregada pelos veículos, tanto para relembrar que não são tão irmãos assim como também para destacar que a relação pode ser amigável como já ocorreu em outros momentos.

Quando o tema tratado é problemático, a mídia passa a considerar o fronteiriço do outro lado como sendo estrangeiro, turista ou sua nacionalidade é resgatada de modo a inclui-lo no grupo que compõe a sua nação.

Temas ligados à cultura, de modo geral, servem para aproximar os fronteiriços. O mesmo se passa com o esporte, onde competições das mais variadas modalidades são vistas como amigáveis, saudáveis e utilizadas como educativas.

Em algumas ocasiões, em que os fronteiriços são destacados como membros da comunidade que habita o outro lado da linha divisória, os assuntos tratados dizem respeito ao interesse dos moradores da fronteira em geral, o que se passa é um processo de "exclusão amenizado", onde o outro, para não ser totalmente ignorado simplesmente não é citado. Neste caso, uma das expressões empregadas é Fronteira Oeste, ou seja, somente as terras e a população que correspondem ao oeste do Rio Grande do Sul estão envolvidas no assunto em questão.

Nesta categoria, o que ocorre com freqüência é o destaque maior para a nacionalidade das personagens e das instituições: ou brasileiras ou uruguaias ou argentinas.

topo

6.2.2 Nós todos

Nesta categoria, o que percebemos é um movimento de diferenciação, mas no sentido de união. Há o reconhecimento pelo outro como possuidor de uma identidade diferente da do "eu", mas este destaque também serve para ligar os dois grupos em um só: nós todos, os fronteiriços.

O ângulo incide no "somos diferentes", mas essa diferença é menor do que o que nos identifica a todos, que é o fato de sermos da fronteira. A clivagem de divisa é menos importante que outra clivagem que nos distingue dos não-fronteiriços. Há o reconhecimento da presença de elementos fortes que tornam os de cá diferentes dos de lá, mas os aspectos que os colocam em um mesmo grupo recebem destaque de modo a constituir o fronteiriço como um indivíduo diferenciado, pertencente a um grupo capaz de acolher todos os que habitam os espaços que englobam as linhas de divisas nacionais na região.

A) Nós, os de cá mais os de lá

A característica desta subcategoria é a ênfase dada ao fronteiriço como sendo um único grupo, mas desta vez apresentando novamente com destaque o fato de este ser constituído por dois elementos distintos, os de lá mais os de cá reunidos, formando um conjunto diferenciado de outros tantos, ou seja, a comunidade fronteiriça configurando-se como uma comunidade distinta.

Embora todos os jornais que compõem o estudo apresentem esta forma de tratar o homem da fronteira, o que sobressai é o fato de A Platéia tratar a questão do indivíduo da fronteira como um elemento diferenciado dos demais em tantos textos. Ao todo, dentre o material analisado, no jornal santanense, o referido tratamento destinado aos fronteiriços foi registrado 78 vezes. Aqui surge a figura do santanense-riverense como um elemento único, forjado no espaço de divisa entre Brasil-Uruguai, Livramento-Rivera. Fica discriminado que este elemento é a resultante de duas identidades distintas que, ao estarem tão fortemente em contato criaram um terceiro elemento, o fronteiriço.

a) O Jornal de Uruguaiana

Estação

O argentino Hector Rey Mancin, foi até a Estação Rodoviária comprar passagem para Porto Alegre. (...) Por sorte Hector observou de longe que um dos assaltantes trazia uma faca na mão. O argentino deu meia volta (...) (O Jornal de Uruguaiana, 04/março/2000 - Polícia, p. 21)

No caso acima, a designação de argentino é feita no sentido de tentar esclarecer com quem se dava o incidente, também representando o substantivo gentílico. Não são dadas muitas pistas, sendo aquele um espaço de fronteira onde, para a população local, é natural o trânsito destes cidadãos, como já comentamos. A definição funciona para esclarecer que o cidadão é de outra nacionalidade, mas circula por Uruguaiana como qualquer uruguaianense, e aproxima-o dos habitantes brasileiros no sentido de demonstrar que, reconhecendo a situação, poderia ser alvo de um assalto. Além disso, como qualquer brasileiro, o argentino tem a possibilidade de deslocar-se das cidades localizadas na fronteira do Brasil para a capital gaúcha sem maiores implicações na esfera internacional, isto é, têm trânsito livre, pelo menos dentro do Estado do Rio Grande do Sul. Este tipo de matéria, com um cunho policial, onde geralmente consta a informação sobre a profissão do envolvido no acontecimento, tal dado é desprezado. Nota-se que no texto acima o que vale para abrir um diferencial no sujeito é a sua nacionalidade e não a sua ocupação.

Curso de espanhol

(...) os comerciários escolheram o Curso de espanhol devido a necessidade de se comunicarem com os argentinos que freqüentemente visitam a cidade para fazer compras. (O Jornal de Uruguaiana, 13/maio/2000 - Caderno Fim de Semana, p. III).

Já neste texto os argentinos recebem a conotação de visitantes, ou seja, alguém que é bem-vindo. Dirigem-se para Uruguaiana com o intuito de adquirir algum produto brasileiro, isto é, consumidores. Neste caso, eles são bem vistos pelos comerciantes locais já que fazem parte de um grupo importante para a economia da cidade, cujas características e preferências são conhecidas dos comerciários que vêem este grupo composto de bons clientes.

Integração

A partir desta edição, iniciamos um trabalho de integração com nossos 'hermanos' argentinos. O Jornal de Uruguaiana vai chegar inicialmente a 13 municípios do interior da Argentina com duas páginas impressas no jornal El Interior. Em contrapartida, teremos duas páginas contendo as principais notícias daquele diário. (O Jornal de Uruguaiana, 14/outubro/2000 - Sueltos, p.02).

O texto acima traz como título a palavra "Integração", propondo a idéia de contato, interação, de trocas envolvendo o respeito às diferenças e trata o vizinho como irmão. Esta expressão, por si só, carrega o significado da existência de uma relação que prevê a diferença, onde predomina a harmonia, a fraternidade, onde tal posição se dá por escolha de modo a atender as contingências contextuais. Grosso modo, todos os irmãos possuem laços que os unem, marcas em comuns, mas nem sempre a relação predominante é a fraternal, mas neste caso, é esta que prevalece. Temos também que ter em conta não só o interesse de um intercâmbio cultural. Devemos lembrar que, a partir de uma noção de comércio estabelecida entre as cidades envolvidas, este procedimento carrega consigo a possibilidade de ampliação da fatia de mercado. Ao atingir um leitor interessado no que ocorre do outro lado da fronteira, cuja informação é elaborada por alguém que possui uma vivência deste mesmo outro lado, este público-alvo passa a se constituir em parcela importante da população para a qual o jornal se destina, isto é, um novo nicho de consumidor do produto cultural jornal.

Libres passa a ter um novo jornal: El Interior

A cidade vizinha de Paso de Los Libres passa a ter a partir desta segunda-feira mais um jornal em circulação. Trata-se de 'El Interior'.

(...) O jornalista responsável pelo 'El Interior', Daniel Solmoirol, acredita que o jornal diário sendo feito em Libres contendo um número máximo de informações para toda a província de Corrientes, chegando até a capital argentina, Buenos Aires, é um forte indício de que o projeto veio para ficar, o que para ele, significa que no interior as notícias também acontecem (O Jornal de Uruguaiana, 14/outubro/2000 - Geral, p. 09).

o texto acima, O Jornal destaca a novidade de Paso de Los Libres, o jornal El Interior. Esta matéria tem relação direta com a notícia analisada anteriormente, passando a valorizar o convênio firmado entre os dirigentes de ambas as empresas jornalísticas. No trecho, a cidade de Libres é considerada uma vizinha, ressalta a posição desta como interiorana, mas destaca que, mesmo assim, nestas comunidades, as notícias acontecem e merecem repercussão na região e no país, chegando até a capital, Buenos Aires. A um elemento que reforça a relação entre as duas cidades fronteiriças que é esta condição de cidade do interior, fortalecendo a idéia de que o local é o espaço onde se desenrolam importantes acontecimentos e que estes merecem ter destaque em nível regional e nacional. Ao estar utilizando o exemplo do periódico de Libres como um acontecimento relevante para a região, O Jornal de Uruguaiana aproveita para dar destaque a sua situação, valorizando a comunidade da qual faz parte, bem como o seu papel, de veículo de comunicação, assim como El Interior.

Carnaval 2000!

(...) Até então já possuímos duas Escolas de Samba que confirmaram sua participação. A Escola de Samba UM ASM da cidade de Monte Caseros - Argentina e a Escola de Samba DEU XUXA NA ZEBRA da cidade de Uruguaiana. Estamos esperando também a confirmação de uma Escola de Samba da cidade de Bella Unión - Uruguai e outra da cidade de Uruguaiana. (O Jornal de Uruguaiana, 04/março/2000 - Barra do Quaraí, p.6).

Saúde

O Centro de Saúde de Barra do Quaraí informa que foram realizados os seguintes procedimentos no mês de junho: ... 23 remoções de pacientes ao Hospital de Bella Unión - Uruguai, 21 remoções de pacientes ao Pronto Socorro da Santa Casa de Uruguaiana (...) (O Jornal de Uruguaiana, 22/julho/2000 - Da Barra do Quaraí/ Sueltos da Barra, p. 08)

Os textos acima referem-se a situações diferentes. Uma delas trata do desfile de Carnaval envolvendo escolas de samba de Uruguaiana, Monte Caseros e Bella Unión (cidade brasileira, argentina e uruguaia, respectivamente). A outra sobre remoções de pacientes de Quaraí para Bella Unión e Uruguaiana. Nos dois casos, percebe-se a naturalidade com que se transita nos espaços fronteiriços dos três países, considerando este espaço, que no caso é internacional, bem como as questões que nele se desenrolam, como se fossem perfeitamente integradas, a condição de internacional é algo secundário, não que seja irrelevante, pois as devidas explicações são dadas, mas o modo como as questões são apresentadas é de naturalidade. Em um dos casos, o foco é em um evento cultural e noutro, envolvendo a área da saúde mas em ambos, os envolvidos são elementos distintos que fazem parte de um mesmo grupo, o dos fronteiriços.

Feriado com um sol forte não foi suficiente para afastar o público da Presidente Vargas

Ao meio-dia de quinta-feira, sob um sol de 30ºC, [iniciou] o desfile de 7 de setembro em Uruguaiana, com a Parada Militar na Avenida Presidente Vargas. A abertura ficou a cargo de um grupamento de tropas do exército argentino, entre os militares do prata (sic), integrantes de um regimento que combateu contra a Inglaterra nas Ilhas Malvinas ou Falklands em 1982.

(...) Desfilaram além dos destacamentos militares da cidade e de Paso de los Libres, estudantes, escoteiros e integrantes de CTGs que homenagearam a Pátria (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000 - Geral, p.16) Acompanha o textos fotos, uma delas com a seguinte legenda: "Exército argentino que combateu nas Malvinas abriu a Parada Militar."

Além de tudo que representa este culto de celebração ao "espírito nacionalista", reforçado a cada Semana da Pátria, o texto se refere às festividades de 7 de Setembro, data comemorativa para o povo brasileiro, fica descrita a participação de argentinos nos festejos. Da forma como é trazido pelo jornal, é natural a participação destes grupos nos desfiles. Para eles - os fronteiriços -, acostumados com a presença destes vizinhos, não há surpresas neste tipo de manifestação. Tais acontecimentos servem para reforçam o poderio das Forças Armadas Nacionais, no caso representadas principalmente pelo Exército que possui quartéis nas cidades fronteiriças, e são os responsáveis por guarnecer a fronteira. Ao mesmo tempo que configura-se uma demonstração de força, é o momento de apresentar uma posturas de harmonia e integração efetiva entre os povos e as instituições militares, educacionais, sociais, presentes nas regiões de fronteira dos países envolvidos naquele espaço. Entre os participantes estão estudantes que demonstram como, através deste tipo de atividade, o respeito e o reconhecimento pelo outro se processe também a partir de práticas educativas.

Uma noite de homenagens e emoção na Câmara Municipal

Medalha, discurso, canto e poesia. Assim foi a noite de terça-feira, na Câmara Municipal, quando da realização da Sessão Solene, alusiva à Independência do Brasil. (...)

O grande homenageado com a Medalha de Ouro, foi o artista plástico, poeta, compositor e escritor Ubirajara Raffo Constant, 'Biratuxo'. (...) 'é uma homenagem justa e terna a um homem que demonstra em todos momentos de sua vida, a paixão pela sua terra. (...)

Na justificativa apresentada por Jorge Falcão Machado, o vereador fez uma retrospectiva da carreira artística e da contribuição do homenageado à cultura de Uruguaiana e do Estado. (...)

(...) Autor de diversas canções premiadas na Califórnia da Canção Nativa e em outros festivais, como Ave Maria Pampeana, Payador, Andança, Rua da Minha Infância, Avô Campeiro, Na missa do Galo, Solfejos de Prata. Ubirajara foi aluno e amigo fraterno de Vasco Prado. Fez o painel em bronze, sobre a Evolução da Ovinocultura, existente na entrada principal do lanifício; recriou indumentárias, diálogos, personagens e cenário do filme 'A Intrusa', baseada no conto do escritor Jorge Luiz Borges, e dirigido pelo cineasta argentino Carlos Hugo Christebsen. (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000 - Geral, p. 15).

A informação trazida pelo texto diz respeito a uma figura local que é homenageada aproveitando a ocasião das comemorações da Semana da Pátria. No evento são exaltados seus feitos artísticos em função da "sua terra". Inclui-se nesta "terra" o espaço local, o estadual, e o nacional. No entanto, este local é estendido à área fronteiriça pois entre as obras produzidas pelo artistas, incluem-se canções com denominações em espanhol, "Payador". Sua aproximação com a cultura argentina, familiarizada pelo contato com os correntinos e libreños, lhe concede a possibilidade de trabalhar em produções envolvendo escritores e diretores argentinos. Note-se que o momento escolhido para tal destaque é uma solenidade comemorativa da data maior da nação brasileira. A ênfase dada é ao local, sua importância é destacada a partir da repercussão que um fronteiriço consegue alcançar, ultrapassando as fronteiras da cidade, do país, elevando a cultura local na medida que passa a representar a voz daquele homem que tem amor por sua terra (Brasil) e que transita bem em nível internacional, qualidade própria de quem habita a fronteira.

b) El Interior

Sociales

Estela Queirolo, celebró su cumpleaños en una reunión que congregó a más de ciento cincuenta personas, entre familiares y amigos.

La fiesta estuvo muy divertida y contó com la participación de Raíces do Samba, grupo de pagode de la vecina ciudad de Uruguaya (sic), que mantuve la alegría a toda la concurrencia, haciendo bailar a más de uno que hace rato no se movía com la música y se extendió hasta las primeras luces del alba (El Interior, 17/out/2000 - Sociales - p. 23).

A palavra Uruguaiana não está grafada corretamente - Uruguaya -, ou seja, não existe uma preocupação em respeitar nem a escrita em português ou mesmo que esta seja grifada em espanhol, mas corretamente. No acontecimento relatado, o grupo musical apresenta um tipo de música - o pagode -, vinculado à cultura brasileira. Tal ritmo agrada aos argentinos que podem desfrutar dos benefícios de habitar uma região fronteiriça, chamando grupos musicais da vizinha cidade para propiciar momentos festivos, congregando amigos até o amanhecer.

c) A Platéia

Como foi dito, em A Platéia, a incidência de textos que tratam o fronteiriço como um grupo, mas composto de elementos distintos - os de lá mais os de cá - é a forma predominante de tratamento dado ao fronteiriço e este tipo de articulação passa pelas mais variadas temáticas.

Índices do valor de moedas são informados com freqüência no jornal. A cotação em reais do dólar e do peso aparece em A Platéia7 sem mesmo um esclarecimento sobre a que peso o jornal se refere - no caso ao uruguaio. Em outra seção, os números dos telefones do Hospital de Rivera e da Policia Caminera surgem no boxe intitulado "Telefones úteis", isto é, onde são apresentados os principais telefones de utilidade pública de Livramento como Polícia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros, Prefeitura, Brigada Militar etc.8, sem que seja necessário dar destaque em separado que são de instituições da vizinha cidade.

Do mesmo modo, os preços dos ingressos do Cine Internacional, localizado defronte ao Parque Internacional do lado brasileiro, é apontado em dois valores, em reais e em pesos9. Neste caso, o valor em pesos é colocado entre parênteses, sem qualquer explicação sobre o procedimento adotado pelo veículo, o que nos leva a crer que atitudes como esta atendem aos interesses da comunidade como um todo, os fronteiriços, sem que seja necessário colocar nenhum esclarecimento ao leitor. Em outro caso, ao referir-se à previsão do tempo, é colocado lado a lado os pareceres da Estação Meteorológica de Livramento e de Rivera (que, como era de se esperar, varia em muito pouco)10.

Nos textos seguintes, temos exemplos de manifestações de integração no Campo da Cultura.

Templo da música reúne 10 mil títulos

(...) Filho de pais brasileiros, este uruguaio nascido em Rivera já se considera mais brasileiro ou 'doble chapa' como se diz na fronteira. Aos 11 anos, em Minas de Corrales, 5ª sessão de Rivera, Eliecer começou a estudar música por diversão. E assim continuou até prestar exames no conservatório América em Montevidéu com o professor Angel Galarza. (...)

(...) O Templo da Música, está fazendo a sua parte abrindo suas portas para a comunidade santanense que pode usufruir das aulas de música em qualquer horário, a combinar com o professor e também se utilizar da pesquisa musical, ali na Brigadeiro Canabarro ao lado da Igreja Episcopal (A Platéia, 14/maio/2000 - p. 10) - Duas fotos acompanham a matéria com legendas sobre o lugar e o professor.

JB Empresa Jornalística apoia (sic) projeto cultural santanense

Numa ação pioneira, a JB Empresa Jornalística através do Jornal A Platéia e Jornal A Semana, está apoiando o Projeto Cultural Catálogo Artístico da Fronteira, intitulado 'Os Artistas da Fronteira da Paz'.

(...) abrangendo Livramento e Rivera, através da integração cultural de ambas as cidades, além de dar oportunidade aos artistas ainda desconhecidos da nossa fronteira.

(...) Com esta ação em prol do desenvolvimento cultural santanense, como tantas outras que a JB Empresa Jornalística vem apoiando, consolida-se a imagem desta respeitada empresa que não deixa de lado sua responsabilidade social, preocupando-se com o crescimento de Sant'Ana do Livramento. (A Platéia, 25/julho/2000 - p. 3) - Acompanha foto dos organizadores em visita ao jornal com legenda explicativa.

No primeiro texto, a referência é ao cidadão fronteiriço. O jornal deixa claro que este é um riverense-santanense, o típico "doble chapa" da região. Destaca seus feitos como artista fronteiriço e descreve o seu caminho entre as terras e instituições brasileiras e uruguaias, feito que, para eles, os cidadãos da fronteira se dá todos os dias, de modo natural. No segundo texto fica explicitado que os movimentos culturais da comunidade circulam pela fronteira da paz, reforçando tal denominação ao espaço. Fica destacada a posição da empresa de apoiar iniciativas como essa que valorizam o artista local, indiscriminadamente, ou seja, não faz diferença se ele é riverense ou santanense.

No texto seguinte, transcrito e reproduzido, a temática é o Carnaval.

Santanenses e riverenses dão um show de participação

Nestas primeiras noites de folia, Livramento e Rivera testemunharam uma concentração de foliões que há muitos anos não se via. No sábado, santanenses e riverenses deslocaram-se à passarela do samba levados por um sentimento de curiosidade(...)

(...) Abrilhantando o Carnaval 2000, os blocos e as murgas estão dando o sem espetáculo. Mesmo enfrentando dificuldades financeiras, estes artistas populares participam do evento, carregando com sigo a responsabilidade de manter viva a tradição do Carnaval na Fronteira.

Segurança

Os fronteiriços que estão acostumados a ver o trabalho realizado em conjunto, entre a Brigada Militar e Polícia de Rivera, quando da realização de eventos internacionais. Mas para os turistas que vêm até a Fronteira no intuito de participar da festa, isto torna-se um fato até curioso.

Esta integração é muito importante para o sucesso de tais empreendimentos, por isso deve-se salientar e valorizar o exemplo.

Amor ao Carnaval

O empresário...dirigindo um veículo de sua propriedade, o qual está sendo responsável pela sonorização dos blocos, deu um grande exemplo de amor ao carnaval da Fronteira:

Além de ceder o transporte, ele mesmo encarregou-se de conduzi-lo pela avenida do samba (A Platéia, 07/março/2000 - p. 08).

Figura 8 - Carnaval em Livramento-Rivera (A Platéia, 07/março/2000, p. 08)

Embora o último texto refira-se a uma notícia que foi divulgada cronologicamente antes das outras duas, sua colocação se deu nesta ordem de modo proposital. Na primeira parte, o texto refere-se ao bom convívio dos fronteiriços de Livramento-Rivera durante as festividades carnavalescas.

O texto demonstra como é harmoniosa a relação estabelecida entre estes dois grupos no espaço da fronteira, capaz de ser denominada como um "show", um exemplo para qualquer um, em especial para os estrangeiros, ou turistas, que estranham tal relacionamento. A comemoração é ressaltada como uma manifestação popular, já uma tradição no lugar.

No segundo momento, o texto remete à questão para o setor da segurança. De acordo com a matéria, até neste quesito os fronteiriços merecem destaque. O policiamento das festividades carnavalescas foi realizado em conjunto, isto é, os policiais de Rivera e de Livramento atuaram no sentido de manter a ordem dos foliões. E o próprio jornal ressalta que procedimentos como este devem ser valorizados e salientados como exemplos de integração entre os fronteiriços locais.

Seguindo esta idéia de que as forças policiais também atuarem de modo integrado, trazemos outros trechos publicados em A Platéia, um deles veiculado na seção em espanhol.

Recuperó la polícia cuarenta bovinos hurtados en Rivera

En un trabajo conjunto de las fuerzas policiales de Rivera y de Livramento, fueron recuperadas en el paraje Upamaruti 40 vacas que habían sido hurtadas de un estabelecimiento localizado en Mangrullo, en la tercera sección del departamento de Rivera.

Sujetos desconocidos en horas de la madrugada ingresaron al mismo, y trasromper el alambrado lograron transportarlos hasta Livramento.

La intensa labor policial, activada por la Brepa, servicio de represión al abigeato, com la colaboración de la Polícia de Livramento, permitieron la localización de dichos ejemplares.

(...) Es realmente elevado el índice del abigeato en nuestra frontera, pero la labor policial entre los representantes de Rivera y de Livramento, en varias oportunidades, similares a esta, han permitido la recuperación de los animales (A Platéia, 08/março/2000 - p. 07).

Brigada Militar luta para combater o abigeato

O Jornal A Platéia inicia hoje uma série de matérias abordando a questão do abigeato, problema este enfrentado por vários setores tanto de Sant'Ana do Livramento como de Rivera, pois as vítimas estão dos dois lados da fronteira, de um lado o produtor rural que tem seu gado furtado e do outro, o perigo eminente de doenças que podem acarretar uma série ameaça para a economia dos dois países.

(...) A integração entre as polícias de Rivera e Livramento, de outros órgãos ligados à questão e a colaboração de uma forma geral são fatores de suma importância para que o abigeato possa ser combatido e eliminado em nossa fronteira. (A Platéia, 10/setembro/2000 - p. 11) - Acompanha foto do tenente da BM: "Tenente Zinga, responsável pela patrulha de combate ao abigeato."

Note-se que o primeiro texto referente à questão do abigeato, foi veiculado em março nas páginas de A Platéia em espanhol, o segundo foi publicado em português em setembro. Isto comprova que a problemática do roubo de gado na fronteira é uma preocupação constante e atinge as duas comunidades. Nos dois exemplos, verifica-se que há a programação de uma ação conjunta entre as forças policiais das duas cidades. Na verdade, por o incidente envolver terras, produtores e delinqüentes de dois países, deveria se configurar em um acontecimento internacional. Entretanto os primeiros a serem atingidos com tal prática são os produtores da região, isto é, santanenses-riverenses. Neste sentido, a comunidade se organiza e se mobiliza, criando mecanismos próprios de combate ao crime, unindo-se contra o mal que é prejudicial para a economia fronteiriça, servindo, uma vez mais, como exemplo de atuação onde os interesses do homem local estão em primeiro lugar, por isso a necessidade de ação imediata e combinada.

Homenagem a São Marcelino Champagnat

Sabemos que Champagnat tinha um CORAÇÃO SEM FRONTEIRAS. Pois bem. No extremo sul do Rio Grande, em Sant'Ana do Livramento existe uma coisa assim - desde 1908, os Irmãos Maristas encontraram o que Champagnat sonhava - dois países sem fronteiras, LEMA sintetizado no poema do Pe. Heitor Rossatto, que visitando a fronteira e dando largas a seu estro poético, num linguajar campesino, assim se expressou:

Sant'Ana e Rivera
As cidades cavalgaram
Sobre o lombo da coxilha,
Que xucra foi a encilha,
Do Espigão abarbado,
Mas ele foi encilhado:
Casas brancas de aconchego,
Se estendem como um pelego,
Metade de cada lado.
E o lombilho faz divisa,
Entre Sant'Ana e Rivera,
Como relíquia campeira
Que nunca deve ter fim!
Peço a Deus que seja assim
Em tudo o que for fronteira,
Em vez de bala e trincheira,
Se estende um parque e jardim
São duas cidades vizinhas,
São duas vizinhas amigas,
Uma é terra de Artigas
A outra é chão de Caxias;
São pampas da mesma cria.
E guascas de igual tarimba.
Água da mesma cacimba,
Versos da mesma poesia!
De quando em quando algum marco
Com ar de guasca gaudério,
Emponchado e muito sério,
Faz a vez de sentinela,
Ao redor tudo é janela,
Como a dizer prá visita:
Vê que xucreza bonita

Nesta paisagem singela! (A Platéia, 20 e 21/setembro/2000 - p. 4).

O texto acima abre com o destaque de o "coração de Champagnat ser sem fronteiras". Vemos aqui a declaração da existência de uma barreira, mas que, a partir dos movimentos realizados pelos grupos locais, ocorre uma transformação desta divisa, tornando-a uma fronteira borrada. Este tipo de manifestação faz parte dos vários discursos que ressaltam que naquele espaço - Livramento-Rivera - existe uma divisão só que esta é diferente. A posição reconhece que ali existem dois países envolvidos, distintos em vários aspectos, mas para enaltecer o que se passa em Livramento-Rivera como algo diferenciado, incomum na relação entre dois Estados Nacionais, é necessário, em primeiro lugar, aceitar que existe um ponto de contato entre estruturas diferentes para então poder destacar que o engrandecedor é o fato desta relação ser amigável, onde a compreensão e o respeito pela diferença é considerado o ponto alto do relacionamento.

Outro aspecto importante trazido pela poesia, transcrita nas páginas de A Platéia, diz respeito a expressões empregadas, ligadas à cultura gauchesca e já esclarecidas antes do início do poema ao dizer que é empregado "um linguajar campesino", muito usado pelos fronteiriços e reconhecido tanto pelos riverenses como pelos santanenses. No decorrer do texto, escrito por Pe. Heitor Rossatto, vem a certeza de que a poesia fala de duas cidades, duas comunidades porém, a todo o momento é ressaltado que existe um movimento de aproximação muito forte entre ambas: "as duas cidades cavalgaram sobre o lombo da mesma coxilha, sobre ambas recai um pelego, metade para cada lado, isto é dividido irmamente". As duas cidades são apresentadas como vizinhas que vivem de forma harmoniosa, sem atritos, são provenientes da "mesma cria", mesclando-se e confundindo-se por vezes. Pode-se observar que este discurso afirma com veemência que as duas comunidades são a mesma coisa embora reconheçam que para que possam consagrar esta unidade precisam reconhecer que existem diferenças.

Outra manifestação literária apresentada nas páginas d'A Platéia dá ênfase ao espaço e ao seu povo como diferenciados.

Geradoras de amor

(...) Há um lugar onde Anjos Celestiais costumam passar as férias, pois seus protegidos, ao excursionarem pelo mundo, extravagam (sic) toda a sua alegria e satisfação ao encontrar lado a lado um território de gente lindamente e simples unindo duas nações e vivendo, ora em plena vida natural junto a vastas campinas de onde vêm para o centro da cidade carrocinhas puxadas por cavalos a transportar puro leite, mel, produtos tirados diretamente da terra, acompanhadas por bando de quero-queros disputando espaço no ar com o espetáculo de aves migratórias e, ao mesmo tempo, ao atravessar uma rua ter ao seu alcance produtos dos mais distantes, diversos e sofisticados países do mundo.

Esse lugar existe sim. Utopia? Somente se vocês quiserem renunciar a porção de terra que os acolhe. Este contém a maior caudal de água do Universo. Seu nome contém em si a liberdade e no apelido, o complemento da liberdade, a paz.

O passado, o presente aqui se unem e plasma-se o futuro glorioso de luz, prosperidade e riqueza - Sant'Ana do Livramento, o Fronteiriço da Paz e Rivera, seu complemento Divino, ambas em constante ato de amor a gerar Vidas de Amor, Harmonia, União e Perfeição que o Universo precisa para manter-se perenemente feliz.

Soila Mar (A Platéia, 20 e 21/ setembro/ 2000 - Caderno Literário - p.28). A expressão Caderno Literário está escrita em árabe.

Através das palavras de um colaborador do jornal, o Caderno Literário abre espaço para manifestações que, através de um esforço de ressaltar a vida pacífica vivida pelos habitantes da fronteira, reforça a idéia de integração entre elementos diferentes, consolidando-se na figura do fronteiriço. A manifestação está em uma das páginas onde aparecem lado a lado textos em português e espanhol, e onde o cabeçalho tem escritos em árabe. Neste sentido, dizeres como o que o texto traz, servem para reforçar a idéia de que existe efetivamente um bom relacionamento entre os povos naquele espaço, que não é utopia mas realidade. Fica caracterizado nas palavras de alguém que vive na fronteira, que o lugar é agradável, onde produtos naturais são comercializado e onde há pássaros que alegram o ambiente. Por outro lado, a riqueza desta fronteira da paz também reside no fato de as pessoas terem à mão não só os produtos fabricados e extraídos do lugar mas também os produzidos em zonas distantes, disponíveis no comércio local dos free shoppings.

Pelo fato de estes dois exemplos se configurarem como textos literários, o imaginário do leitor é despertado, enriquecendo a construção de uma fronteira pacífica, onde identidades distintas co-habitam de modo harmonioso o mesmo espaço, o fronteiriço.

Nos quatro exemplos seguintes, o foco central é o do esporte. São eventos ligados a competições de mountain bike, futebol infantil, padle e vôlei. Em todos eles, o processo de integração entre riverenses e santanenses é apresentado de modo natural.

1ª Prova de Mountain Bike se realiza dia 23 de abril

(...) A prova foi acertada numa reunião semana passada entre a chefia do DMC e o presidente da Associação Rivera/Livramento de Mountain Bike, Fernando.

(...) A organização já aposta numa participação recorde de ciclistas dos dois lados da Fronteira, além da presença de atletas de outras cidades da região que, certamente serão atraídos pela prova (A Platéia, 08/março/2000 - p. 22)

Liga de Baby Fútbol terá nove escolhidas filiadas

Dirigentes da Liga Riverense de Baby Fútbol realizaram uma importante reunião na última segunda-feira, onde foram tomadas muitas decisões...

(...) Além da nova filiada, continuam na liga, as riverenses do Sarandi Universitário, Oriental, Penharol, Huracan e Fronteira e mais as santanenses da Parmalat, Grêmio Porto Alegrense e Zé Ney/AABB (A Platéia, 09/março/2000 - p. 13) - Matéria acompanhada de foto com a seguinte legenda: "Escolinha Centauro é a 9ª filiada da Liga Riverense de Baby Fútbal."

Padelistas (sic) homenageiam as Mães durante etapa da liga

A 2ª etapa da Liga Rivera/Livramento de Padel (sic) começou seus jogos na quinta-feira...

Os jogos entram na sua fase final neste sábado e domingo, sendo realizados nas quadras dos principais clubes da Fronteira, entre os quais o Padelmania (sic), Nacional e Canta Gallo. (...) onde os padelistas (sic) dão um tempo nos jogos para homenagearem as mães santanenses e riverenses (A Platéia, 14/ maio/ 2000 - p. 54).

Copa Rivera/Livramento de Vôlei retorna a quadra hoje

A prática do vôlei parece que saiu definitivamente das escolas, onde sempre foi difundido, para tomar conta dos ginásios da Fronteira. Uma prova disso é o sucesso da Copa Rivera/Livramento de Vôlei, mais nova competição voltada a modalidade.

(...) A equipe do Sarandi Universitário entrou em quadra para enfrentar ao Colégio Santanense e venceu por três sets a zero.

(...) No domingo se realizaram mais dois jogos com a equipe do Santanense enfrentando ao General Neto na categoria juvenil feminino. O Santanense venceu ao jogo por três sets a dois numa partida bastante equilibrada. O segundo jogo foi na categoria adulto e a equipe do Amigos venceu ao Nacional por três sets a zero. A próxima rodada está confirmada para iniciar no final da tarde de hoje no ginásio do Sarandi Universitário em Rivera (A Platéia, 20/ outubro/ 2000 - Seção A Platéia Esporte - p.22)

Como é possível verificar, associações vão sendo criadas onde o entrosamento entre santanenses-riverenses se consolida através da prática de diferentes modalidades esportivas. No primeiro texto, a associação Rivera/Livramento não ignora a existência dos dois elementos distintos, o que fica ressaltado na própria denominação da entidade, mas os esforços vão no sentido de congregar os atletas de ambos os lados.

No segundo exemplo, a Liga é de Rivera, entretanto, abre a possibilidade de agregar os jogadores infantis dos times de Livramento. Neste caso, o exemplo integracionista é passado de modo educativo para os pequenos atletas que, através do esporte, passam a assimilar a condição de fronteiriços, irmãos.

Já no terceiro texto, que trata da competição de padle, fica mais uma vez consagrada a boa relação que é possível acontecer entre os esportistas da fronteira. Novamente a Liga é riverense mas acolhe clubes de ambas as cidades. No quarto e último texto, a modalidade é o vôlei onde recebe destaque o clima de boa convivência entre times santanenses e riverenses. A competição se desenrola tanto nas dependências das entidades de Rivera como de Livramento, indiscriminadamente, de modo a valorizar as equipes sediadas de um lado e de outro da linha de divisa.

Silêncio e reflexão no Éter e nas salas de aula

(...) Pois 22 de abril passado, Livramento perdeu, em 'Porto Alegre', um de seus filhos ilustres, o Doutor Érico Maciel Filho, comendador e professor emérito da Faculdade de Direito da UFRGS, advogado e jurista exemplar havia sido também professor do Colégio Liberato Salzano Vieira da Cunha, desta cidade, onde foi mestre de todos nós.

(...) Não era outra a sua perspicácia pedagógica no ensino superior, quando para ilustrar os temas de Dir. Int. Público, falava de um ágil cão policial - chamado Bandy - que brincava com os 'chiquilines, botijas e pibes', perto da Praça João Pessoa, quando na década de trinta, as alfândegas de ambos os países ficavam frente a frente, a Aduana na esquina da Agraciada e a nossa junto a Rivadávia. As brincadeiras de Bandy na rua fronteiriça diziam bem da amizade que ligava os dois povos irmãos (A Platéia, 23/novembro/2000 - Editorial/ Artigo assinado por Umberto Fernandes Gusmão - p. 2).

O jornal traz ao leitor, a partir das palavras de um colaborador de A Platéia, a informação sobre o morte de um santanense. No texto, além de serem empregadas palavras em espanhol, algo que não causa mais estranheza ao fronteiriço, ressalta a relação entre as duas comunidades. É posto que elas configuram-se em duas, cada uma pertencente a um dos países que fazem contato no ponto de divisa e que possuíam aduanas, cada qual a sua, localizadas uma defronte a outra. Apresenta as duas cidades como vizinhas, que desfrutam de uma convivência amigável, onde os povos podem ser considerados irmãos. Novamente fica constatado que há um reforço na relação fraterna entre as duas comunidades que se ligam diretamente mas não são a mesma.

O chamamento a acontecimentos passados, traz, uma vez mais, à memória do fronteiriço para o tipo de relacionamento que existe entre as duas comunidades, fazendo com que este tipo de troca possa ser considerada como histórica. Este mesmo movimento é realizado pelo exemplo abaixo.

'Armour, uma aposta no Pampa'

(...) A Platéia - Qual o objetivo de escrever este livro?

Vera - 'O objetivo do livro é mostrar as relações entre brasileiros e uruguaios, numa fronteira marcada pela integração e pelo intercâmbio.

O livro trata sobre a importância do Frigorífico Armour para o crescimento de Sant'Ana do Livramento e Rivera, porque o frigorífico era em Sant'Ana, mas ele foi construído por um engenheiro uruguaio, foi planejado por uma firma uruguaia, a metade dos funcionários eram uruguaios, o escritório era de uruguaios, então na realidade ele era um empreendimento multinacional, de uma firma americana de Chicago, e que veio para Buenos Aires depois Baia Blanca e depois para Sant'Ana.

O gado que era abatido normalmente era dos dois lados da fronteira, os dois lados mandavam o gado para ser abatido no Frigorífico do Armour, então na verdade este frigorífico tinha muitas implicações com os dois lados.'

A Platéia - Qual a proposta de seu livro?

Vera - 'Eu tive duas propostas bem claras, uma foi o resgate da história do que o Frigorífico representou para Sant'Ana do Livramento e Rivera, neste resgate eu usei a história oral para não se deixar perder o testemunho das pessoas que viveram lá que trabalharam (...)

O outro objetivo, era contar a história de Sant'Ana e de Rivera, em função do frigorífico, mas não a história de Sant'Ana separada da de Rivera, pois existem livros maravilhosos, mas que contam as histórias separadas, e eu vejo Sant'Ana e Rivera como uma cidade só, pois é a forma como vivemos. (...) (A Platéia, 20/ outubro/ 2000 - Seção A Platéia Polícia - p. 3) - Acompanha foto da escritora com a legenda: "Vera do Prado Lima Albornoz, escrevendo sobre a história dessa cidade binacional."

Várias são as passagens da entrevista em que a autora da obra sobre o frigorífico Armour, organização que teve importante destaque na região, destaca a questão integracionista, fundamental para a sobrevivência do povo da região. Fica claro que são duas as cidades e as comunidades envolvidas na descrição sobre a história do frigorífico e isto é algo também claro para as pessoas do lugar pois muitas das informações obtidas para a produção do livro foram conseguidas a partir do relato oral dos moradores fronteiriços, familiares ou antigos funcionários da instituição. Através deste resgate, a autora reforça, que a integração entre santanenses-riverenses foi, e continua sendo, de fundamental importância para a vida local. E ela mesma dá demonstrações de acreditar e perceber como indispensável os movimentos que remetem à ligação e ao tratamento igual dado às duas comunidades na medida em que agenda sessões de autógrafo em ambos os lados da linha divisória reconhecendo que são distintas, porém merecem a mesma atenção e consideração. Seguindo no mesmo sentido de ver a formação fronteiriça como uma composição de duas comunidades distintas mas que são muito unidas, o colunista de A Platéia faz referências ao turismo local, em especial aos atrativos que as duas cidades "xipófogas" podem oferecer ao turista.

Os parques da cidade

Certa vez, alguém me disse que turismo em Sant'Ana e Rivera não tinha condições de vingar porque as cidades não eram banhadas por um rio ou um mar...

(...) Ia falar em turismo e faço esta digressão, para dizer que acredito na potencialidade desta cidade xipófogas e dependentes do fluxo de pessoas que por aqui aportam pelas diversas razões. É preciso dizer e ressaltar, no entanto, que este turismo de passagem ou de convergência e receptivo só deve e pode acontecer se nós, santanenses e riverenses, soubermos cuidar das possíveis atrações que aqui temos.

(...) O Parque Internacional, como símbolo de duas comunidades de nacionalidades distintas, há muito que não pode mais representar estes povos, pela simples razão que está mal cuidado, (...) pois se tornou um campo minado pela marginalidade.

Ao menos posso dizer que o Parque Grã Bretanha, em Rivera, está salvando a intenção de mantermos parques de lazer nestas plagas. É bonito, bem cuidado e com um arrojado projeto para um futuro largo (A Platéia, 06/julho/2000 - p. 2) - Coluna Atos & Fatos, assinada por Renato Levy.

Os dois exemplos que seguem, um deles uma charge, reproduzida e transcrita, têm relação pois tratam do mesmo assunto, ligado à comunicação entre as pessoas de Rivera-Livramento.

Nossa língua é a mesma: a da integração! (A Platéia, 23/ novembro/ 2000 - Editorial/ Charge - p.2)

Figura 9 - Charge indicando o uso de duas línguas (A Platéia, 23/nov/2000, Editorial p. 2)

CRT-Brasil Telecom confirma: nada muda na telefonia fronteiriça

Não vão ocorrer mudanças nas comunicações telefônicas entre Rivera e Livramento. A confirmação foi feita ontem à tarde pelo gerente da CRT-Brasil Telecom, César Lubini, destruindo os boatos que vêm circulando na fronteira de que não será mais possível utilizar o código de acesso 29 para ligar para Rivera e o 085 para realizar chamadas de Rivera para Livramento. (...) Também são sem fundamentos as conversas à boca pequena que circulam dando conta de que a partir de agora as ligações feitas entre as duas cidades teriam tarifação internacional, algo que a CRT-Brasil Telecom deixa claro não ser verdadeiro. 'Nada muda na comunicação entre Rivera e Livramento, do contrário, seria acabada a integração entra as duas nações, dois povos', reage Lubini, estranhando o fato de serem constantemente criados boatos e mentiras sobre assuntos de interesse.

Fica claro, de acordo com Lubini que é meta para a empresa, agora privatizada, estimular a integração fronteiriça, cabendo salientar que caso fossem verdadeiros os comentários de que seria impossível a comunicação entre Rivera e Livramento via telefone e ainda, se houvesse a tarifação internacional (o que seria de estranhar, pois mais barato que um telefonema é uma passagem de ônibus para falar pessoalmente com a pessoa que receberia a chamada) seria, no mínimo, de bom tom, rasgar todos os protocolos de integração e murar a fronteira, isolando o inseparável povo fronteiriço, contrariando não apenas a lógica, mas a história de uma nação de duas nacionalidades.

Surgiram informações de dificuldades no contato com Rivera na manhã e tarde de ontem, porém, a gerência da CRT-Brasil Telecom não confirma, destacando que os problemas, conforme contato mantido com o setor técnico em Alegrete, foram solucionados de forma definitiva às 20h30min de terça-feira. Não descarta, no entanto, a possibilidade de o problema ser um fato isolado, em aparelhos telefônicos de Rivera. 'Não recebemos qualquer reclamação dos usuários e já entramos em contato com nossa equipe da área técnica, em Alegrete, que confirmou ter solucionado o problema na noite de terça, às 20h 30min', reitera o gerente da CRT-Brasil Telecom em Livramento.

De resto fica registro para que eventuais novos boatos não venham a causar preocupação na comunidade fronteiriça (A Platéia, 23/ novembro/ 2000 - A Platéia Geral - p.6) - Matéria apresentada dentro de um boxe.

Nestes textos, a discussão gira em torno da comunicação entre fronteiriços. A charge aproveita o acontecimento para lembrar que a língua falada na fronteira é a mesma dos dois lados da linha divisória, "a da integração". Por sua vez, o representante da empresa que é responsável pelas comunicações via telefone em Livramento, assume que é impossível criar dificuldades na comunicação telefônica entre as duas cidades - "inseparáveis" -, e ele destaque que se isto viesse a acontecer caberia "rasgar todos os protocolos de integração", pois é inviável a vida naquele espaço sem ser levado em conta que é fundamental para as duas comunidades poderem se comunicar facilmente. Fica claro que embora a comunicação devesse ser tratada como entre dois pontos de países distintos, isto é, internacional, o contexto não comporta tal formatação, tendo que ser mantido o que já acontece, a comunicação via rede telefônica entre Rivera e Livramento ser tratada como local, integrada.

d) Norte

Embora não contemple o espaço das notícias, vale destacar que no periódico Norte foram encontrados "Edictos de Matrimonios", onde os envolvidos eram brasileiros(as) e uruguaios(as), demonstrando que os enlaces matrimoniais entre brasileiros e riverenses prosseguem como uma prática recorrente no espaço Livramento-Rivera. Quanto ao material jornalístico, vejamos como a questão do fronteiriço é tratada no sentido de incluir santanenses e riverenses na comunidade.

Candidato Guilhermo Basseda felicitó por aniversario a la ciudadanía de Rivera

(...) A propósito del próximo domingo 1º de octubre, celebrarse el 116º aniversario de la creación del Departamento de Rivera, Guilherme Basseda (sic), antecipó un saludo y las felicitaciones 'al hermano pueblo de Rivera', augurando para 'que las relaciones entre Rivera y Livramento se consoliden cada vez más'.

(...) Bassedas manifestó que su fuerza política convoca a la unidad de todo el pueblo, superand las diferencias y peleas políticas e ideológicas, como única manera de lograr la creación de fuentes de riquezas y empleos en el municipio y que 'la gente viva mejor'.

(...) Al concluir, exhortó a los ciudadanos residentes en Rivera y que votarón el domingo en Livramento, a acompañarlo com su voto, y de esa manera, poder, 'desde la Prefeitura y la Cámara de Vereadores, hacer posible este sueño de todos de lograr mejores niveles de vida para todos [Norte, 29/setembro/2000 - p. 08]

No título da matéria está estampado o nome do candidato a prefeito em Livramento. Embora a grafia do nome nem sempre esteja correta - por vezes o periódico uruguaio não coloca a letra "s" ao final - não há necessidade de muitas explicações no sentido de esclarecer quem venha a ser Bassedas para os leitores de Norte, já que o político é figura conhecida da comunidade santanense-riverense. Em seu discurso, de acordo com a reprodução do jornal, Bassedas exalta o povo de Rivera como irmão, cuja relação fraterna com os santanenses já está consolidada. Segundo as palavras do candidato, a intenção é de convocar o povo da região à unidade. Ao encerrar o parágrafo, mesmo referindo-se ao município, a expressão empregada -"la gente" - novamente abre a possibilidade de inclusão dos riverenses. E isto se justifica pois, como prossegue o trecho trazido para análise, há brasileiros santanenses que habitam a cidade de Rivera, entre eles os "doble chapas" que têm direito de votar tanto nos pleitos eleitorais do Uruguai como nos do Brasil. O procedimento de inclusão é empregado na medida em que o candidato dirige-se a um possível eleitor que, por desfrutar de dupla cidadania e viver em um espaço fronteiriço, quer ver nas ações de seus dirigentes municipais - tanto os que ocupam um lugar no executivo como no legislativo - a preocupação de pensar na comunidade como ela sendo santanense-riverense, onde os benefícios feitos para uma traga reflexos positivos para a outra.

Antonio Planella de ser electo vereador espera sacar al municipio vecino del 'pozo'

El campión de la frontera de automovilismo en 1962 es candidato por el PPB en el vecino municipio de Sant'Ana do Livramento.

Planella trae en su currículum un grand trabajo comunitario en la frontera, y más que nunca está empeñado junto a ACIR a conseguir junto al govierno brasileño la realización de la obra 'Plano de desenvolvimiento urbano conjunto' y además busca alternativas para que sea creada en la frontera un área de libre circulación de bienes, productos y servicios.

Además de ello busca opciones para que el ramal del gasoducto que va de Uruguaya a Porto Alegre, tenga un ramal en nuestra frontera.

Antonio Planella va más lejos aún, en pro de outra alternativa de desenvolvimiento, como lo es la construcción de una usina central de reciclaje binacional...

Es presidente de la Cámara Empresarial Binacional, miembro de la Sub Comisión de Medio Ambiente del Plano de Desenvolvimiento Urbano conjunto Rivera-Livramento... (Norte, 25/setembro/2000 - p. 05)

Vemos neste texto mais um político santanense recebendo espaço no jornal uruguaio para expor suas idéias, como candidato à Câmara de Vereadores de Livramento. No texto, Planella é apresentado como um importante representante do espaço fronteiriço na cidade vizinha, disposto a lutar pelas causas que beneficiem santanenses-riverenses. Frisamos uma vez mais, que esta é mais uma das mensagens direcionadas aos brasileiros ou aos cidadãos com dupla nacionalidade que residem em Rivera e que têm direito a votar nas eleições municipais de Santana do Livramento. Cabe destacar que o nome da cidade brasileira, Uruguaiana, embora haja uma tentativa de escrevê-la em espanhol - com a substituição da letra "i" pela letra "y" - está escrita de modo incorreto, ou seja, o jornal cometeu um deslize, mas talvez isto já não seja considerado grave devido às inúmeras vezes em que são citados nomes brasileiro no jornal uruguaio.

Conmemoran los 60 años del Círculo Policial de Rivera

Los Directivos del Círculo Policial de Rivera han organizado una serie de actividades para celebrar el 60 aniversario de la Institución que nuclea a funcionarios policiales y sus familiares.

(...) Concentración de autoridades en el Rincón de la Patria en Plaza Artigas, con la presencia de la Federación de Círculos representadas por sus respectivos presidentes...

Actuación de la Banda del Regimiento Brigadier Fuctuoso Rivera, N.º 3 de Caballería Mecanizada, y el 7º Regimiento RCM de Livramento... (Norte, 29/setembro/2000 - p. 12)

No texto acima verifica-se que é descrito um evento que ocorreu no Circulo Policial de Rivera, onde foi comemorado mais um aniversário da instituição. São citadas as atrações da festividade, onde está incluída a participação do 7º Regimento RCM de Livramento, isto é, a idéia trazida é de que este tipo de integração entre as duas comunidades se dá de modo natural e ocorre entre todos os tipos de instituições como, no caso, as ligadas à segurança.

Tecnología de avanzada al servicio de la población inauguró Casmer

(...) Luego, todos se transladaron al Club Uruguay, para la segunda parte de la ceremonia. Luego de la lectura de mensagens y telegramas de distintas instituciones del interior y de Livramento, el Dr. Parma se refirió nuevamente a la significación del evento, señalando que es parte de la filosofia de Casmer, a pesar de la dificil situación económica actual, en medio de la crisis, 'apostar al futuro del departamento, a su desarrollo, en un compromiso de todos, con una visión optimista del futuro, invirtiendo en calidad... (Norte, 30/setembro/2000 - p. 07).

Este trecho diz respeito a um release divulgado por Norte. Nele é ressaltado que uma nova instituição passa a atuar na cidade de Rivera. As manifestações parabenizando o intento são provenientes de cidades do interior de Rivera, mas, ao lado delas, também surgem as mensagens vindas de Livramento, cujo tratamento dado é igual às demais, sem que seja necessário destacar que esta cidade não é uruguaia.

B) Nós, marginalizados

A subcategoria Nós, marginalizados pode ser entendida como um destaque da anterior. Neste caso especificamente a posição apresentada recai sobre uma postura que visa a defesa do povo fronteiriço, isto é, uma variante defensiva do modo como o "nós todos" é tratado nas páginas dos jornais. Nesta subcategoria, somente dois textos foram encaixados: um de O Jornal e outro de A Platéia. Mas ambos têm uma forte mensagem em defesa do povo fronteiriço.

O JORNAL DE URUGUAIANA

Editorial

Trancar o trânsito de uma Ponte Internacional como forma de buscar-se soluções para reivindicações de qualquer segmento da comunidade, nunca foi e certamente nunca será a forma mais correta. Em duas oportunidades, em menos de um mês, longas filas de caminhões carregados e automóveis foram formadas nos dois lados da fronteira, porque grupos de pessoas exigiam maior flexibilidade das autoridades aduaneiras argentinas. É indiscutível, no entanto, que anseios de grande parte das comunidades, tanto de Uruguaiana como de Paso de Los Libres, sejam priorizadas pelas autoridades das esferas federais, tanto na Argentina quanto no Brasil. Aqueles que trabalham no comércio de fronteira, principalmente no tradicional 'comércio formiga', mais antigo que a própria Ponte Internacional, sentem no dia-a-dia, que tão propalado Mercosul (sic) está cada vez mais afastado das classes humildes e que a Ponte Internacional, eleita pelo povo como símbolo de Uruguaiana, está mais à disposição do chamado 'alto comércio internacional', e do turismo de temporada de praias nos balneários catarinenses, do que propriamente das comunidades fronteiriças. E parece mentira que a Ponte Internacional, surgiu da vontade de um grupo de homens de visão que, estes sim, buscando maior desenvolvimento de Uruguaiana e Paso de los Libres, um dia, reunidos em frente a Alfaiataria Fittipalddi, iniciaram um movimento para a construção da Ponte Internacional. O que diriam eles hoje, se vissem que existe uma tela que separa a ponte da comunidade que tanto batalhou por ela? O que diria o cônsul Antônio Mary Ulrich, que morreu ao iniciar um discurso no momento em que era assinado o Protocolo de Intenções, que garantiria a construção da ponte? (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000 - Editorial, p. 02 - texto na íntegra).

O espaço destinado ao editorial nem sempre é ocupado para tal propósito. Da mesma forma, nem sempre fica destacado que o texto ali produzido é o editorial do jornal, isto é, não é colocada a denominação no topo da coluna. Neste caso, o texto é assumidamente o editorial. Vê-se neste exemplo a postura da organização em colocar-se como porta-voz do clamor do homem fronteiriço por seus direitos. O discurso é feito em nome de uruguaianenses e libreños. Destaca que o marco, a Ponte Internacional, foi criado graças ao empenho e determinação dos homens fronteiriços que percebiam a importância da construção de um elo de ligação entre as duas comunidades que habitavam as distintas margens do rio Uruguai.

As críticas à postura dos governos federais e suas instituições representativas na fronteira ficam nítidas e a defesa parte em favor do povo fronteiriço que sobrevive graças às trocas possíveis de serem efetivadas, principalmente em nível local. É em momentos como este que a valorização do local é acionada, recebendo mais destaque do que com outras esferas. Em posicionamentos como o acima relatado, verifica-se que os homens de cá e de lá são apresentados como pertencentes a um só grupo, o nós, esquecidos de seus respectivos governos e nações, que precisam se unir para defender os anseio da comunidade fronteiriça.

b) El Interior

Nos poucos exemplares de El Interior analisados, o movimento realizado no sentido de demonstrar que os fronteiriços fazem parte de um único grupo, considerado marginalizado por seus governos, não fica evidenciado.

c) A Platéia

Assim como em O Jornal de Uruguaiana, em A Platéia foi possível destacar um texto onde é chamada a atenção para o fronteiriço como figura marginalizada perante seus pares.

Ainda o Carnaval

(...) Já comentei aqui a respeito do corso da Sarandi no qual a população saia para a avenida, participando ativamente. Depois, com o regime militar e com a transformação da cidade em área de segurança, nos impuseram ficar sentados nas arquibancadas, para assistir passivamente a passagem de blocos carnavalescos subvencionados e não poder sair atrás dos mesmos, porque os cordões de isolamento humanos não permitiam (A Platéia, 09/março/2000 - pág. 02 - coluna Atos & Fatos, assinada por Renato Levy)

Neste trecho, vemos uma vez mais o retorno à memória e à história do povo fronteiriço ser acionado. Neste caso, a estratégia é utilizado por um colunista de A Platéia que vai no sentido de resgatar no passado os acontecimentos envolvendo os povos do lado de lá e de cá da linha divisória. Através do resgate da memória, o texto lembra que, por vezes, contra a vontade e os interesses dos fronteiriços, a comunidade de Livramento-Rivera se viu obrigada a obedecer determinações provenientes de instâncias superiores, distantes e desconhecedoras da realidade vivida nos espaços fronteiriços, momento esse em que o homem local foi desconsiderado, marginalizado.

c) Norte

Assim como ocorreu com El Interior, nenhum dos textos extraídos de Norte puderam ser enquadrados nesta subcategoria.

Considerações gerais sobre a categoria analisada

Nesta categoria, procuramos trazer exemplos onde os fronteiriços se assumem como um único grupo. Na primeira subcategoria encontramos textos onde eles se sentem marginalizados por seus governos federais, por seus irmãos de nacionalidade. E neste ponto se apoiam no outro que sofre as mesmas mazelas por estarem também distante dos centros de decisão. Neste quesito, só foram enquadrados textos dos jornais brasileiros.

Quanto ao outro item desta mesma categoria, o fronteiriço se assume como tal e se soma ao fronteiriço do outro lado da linha divisória, reforçando a construção de que quem habita os arredores da fronteira é um povo diferente. Neste sentido, o jornal A Platéia se sobressai, pois várias são as situações em que ele lança mão desta artimanha. O que fica realçado é o fato de o fronteiriço ser um elemento autêntico construído a partir do relacionamento com o outro. Suas peculiaridades os ligam, integram de modo a constituírem uma figura diferenciada, a fronteiriça. Características do outro são valorizadas, até porque, de modo indireto as características do eu, muito parecidas, também vem à tona, demonstrando como eles são diferentes e ao mesmo tempo, tão iguais. Neste aspecto, as temáticas ligadas à cultura se prestam e são exploradas pela comunidade e reproduzidas pela mídia para que isso possa ser demonstrado. A Platéia dilui este tipo de vinculação em diversas informações, naturalizando a relação entre os fronteiriços e até mesmo entre as instituições da fronteira. Recorre a textos literários, estimulando o imaginário do leitor de modo a reforçar tal característica.

Também para A Platéia, além de temáticas ligadas à vida cultural da comunidade, o esporte, bem como o relato dos espaços comuns onde este relacionamento se faz presente, é propício para apresentar os textos onde há uma ênfase ao processo de interrelacionamento positivo. Em Norte, verifica-se que o Campo Político, assim como o Social também permitem este exercício integracionista.

Nos jornais selecionados para a análise, percebe-se a ênfase dada em classificar tanto os moradores do lado de cá como do lado de lá do marco divisor como tendo características semelhantes que permite enquadrá-los em um só grupo, o dos fronteiriços, diferenciando-os dos demais.

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6.2.3 Nós, da região fronteiriça ampliada

A terceira categoria dentro do eixo nós fronteiriços, amplia o foco para os habitantes das regiões mais distantes da linha divisória, que podem também, em determinadas situações, ser considerados como fronteiriços. Sua proximidade com a região que divide os dois países, bem como o fato de possuírem algumas características semelhantes às dos moradores de Uruguaiana-Libres e Livramento-Rivera, permite, por vezes, enquadrá-los no mesmo grupo. Esta movimentação é mais visível em A Platéia, mas passa, mesmo que de modo menos intenso, em outros dois veículos.

a) O Jornal de Uruguaiana

Em O Jornal de Uruguaiana não são muitas as vezes em que a ênfase principal do texto gira em torno do procedimento de tomar os moradores de além fronteiras como fronteiriços mas ele é adotado pelo veículo. Vejamos:

Uruguaiana antes ...

A terrível epidemia (parte V)

Na mesma data, o vereador Luiz Manoel de Souza, ... que soube por pessoas fidedignas em Santa Rosa (Bella Unión) está invadida pelo falgelo (sic) do Cólera Morbus ...a doença assolou o povo de Monte Caseros e está em Santa Rosa (Bella Unión) ... o Cólera Morbus estava fazendo estragos nas populações de Corrientes à distância de 4 léguas da Vila de Uruguaiana... (O Jornal de Uruguaiana, 22/julho/2000 - Geral, p. 11).

Este trecho faz parte de uma coluna, veiculada n'O Jornal, produzida por um historiador local que busca em documentos e em jornais antigos o material para transcrever e mostrar um pouco da Uruguaiana de tempos atrás. Verifica-se que o envolvimento das comunidades da região não é de hoje - este texto é antigo, refere-se a Uruguaiana como Vila - e os problemas que afetam uma cidade fronteiriça tornam-se preocupantes para outras das redondezas. A proximidade entre elas e o distanciamento dos grandes centros faz com que se envolvam umas com as outras, reforçando a ligação que se constrói entre seus habitantes.

Segunda Etapa Regional do Circuito Estadual de Padel (sic)

Com a coordenação da Federação Gaúcha de Padel (sic) (FGP), foi disputada nos dias 25, 26 e 27 de agosto, nas quadras dos complexos esportivos do Cristal Padel (sic), Padel (sic) do Engenho e Círculo Militar, a 2ª Etapa Regional do Circuito Estadual de Padel (sic), que reuniu mais de 80 duplas de padlista das regiões da Campanha e Fronteira Oeste e também argentinos e uruguaios (O Jornal de Uruguaiana, 09/setembro/2000 - Esporte, p. 18)

Neste breve texto, o evento esportivo recebe a denominação de Estadual e sua organização se dá por entidade que responde pelo estado, a etapa em questão desenvolve-se em nível regional, isto é, englobando a região Centro-Oeste do Rio Grande do Sul. Entretanto, a incorporação de atletas argentinos e uruguaios é relatada com naturalidade. No momento em que estes dois grupos passam a fazer parte da competição, o evento assume outra dimensão, a internacional, mas, pelo menos de acordo com o modo como a notícia se apresenta, a participação de representantes destes dois países vizinhos, habitantes de regiões tão próximas, não descaracteriza a dimensão de estadual da competição. Uma vez mais, para o fronteiriços, ou pelo menos para quem divulga o evento, a mídia da fronteira, o procedimento é perfeitamente aceitável e, porque não dizer, corriqueiro, já que envolve competidores da região fronteiriça.

Raul Valls é reeleito para a presidência do Tênis Clube Rio Branco e anuncia novas obras

(...) Raul Valls lamenta que, devido às eleições, a sétima edição do 3 Fronteiras Open de Tênis, somente poderá ser realizada no final do ano que vem (O Jornal de Uruguaiana, 02/dezembro/2000 - Agro, p. 14).

No exemplo acima, percebe-se que a denominação do evento esportivo prevê a participação de atletas da região da fronteira. Como sua denominação já diz, ele abrange, ou pode abranger, uma área maior do que simplesmente a da cidade onde está sediado, e como o espaço é reconhecidamente de proximidade entre os territórios brasileiro, argentino e uruguaio, o clube permite designar o evento com "3 Fronteiras", de modo a possibilitar uma instância de integração entre os homens que habitam aquele espaço.

b) El Interior

O exemplo extraído de El Interior, onde há destaque para a região fronteiriça como sendo mais abrangente do que o espaço onde estão as cidades de Uruguaiana-Libres, também está ligado ao esporte.

Ituzaingó a pura pesca

Pese a las condiciones climáticas, la VI Edición de Pesca Integración del Surubí se llevó a cabo con gran éxito.

(...) Un residente de Ituzaingó Carlos Mato obtuvo la pieza mayor, de 40.550 kg. y se quedó con el Fiat Pálio. Mato estaba de veedor en el equipo "Santa María" de Rio Grande do Sul.

(...) Hubo embarcaciones de distintos puntos del país: Buenos Aires, Santa Fe, Chaco, Corrientes y también pescadores de Paraguay y varios estados del Brasil.

La fiscalización estuvo a cargo de la Federación de Pesca de Corrientes y todos las piezas obtenidas fueron devueltas a las aguas del Río Paraná.

(...) En embarcados el primer puesto fue para un equipo de Ituzaingó, gracias a la peiza mayor de Carlos Mato. La gente de Ituzaingó estaba muy conformes com la cantidad de equipos libreños que participaron de este Torneo ... (El Interior, 17/out/2000 - Deportes - p. 17).

Percebe-se no trecho recortado e transcrito acima que a expressão integração é incorporada ao evento esportivo, já realizado outras vezes. Indiretamente o rio (neste caso o Paraná), acidente geográfico que divide o Brasil, a Argentina e o Paraguai, aparece aqui como um impulsionador do processo integrativo, reforçado pelo gosto pela pesca esportiva. O texto informa que um morador da cidade argentina de Ituzaingó é membro da equipe com denominação de Santa Maria, que aliás é colocada entre aspas e recebe o esclarecimento que é do Rio Grande do Sul. Não está expresso com clareza qual a naturalidade ou nacionalidade desse "morador", mas há a informação de que ele foi vencedor em uma das modalidades da competição unido-se com pescadores gaúchos e em outra, deu créditos a equipe de Ituzaingó. Esta flexibilidade demonstra que há mobilidade, no caso do pescador e das próprias possibilidades criadas pela competição, em ampliar a participação, ora beneficia um grupo argentino, ora um brasileiro. O que fica constatado é que há um movimento interno possível do atleta entre equipes, apontando para uma atitude de integração entre os pescadores da região.

c) A Platéia

N'A Platéia a inclusão de outras cidades no espaço regional é apresentado com mais freqüência em suas páginas. Alguns exemplos fazem esta ligação através do esporte.

Vem aí a Copa Fronteira da Paz de Xadrez

(...) Nesta data realiza-se a 1ª Copa Fronteira da Paz de Xadrez.

(...) Pedro Nicola prevê um confronto entre equipes de Livramento, Rivera, Bagé e Uruguaiana no torneio do dia 18 (A Platéia, 09/março/2000 - p. 14) - Matéria acompanhada de foto com a seguinte legenda: "Copa Fronteira da Paz abre o calendário 2000 do xadrez santanense".

Seleção da categoria 90 estréia amanhã no Estádio Atilio Paiva

Rivera será sede da primeira fase do Campeonato Nacional de Baby, reunindo seleções de todo o Uruguai, na categoria 90. O grupo onde está a Seleção riverense é composto pelas seleções de Rivera, Yung e Bella Unión.

A Quarta seleção que participaria do quadrangular que inicia amanhã em Rivera, seria Taquarembó, que acabou se desfiliando da Liga Nacional.

(...) o quadrangular final do campeonato, acontece o primeiro jogo, às 19h, com a seleção local, composta por jogadores de Rivera e Livramento, enfrentando a seleção de Bella Unión. No sábado, posteriomente a partida preliminar, reunindo as equipes das escolhinhas Zé Ney/AABB e Penharol, categoria 91, jogam as seleções visitantes Yung e Bela (sic) Unión, às 15h (A Platéia, 07-08/setembro/2000 - p. 31)

Desportiva e Nacional vencem

A Escolhinha da Sociedade Cultural Desportiva Santanense recepcionou no final de semana a Escolhinha do Grêmio dos Sargentos de Bagé, com a qual desenvolveu uma série de jogos amistosos. A partida aconteceu no Estádio Eurico Gaspar Dutra (2ª Bia AAAé) e tiveram a participação da equipe sub 15 do Nacional de Rivera, treinada por Silvio Scherer.(...) Na última partida da série de confronto, os bageenses enfrentaram a equipe da categoria 85 do Nacional de Rivera, que golearam os adversários por 3 X 1 [A Platéia, 10/ setembro/ 2000 - p.45].

Domingo tem campeonato de halterofilismo da fronteira

Com entrada franca, neste domingo, 24 de setembro, nas dependências da Sala Cultural estará acontecendo o V Campeonato de Halterofilismo da Fronteira - Modalidade Levantamento de Peso Supino e Terra.

O evento terá a participação de competidores de outras cidades gaúchas, bem como de atletas uruguaios que estarão se dirigindo a Livramento com a meta de participar, além da presença de vários campeões regionais gaúchos e brasileiros.

(...) O V Campeonato de Halterofilismo da Fronteira teve o apoio das farmácias Drobel e Unifarma, que cedeu o equipamento de pesagem [A Platéia, 20 e 21/ setembro/ 2000 - p.31]

No primeiro exemplo, a copa de xadrez recebe em sua denominação o esclarecimento de que está sendo ressaltado o lugar, sendo apresentado este como espaço de fronteira, mas uma fronteira pacífica. O evento, como esclarece a legenda da foto, será realizado na cidade de Santana do Livramento. Dele participarão equipes das cidades vizinhas, tanto do lado brasileiro, da região próxima à fronteira, como da cidade localizada ao lado, a uruguaia Rivera.

O segundo texto fala de um campeonato uruguaio que privilegia a categoria infantil de futebol, cuja etapa será realizada na cidade de Rivera. Desta etapa, participam jogadores que compõem a equipe de Rivera, composta por atletas de times de cidades uruguaias vizinhas, ou seja, da região. O destaque maior fica por conta de o texto deixar claro que há jogadores santanenses que também fazem parte da equipe que representa Rivera. Neste aspecto fica marcada a integração entre os jogadores locais, isto é, santanenses-riverenses participando de uma mesma equipe, na busca de um título para o clube de Rivera.

No terceiro texto, relação semelhante acontece. Em jogos amistosos, as escolinhas de futebol infantil realizam jogos entre times da região provenientes de Bagé, Livramento e Rivera. São confrontos amigáveis que, através do esporte, reforçam de modo educativo como é possível o convívio entre habitantes de uma mesma região - a fronteiriça - e ao mesmo tempo de países distintos sem que isso desperte qualquer animosidade entre os pequenos atletas.

O último exemplo, também ligado à prática esportiva, trata de um campeonato de halterofilismo com a denominação de que o evento se dá no espaço da fronteira. A competição prevê a participação de atletas gaúchos, brasileiros mas também do Uruguai. Configura-se, uma vez mais, um movimento de inclusão dos uruguaios já que o próprio evento se diz fronteiriço. Por outro lado, um dos patrocinadores do evento tem filiais por todo o Rio Grande do Sul, não deixando de ser interessante prestigiar um acontecimento na fronteira, já que há clientes seus do outro lado da linha divisória que, ao se deslocarem no dia-a-dia para a cidade brasileira, não deixam de ser possíveis consumidores.

Já no texto abaixo, a temática deixa de ser o esporte e passa a ser a questão agropecuária.

Por índices técnicos de lotação pecuária

(...) A ideologia política e o desenvolvimento da exploração de bovinos de corte no mundo não permite que o cidadão urbano tenha consciência de como se produz em outros países, considerados modelos de eficiência pecuária. Na vizinha Argentina, no estado de Corrientes, ao lado de Uruguaiana e Itaqui, a instituição de pesquisa local recomenda a média de 2 ha/vaca. A locação é semelhante em Paisandu, no Uruguai, ou seja, em condições de latitude e clima muito parecidas às da zona de fronteira do Rio Grande do Sul (A Platéia, 26/ setembro/ 2000 - p.20) - Acompanha foto sem legenda de um exemplar da raça bovina.

Neste exemplo o assunto diz respeito à criação de gado. As cidades citadas no texto estão localizadas próximas à linha demarcatória. Do lado brasileiro está Uruguaiana e Itaqui e do lado uruguaio a citação fica por conta de Paisandu, cujo denominação no texto foi aportuguesada. No corpo do texto encontra-se o esclarecimento que, por estarem localizadas na mesma região - a fronteiriça - possuem clima e condições de latitude semelhantes. Deste modo, os aconselhamentos dados sobre os cuidados com o rebanho podem servir tanto para brasileiros como para uruguaios, todos produtores rurais da fronteira.

No material transcrito a seguir, a temática é o turismo. A ênfase é dada aos atrativos que a região uruguaia tem a oferecer para o turismo, sendo tratado este como regional. Veja-se que neste rol de cidades Livramento está incluída, ou seja, o turismo pensado e discutido no texto prevê que a cidade brasileira esteja incluída no "paquete integrado" que serviria para vender melhor a região aos turistas. O texto encerra defendendo a idéia que todos os setores devem trabalhar juntos, não podendo existir um posicionamento individualista onde cada um luta apenas pela defesa dos seus interesses.

Turismo regional

El proyecto del cual damos cuenta sobre la explotación turística en Minas de Corrales, nos retrotrae a idea que venimos sosteniendo desde hace larga data.

El turismo, es una actividad que bajo ningún concepto, se puede realizar en base a impulsos personales.

(...) No podemos pensar solamente en Rivera, tenemos que pensar que Rivera tiene atractivos que sumados al oro en Corrales, a la historia en Masoller, la ecología en Lunarejo y las Quebradas del Rubio Chico en la Bajada de Pena, hay que conjugarlas con San Gregorio, Iporá, el Chorro de Agua Fría, La Quebrada de los Cuervos, etc., en Tacuarembó, y otros tantos atractivos de Artigas.

Pero también tenemos que pensar en el circuitos vitivinícola, en el Turismo Rural y tantos atractivos que ofrece Livramento.

Es cierto que el 'shoping (sic) turismo' o sea el turismo de compras, es beneficioso, pero lo es para un reducido sector, porque la gente viene, compra y se va.

Si propugnamos por un paquete integrado de turismo, tenemos al visitante más días en la frontera: trabajan los hoteles, los restaurantes, las agencias de cambio, las estaciones de servicios, las gomerías, etc.

En fin, trabajarán todos los sectores.

Rivera necesita un despertar en su conciencia turística, pero no podemos seguir com el pensamiento individualista y cada cual defendiendo su 'chacrita' (A Platéia, 23/ novembro/ 2000 - A Platéia en Español - Coluna A quien corresponda, assinada por Pr. Franklin V. Benavides - p.12) - Coluna em um boxe com a foto do jornalista que a assina no final do texto.

d) Norte

No periódico Norte, não há um preocupação clara nos textos analisados em ampliar o espectro da fronteira de modo a considerar o fronteiriço como alguém que habita os arredores da linha divisória, redimensionando a região para outras cidades que não as ligadas diretamente no espaço de fronteira.

Considerações sobre a categoria analisada

Nesta categoria podemos ver o movimento feito pela comunidade fronteiriça e explorado pela mídia local em trazer à cena outras comunidades próximas à linha de divisa. Nos exemplos trazidos percebe-se que há uma inclusão dos de cá, das redondezas, com os de lá, também das redondezas em um mesmo conjunto, abrindo-se a margem da fronteira para uma área maior, capaz de agregar moradores de cidades vizinhas da linha divisória dos territórios nacionais que estão diretamente ligados. Em tal aspecto, novamente o esporte propicia este tipo de tratamento já que, em competições esportivas é possível ampliar o espectro para que equipes das cidades vizinhas, tanto as de cá como as de lá, possam participar. A história novamente pode ser acionada para demonstrar que este tipo de articulação não é de hoje e que deve ser trazido para o presente, e projetado para o futuro, o relacionamento amigável que se dá entre as comunidades locais.

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6.2.4 Nós, semelhantes implícitos

Neste bloco, encontram-se textos onde fica subentendida a familiaridade que existe entre os moradores dos arredores da linha de fronteira. Necessariamente não são apresentados os detalhes que comprovam que eles se conhecem e se reconhecem como diferentes mas pertencentes a um mesmo grupo, o dos fronteiriços. A interação entre os habitantes das regiões próximas das linhas divisórias garante uma intimidade que dispensa maiores esclarecimentos, tornando possível mesclar informações provenientes de um lado com as oriundas do outro lado. Esta cumplicidade abre também a possibilidade da criação de siglas que são empregadas sem destaque nem explicações pois são reconhecidas pelos leitores locais, garantindo e reforçando a semelhança entre eles, isto é, o ser da fronteira.

a) O Jornal de Uruguaiana

O texto trazido a seguir também poderia ser classificado na categoria onde o internacional e o local se confundem mas serve para demonstrar como não há necessidade de O Jornal dar mais explicações sobre os grupos representantes das comunidades próximas argentinas. A relação de conhecimento permite ao veículo prescindir de esclarecimentos sobre a qual país pertencem as cidades citadas no texto. São três os municípios de onde provêm os grupos de dança que se exibirão no evento, oriundos da Argentina, mas isso não requer maiores detalhes, pois a familiaridade dos uruguaianenses com essas comunidades dispensa maiores informações e a apresentação das mesmas é colocada no mesmo nível do que as das comunidades de cidades brasileiras vizinhas.

Califórnia Petiça Internacional chega a 13ª edição

Um público de aproximadamente quatro mil pessoas está sendo esperado a partir das 17h de hoje, no Ginásio Municipal Gilberto Oscar Miranda Shimith. Essa é a previsão do presidente da 13ª Califórnia Petiça Internacional.

(...) Nos intervalos das apresentações das concorrentes, serão exibidos shows com grupos de danças de Corrientes, Curuzuquatiá e Paso de los Libres. Seis grupos de dança de projeção folclórica de São Borja e Uruguaiana concorrem ao troféu (O Jornal de Uruguaiana, 02/dezembro/2000 - Geral, p. 11).

Do mesmo modo que este texto poderia ser inserido em outra categoria, existem trechos do material já analisado que podem também colaborar para o entendimento do que queremos dizer com esta "intimidade", que transparece nas relações estabelecidas entre os habitantes das cidades fronteiriças vizinhas.

b) El Interior

Gremio Docente

Lista Blanca en acción

Secretaria departamental

Por su parte, Nenia Gauna de Correa, candidata a Secretaria Departamental dijo: 'estamos visitando una por una las instituciones, trabajamos con el padrón de afiliado y hemos notado la gran adhesión a esta lista.

Acá queda demostrado la madurez y el crecimiento del docente a parte del gran movimiento del año pasado, el 'Correntinazo' y digo crecimiento y madurez, porque cuando nos encontramos solos, sin nuestro representante gremial a nivel local, nos sentimos muy desamparados.

(...) fui electa como candidata a Secretaria Departamental de Paso de los Libres, lo cual me llena de orgullo que mis colegas hayan depositado su confianza en mi persona y yo asumo el compromiso de hacer todo lo posible de cumplir con el proyecto elaborado y dar una salida positiva a cada una de las dificultades que vayan presentándose a lo largo de nuestra gestió.

Digo esto porque estou totalmente convencida que voy a ser la representante de los docentes dentro del gremio de la ACDP que es el gremio más grande, más importante dentro de la provincia, el que tiene autoridad y facultad para determinar un paro dentro del nivel provincial.'

El vintiséis de noviembre, el 'día despues' cuando la Lista Blanca haya ganado vamos a estar abriendo la casa que va a funcionar como oficina que va a ayudar a los docentes que vienen de otras partes a Uruguayana, para hacer que rinda el magro sueldo que cobramos.

(...) esa pequeña casa va a servir para expresar nuestra solidariedad y ayudarlos en lo que podamos. Además realizar cursos, encuentros deportivos, convenciones con los médicos y muchos otros puntos que están en nuestra plataforma (El Interior, 17/out/2000 - Locales - p. 06 - material complementar da matéria, colocado dentro de um boxe).

A seção onde a matéria está colocada é denominada de "Local". O nome da cidade gaúcha desta vez está grafado em espanhol, mas escrito corretamente e não há nenhum esclarecimento que ela seja um município brasileiro. Aqui se verifica um movimento de interação entre os docentes uruguaianenses e libreños. Fica então demonstrada a familiaridade entre os dois grupos, deixando de lado o fato de cada um deles pertencer a países distintos. Há uma proposta de solidariedade entre os membros do magistério da região fronteiriça e isto se dá pelo conhecimento que uma tem da realidade da outra, reforçando a idéia de que em determinados pontos são diferentes, mas, por outro lado, possuem problemas que podem ser sanados a partir do esforço conjunto.

c) A Platéia

Os dois textos abaixo estão colocados em uma página onde há fotos de representantes carnavalescos de entidades de Rivera e Livramento. O material é colocado lado a lado sem que haja necessidade de dar maiores detalhes sobre as instituições e sem ter que dividi-las graficamente na página de modo a colocar em bloco as agremiações que são santanenses ou riverenses, todas elas dizem respeito ao Carnaval da Fronteira e todas são conhecidas da comunidade local, isto é, dos moradores de cá e de lá. Mais uma vez, há problemas na grafia de palavras, neste caso é Uruguai que aparece escrita de duas formas: "Clube Uruguay" - que, no caso, se fosse respeitado o espanhol, deveria ser "Club Uruguay" - e mais adiante, no mesmo texto, a expressão foi escrita abrasileirada, "Clube Uruguai".

Clube Uruguay
Presidente: Amato Silva
Vice-presidente: Miguel Armand Ugon
Rainha adulta: Cláudia Letícia Lotito Denis
Rainha infantil: Cynthia Melendez Machado
Costureira: Miel Camargo
Tema da decoração: Signo de Peixes
Conjunto: Fiesta do Samba (A Platéia, 07/março/2000 - p. 07) - Acompanha fotos com as legendas: "Claudia Litito Denis, rainha do Clube Uruguai" e "Miguel Armand Ugon, vice-presidente do Clube Uruguai".

Casa del Empleados
Presidente: Carlos Corrales
Rainha adulta: Daren Ortiz Pereira
Costureira: Lígia Araújo e Jacira Costa
Conjunto: La Banda (A Platéia, 07/março/2000 - p. 07) Acompanha fotos com as legendas: "Daren Ortiz Pereira, com seu presidente Carlos Dorrales" e " Foliões" e "Rainha Daren Ortiz animando a festa".
Ao lado dos textos trazidos acima são colocadas outras informações sobre as entidades brasileiras: Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar, Associação dos Subtenentes e Sargentos da Brigada Militar.
Indigente se murió e (sic) frío

En la próximas horas se conocerá el informe forense que establecerá a ciencia cierta si el indigente que apareceió muerto en la víspera, en una vereda de la calle Paysandý (sic) en el Cerro se trató de 'muerte natural' por hipotermia o si en su defecto se debió a un homicidio.

De acuerdo a las primeras informaciones, parecería que la víctima no pudo soportar la bajísima temperatura de la madrugada.

De ser así, sería el segundo caso registrado en este invierno, ya que el primero ocurrió en las inmediaciones de la Hidráulica de Livramento (A Platéia, 11/agosto/2000 - p. 8)

Neste trecho, vê-se relatado na página de A Platéia concedida a textos em espanhol, o caso de mais uma vítima que aparentemente morre de frio. Verifica-se que a indicação de onde ocorreu a primeira morte devido às baixas temperaturas é simplificada no sentido de dizer que o acontecimento se deu próximo a Hidráulica de Livramento, ou seja, não há necessidade de maiores explicações na medida que qualquer morador de Rivera-Livramento conhece a região, mesmo esta pertencendo ao município brasileiro.

d) Norte

Política:

Antonio Planella, de ser electo, espera 'sacar a Lvto. del pozo' [Norte, 25/setembro/2000 - Chamada de Capa]

O breve trecho acima diz respeito a uma chamada de capa do veículo Norte. Nele fica demonstrado como uma figura santanense é mostrada por um jornal uruguaio. A frase pode ser apresentada sem maiores esclarecimento. É conhecido pelo fato de ser um político local, cuja presença é comum nas páginas de Norte. É uma figura atuante na fronteira que dispensa maiores esclarecimentos para o povo riverense. Note-se também a forma como é designada o nome da cidade vizinha, o nome Livramento aparece de modo abreviado - Lvto. - mas, subentende-se que, se é utilizado pelo jornal, possivelmente é decifrado pelo leitor fronteiriço, familiarizado com as notícias do município vizinho e suas personagens.

Cumpleaños

Elena Paiva de Planella

Cumplió años ayer la sra. Elena Paiva de Planella, persona muy vinculada a los circulos sociales de nuestra frontera, en los que tiene activa participación.

Por el pasaje de la significativa fecha nos asociamos a las muchas felicitaciones que recibió en la oportunidad (Norte, 25/setembro/2000 - p. 11)

Entre outras manifestações de felicitações encontra-se esta. A aniversariante é uma uruguaia, esposa de um brasileiro (figura citada no texto acima, que foi candidato a vereador nas eleições de 2000 e também presidente da Associação Comercial e Industrial de Livramento, figura muito conhecida na região). O casal reside em Livramento, mas, como o texto diz, ambos transitam pelos círculos sociais de Livramento-Rivera, "nuestra frontera", o que dispensa maiores comentários ou esclarecimentos para o leitor.

Considerações sobre a categoria analisada

Embora os textos trazidos para exemplificar esta categoria não sejam muitos, pode se dizer que esta relação de intimidade estabelecida entre a comunidade fronteiriça é percebida e fica reforçada em outros exemplos já enquadrados em categorias anteriores. Em determinadas situações fica explicitado com quem ou de quem o jornal fala, no que diz respeito ao outro, habitante do outro lado da Ponte ou do Parque. No entanto, a falta de compromisso da mídia em trazer mais detalhes se dá no sentido de ser redundante para o leitor local, já familiarizado com seus vizinhos, que determinadas minúcias venham complementar o texto. De qualquer modo, os textos colocados como exemplos para esta categoria têm condições de demonstrar como esse vizinho, muitas vezes oculto, está presente na vida fronteiriça.

1 Estes mesmos times também foram mencionados em outros dias, em mais nove matérias.

2 Há uma grande identificação do gaúcho dos pampas com a figura literária de Martín Fierro, criada por José Hernández, que apresenta o gaúcho como um homem interiorano, ligado aos trabalhos no campo, independente e livre, iletrado, mas preocupado com a arte. É também o cantador "payador" que não precisa dar cor local ao seu canto, porque é autenticamente crioulo e popular. Segundo Léa Masina, esta identificação se dá porque é um poema que fala do sofrimento, da violência e da crueldade, sentimentos vivenciados pelo gaúcho fronteiriço. Disponível em: . Acesso em: 10 de dezembro de 2002.

3 Na biologia, o termo indica o fenômeno onde cromossomos distintos entram em contato, trocam informações e se separam, já não sendo mais os mesmos e permanecendo diferentes entre si.

4 A autora é filha de palestinos e, estimulada pelo pai, membro da comunidade reconhecido como figura importante na área cultural de Livramento, escreve poesias, publicadas por A Platéia.

5 Incluímos o nome de Uruguaiana no texto pois ele faz parte da denominação que recebe a Comissão.

6 O primeiro texto foi extraído de documentos elaborados há mais de 135 anos e reproduzido nas páginas de O Jornal de Uruguaiana.

7 Foram verificadas seis veiculações deste tipo no material destinado à análise.

8 Este item está presente em dez dos exemplares de A Platéia analisados no estudo.

9 O valor dos ingressos em reais e pesos foi verificado em nove exemplares do jornal santanense analisado.

10 Neste item, o jornal comete erros ao escrever a expressão Meteorológica e inverte as temperaturas máximas e mínimas.

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